Café

177 16 20
                                    

Mal consegui dormir naquele dia.

Pesadelos me atormentavam todas as vezes que eu caía no sono. Cheguei a desconfiar de que estaria sendo alvo do tal renegado. Mas logo descartei.

Quem quer que fosse esse que estava prestes a despertar, ele jamais teria como saber sobre as coisas que sonhei. Meus medos mais profundos e obscuros. Coisas que eu guardava no meu próprio subconsciente.

Quando me levantei, o sol havia acabado de se pôr e ainda dava pra ver alguns de seus raios no céu.

Me arrastei pro banheiro e tomei um banho rápido.

Não sabia o que faria hoje.

Estava deitado na minha cama, alimentado e entediado e a noite mal havia começado.

Mix surgiu no meu quarto do nada e eu me retesei levemente, já habituado com esse seu costume desagradável.

- Será que você pode bater? - reclamei e ele desapareceu.

Então ouvi três batidas na porta e ele apareceu no mesmo ponto de antes.

Eu revirei os olhos e levantei da cama, indo até ele.

- Boa noite - desejou e veio me abraçar.

Suspirei e retribui seu afago. Apesar de tudo, Mix sempre foi alguém que me deixou confortável em sua presença. E seu abraço era o melhor que já experimentei.

O segundo melhor, na verdade.

- Como você está? - perguntou depois que nos desvencilhamos e eu dei de ombros.

- O mesmo dos últimos onze séculos.

- Infeliz?

- Morto - respondi sem ânimo.

Mix soltou uma risada pelo nariz e negou com a cabeça.

- Você nunca vai superar isso, né?

- Deveria?

- É tão ruim assim passar a eternidade comigo e o Off?

- A questão não é vocês.

- Vai me dizer que ainda é sobre o seu amante que morreu há mais de mil anos atrás - soltou com toda amargura que poderia existir em sua voz.

Agora ele já nem fingia não saber. Off devia ter contado para ele sobre nossa "conversa" de ontem.

Tranquei meu maxilar e, pra não fazer com ele o que fiz com Off, eu apenas sumi.

Literalmente.

Minha mente me levou pra mesma ponte de entrada da cidade que eu havia visitado na noite anterior.

Olhei pra baixo, vendo o rio seguindo seu fluxo, e me perguntei, por um segundo, se aquela altura seria capaz de me matar.

Me debrucei ali e constatei que não.

Para se matar um vampiro, era preciso arrancar a cabeça dele fora ou cremá-lo completamente.

Nem se eu me jogasse de ponta isso seria capaz de acontecer. No máximo, muitos ossos quebrados e dores excruciantes.

Não, obrigado.

O vazio que eu sentia dentro do meu peito já bastava.

Continuei caminhando sem rumo, olhando as estrelas até que meus pés me levaram ao bairro que estive com Off.

Antes que eu pudesse raciocinar, cruzei com Gun. Ele estava em um ponto de ônibus e, ao me ver, desviou o olhar e me encarou novamente, como se quisesse constatar algo.

In a different life - FirstKhaotungOnde histórias criam vida. Descubra agora