Capítulo 5.

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There you are.

Segunda-feira, 04 de Março de 2024.

Londres está oficialmente querendo congelar a minha bunda. Seis anos morando aqui, e ainda não me acostumei com o frio que, às vezes, parece estar tentando me matar. Com a Gracie, não é muito diferente. Na realidade, ela está usando o dobro de roupas do que eu, e ainda assim, estou achando que a qualquer momento ela vai inchar que nem um baiacu. Jordan não pôde nos trazer até a casa da senhora, e o carro de Gracie está na oficina, graças a um motoqueiro bêbado de domingo à noite.

Atravessamos a rua logo após sairmos do uber que não pode passar pelos grandes portões de ferro da cor preta. Paramos do lado de fora, na calçada, enquanto ela tentava conversar com o segurança e se identificar como a fisioterapeuta da senhora Albair. Gracie conseguiu confirmar a própria identidade e nossa passagem foi liberada. A mansão a poucos metros de distância me fez me sentir pequena e desarrumada. Minha calça jeans e minha camisa de manga longa preta ficaram ainda mais feias em mim. Fechei todos os botões dos três casacos em meu corpo.

— Ela é uma fofa, você vai adorá-la.

— Eu estou tendo dificuldades em acreditar nisso — murmurei, avaliando a casa por dentro.

— Olá, Gracie — um homem muito bonito e muito bem arrumado, se colocou diante de nós perto de uma escada em espiral.

Gracie tocou a mão dele, dando-lhe um sorriso afável.

— Caleb, essa é a minha irmã Blair.

Caleb estendeu a mão para mim. O cabelo marrom caindo nos olhos. Aceitei o gesto, apreciando o calor da mão dele.

— Blair, esse é o segundo neto da Sra. Albair. O irmão do meio.

— Olá — sussurrei como uma tonta.

— Olá, Blair.

Soltei a mão dele e puxei o cachecol para fora do meu pescoço. Sim, estou suando. Ver e conhecer pessoas fora do meu ambiente de trabalho é algo que me deixa agoniada. Os olhos verdes — um tom mais escuro que os de Aaron, me deram vontade de dar meia volta e sair pela porta enorme.

Porém, Caleb fez um sinal com a cabeça para seguir ele. Gracie fez questão de atrasar alguns passos só para sussurrar em meu ouvido:

— Uma gracinha, né?

— Eu te amo, mas lembre-se que você é casada — sussurrei de volta.

Ela revirou os olhos. Apontou para as costas dele e depois para mim.

Minha irmã é tão iludida quanto eu. Balancei com uma expressão de tédio. Ela riu baixinho e me puxou para que pudéssemos ficar mais perto dele. Caleb nos guiou até uma sala de jantar, com a mesa retangular grande para uma família inteira, coberta de comidas de cores vibrantes e cheiro delicioso.

Meu estômago roncou.

— Vou buscar eles para jantarmos, podem ficar à vontade — avisou ele ao sair por outra porta. 

Dobrei meu cachecol vermelho. Gracie ficou me encarando, sorrindo como uma criança. Às vezes eu esqueço que ela é mais velha que eu.

— Isso faz parte de algum plano maligno seu, não é?

— Não sei como jantar bem se encaixa em um plano maligno. Te garanto que não tem veneno na comida, e mesmo se tivesse...

— Eu comeria com gosto — completei a frase dela.

— Amo a minha irmã depressiva — a ironia escorreu pelo canto dos lábios dela.

Cruzei os braços atrás das costas. Não quis sentar e estragar o forro caríssimo da cadeira com a marca da minha bunda congelada. Gracie foi para a janela. Caleb apareceu empurrando uma idosa em uma cadeira de rodas.

London ManOnde histórias criam vida. Descubra agora