8. Sequestrada

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Conheci uma garota na sexta,
Conversamos e rimos até acabar a saliva,
Depois fomos comer pastel na feira,
Ainda pegamos sorvete, aproveitando a visita.

Ela me fez dar muita risada.
Até o cansaço do serviço sumiu.
Abri minha sala de visitas, mas a gulosa,
A porta do meu quarto abriu.

Não sei se foi porque ela viu o vazio,
Porém, deixei, não iria perder uma chance de dividir minha casa,
Tudo aqui é muito grande.

A menina ocupou todas as gavetas
Do meu guarda-roupa que podia.
Leu meus livros, passou pano no chão,
Consertou até o que não deveria.

A minha mesa, tornou arrumada para duas pessoas,
O chuveiro fazia uma jornada dupla,
Todos os dias, quase queimava, à toa.

Foram meses assim,
Tempo demais numa rotina.
Seguras de que ficaria desse modo,
Até que chegou uma cretina.

A cretina "levou" minha inquilina,
A sequestrada, sequer reclamou,
Apenas mudou de casa sem avisar,
Fiquei jogada com o ardor.

Tomava a cadeira da mesa,
E sorria, na cabeça, lembranças
De uma idiota que não calava a boca
E para comer era pior que criança.

Mas as memórias se tornavam gelo,
Quando eu via o vazio na cadeira,
A marca de batom nas canecas,
As coisas dela na lixeira.

Pra ela tudo era lar,
Não importava aonde.
Pra mim tudo era mar,
Perdi meu barco na ponte.

Fiquei vazia de novo,
Empoeirada, desolada e machucada.
Fechei a porta do quarto e chorei.
- Aonde anda aquela desgraçada?

Não confie em garotas que só pagam aluguel.

Perseguidoras - A coletâneaWhere stories live. Discover now