Família

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No curso dos meus mais de mil anos de existência, houveram muitos momentos nos quais eu senti medo. Sempre fui muito magro e só fui ficar realmente alto depois dos 16 anos, não tinha habilidade pra lutar com espada ou qualquer tipo de arma que fosse. Então, era sempre Mix que me protegia e comprava as brigas que eram postas à minha frente. E, ainda assim, eu tinha medo. Medo de perdê-lo, medo de perder Off, que, apesar de evitar confronto corporal, também sempre se colocou na minha frente, pronto pra me proteger não importava a situação.

Mas, nunca na minha vida ou morte - nem mesmo na noite anterior, quando Off foi atingido - eu senti tanto medo quanto naquele momento.

Medo por mim. Medo por Khaotung.

Quando as palavras rolaram pra fora de sua boca, tão natural quanto um "bom dia", todo o meu corpo congelou e, por alguns segundos, eu não consegui sequer ter uma reação, tão tomado pelo pavor que eu fiquei. Diversas coisas passaram pela minha cabeça naqueles poucos segundos e, entre elas, piscava em neon o grito desesperado do meu cérebro pra que eu fosse racional e fizesse a coisa certa. E o mais rápido possível.

Agora, era a minha vez de usar a força que me foi concebida e proteger a minha família.

- First?

A voz de Khaotung penetrou nos meus ouvidos e me tirou do transe. Olhei em seus olhos e segurei suas mãos nas minhas, tentando passar segurança e a seriedade daquele momento.

- Khaotung... - respirei fundo - Eu preciso, mais do que tudo, que você confie em mim sem questionar agora - supliquei olhando fundo em seus olhos e vi quando ele franziu o cenho, mas não hesitou em afirmar com a cabeça.

- Eu confio em você com a minha vida - garantiu e soltou uma de suas mãos pra acariciar meu rosto.

- Nós precisamos ir embora. E ninguém da sua família pode ver ou saber.

A mão em meu rosto travou e senti falta do calor de sua palma quando Khaotung a afastou.

- Mas, First--

- Khaotung. - o cortei - Sem questionamentos, lembra? Não podemos perder tempo!

Com isso, levantei e comecei a vestir minha roupa o mais rápido que podia. Meu corpo estava fraco e tudo que meu cérebro queria era voltar pra cama e ficar lá até o céu escurecer novamente. Mas o desespero era maior que a fraqueza.

- Mas o que tem os meus pais? - Khaotung se levantou, vindo até mim.

- Khaotung, eu tô te implorando, leva a gente embora daqui - segurei nas suas mãos e o encarei sério novamente - Precisamos voltar pra mansão.

Pronto. Aquelas foram as palavras mágicas pra fazer tudo desmoronar de vez.

Khaotung puxou suas mãos das minhas com força e seu olhar era quase cruel. Naquele momento, eu sabia que era Ray reagindo.

- Como assim voltar pra mansão?!

Eu apenas suspirei e tentei, de todas as formas possíveis, me manter calmo e implorar a todas as divindades que um dia acreditei pra que ninguém entrasse por aquela porta com um facão pra arrancar nossas cabeças fora.

- Tung... - engoli o nó de nervoso em minha garganta - Eu vou te explicar tudo quando chegarmos em casa... por favor.

- Eu estou em casa, First - cruzou os braços sobre o peito, orgulhoso.

- Não, você não está em casa. Isso aqui é um cativeiro que te mantiveram preso por anos da sua vida pra te usar como isca viva e depois TE MATAR! - gritei e, quando vi as narinas de Khaotung inflando de raiva, sabia que havia feito a escolha errada mais uma vez.

In a different life - FirstKhaotungOnde histórias criam vida. Descubra agora