CAPÍTULO 19: A ÁRVORE PRATEADA ARDENTE

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O grande sol já brilhava intensamente ao raiar, o céu estava completamente azul e aberto para mais um dia no poderoso deserto. Uma nova manhã se iniciava em Balan, tão cedo e já tão quente. Não havia sequer previsão de chuva à vista. Não se via uma única nuvem no horizonte, não importava para onde Cazeia olhasse na vasta extensão azul.

Mesmo vestindo roupas feitas para proteger seu corpo, ainda não era o suficiente. Cazeia sentia o calor do ar atingir seu rosto, mesmo com um grosso pano cobrindo seu pescoço e boca.

Com as rédeas em mãos, guiando sua montaria escamosa pelo caminho, Cazeia seguia pelas finas areias do deserto. Ela notou uma leve distorção no espaço à sua frente, causada pelo intenso calor emanando da terra.

Cazeia fez uma pausa com sua górgona, abaixou o pano que cobria sua boca e deu um pequeno gole em sua bolsa de água. Ela sabia da importância de economizar água, pois não tinha certeza da distância que a misteriosa perseguição a levaria, nem quanto tempo duraria.

-Preciso economizar o máximo de água possível, devo beber apenas o suficiente para aguentar tudo isso,- disse ela com os lábios ressecados.

Ao olhar para sua górgona, Cazeia viu as escamas de sua serpente vibrarem rapidamente ao longo de seu corpo. Isso fez com que o suor se acumulasse na ponta de sua cauda e se transformasse em uma grande bolha de água. A górgona abriu a boca, transformando seu tecido em tubos para beber seu próprio suor, permitindo que a água fluísse para dentro de si.

Cazeia conhecia exatamente aquela técnica mágica natural que acabara de ver sua montaria usar, pois ela também conseguia fazê-lo. Não apenas Cazeia, mas todo o seu povo elfico da região eram capazes de realizar essa mesma técnica. Eles precisavam desenvolver habilidades mágicas para sobreviver no deserto, caso não conseguissem roubar água dos soldados de Saaran. Eles viram essa chance na maneira como as górgonas do deserto sobreviviam sem água.

Os elfos podiam usar magia de nível servo para acumular o suor de seus corpos, transformando-o em pequenas bolhas que depois purificavam para beber. No entanto, isso não era suficiente para satisfazê-los, e eles continuavam a roubar água de Saaran. Quando Cazeia lembrava que seu povo tinha que guardar até mesmo sua própria urina em um recipiente para evitar o desperdício, sentia um certo desconforto. Ela jamais se acostumaria com isso, embora já tivesse bebido sua urina muitas vezes ao longo de sua vida.

Após ela e sua serpente se hidratarem, Cazeia montou novamente e continuou a perseguição. Usando seus olfatos, os elfos conseguiam rastrear um cheiro específico como se estivessem seguindo um rastro de névoa. Era assim que eles podiam perseguir algo, mesmo que seu alvo estivesse distante.

Horas se passaram, e Cazeia tinha a sensação de que, quanto mais caminhava, mais distante o cheiro se tornava.

-Quantos dias já se passaram desde que estou vagando pelo deserto? Um? Dois?- Cazeia se perguntava enquanto enfrentava o calor e a poeira.

Mas ela continuou com sua górgona, pois já tinha percorrido uma grande distância para desistir. Ela tinha certeza de que encontraria o estranho objeto.

Mais horas se passaram, o sol se pôs novamente por trás das areias e das montanhas. Cazeia notou a mudança extrema de temperatura, o frio estava chegando.

Ela decidiu descansar sob uma grande árvore morta que encontrou. Coletou alguns de seus galhos e os empilhou para criar uma fogueira. Cazeia apontou a mão para os galhos secos e, usando um pouco de magia, criou uma pequena faísca que acendeu a fogueira. Ela amarrou as rédeas da górgona na árvore e viu a serpente se enrolar para dormir.

Cazeia então se sentou ao redor da fogueira para se aquecer. Ela viu um pequeno escorpião negro se afastando da luz do fogo e usou a ponta de sua lança para perfurá-lo, transformando-o em um espetinho de carne para assar. O sabor não era bom, mas era o que ela tinha naquela noite. Depois de comer, ela deitou e adormeceu.

Aliens and Swords - Entre AreiasOnde histórias criam vida. Descubra agora