Há eras atrás, quando as primeiras gerações ainda erguiam as primeiras muralhas e os celestiais caminhavam junto aos mortais, nasceu uma princesa cujo nome significava tragédia, pois assim foi destinada a morrer.
A princesa nasceu cheia de bênçãos, e cresceu bela para os que a viam e sábia para aqueles que a ouviam. No entanto, em meio a toda alegria, havia a profecia que o oráculo contou e o coro cantou: "amada será tragédia, e a desgraça nos abalará. Novo mundo a acompanha, e junto dela nos deixará."
A princesa ensinou os hinos aos seus iguais, nós mortais, para cantarmos aos celestiais. Deu nova forma aos símbolos e a eles atribuiu sons, para que assim nosso conhecimento durasse além da morte. No entanto, em meio a toda alegria, havia a profecia que o coro novamente cantou: "amem-na, enquanto podem, pois logo o amor acabará. Fartura a acompanha, e junto dela nos deixará."
A princesa, que tanto fez pelos seus, com sua gentileza e sabedoria conquistou o apreço dos celestiais — os soberanos da criação —, sobretudo de Elmth, soberana do domínio da vida, para qual Tragédia devotou-se inteiramente. Como prometido, a princesa trouxe consigo um novo mundo, por tal o coro mais uma vez cantou: "tragédia será a despedida, e em agonia ela partirá. Esperança a acompanha, e junto dela nos deixará."
Ao ouvir sobre as virtudes de sua seguidora — beleza, sabedoria e generosidade —, Elmth decidiu convidá-la para jantar. A princesa aceitou a honraria sem questionar, e, após se cobrir das mais belas joias e vestir-se do mais fino tecido, foi escoltada por criaturas que não pertenciam ao seu mundo, até uma passagem escondida no templo que a entidade se hospedava.
As criaturas que a conduziam eram translúcidas e apareceram para ela como se o ar tomasse forma diante de seus olhos. Não tinham olhos, nariz ou boca. No lugar dos braços, possuíam asas e, da cintura para baixo, uma cauda fantasmagórica. Eles dominavam os ventos e usavam fortes correntes de ar para levá-la à companhia de Elmth.
Por de trás da passagem, a mulher vislumbrou um belo jardim ao ar livre, que se estendia para além do horizonte, com um rio cristalino cortando o solo. Lá havia plantas e animais que ela jamais vira antes, seres elementais coexistindo em harmonia, flores com pétalas de tão variadas cores, que desenhavam na terra a história dos celestiais. Nada daquilo pertencia ao seu mundo, pois ali era o reino de Elmth, o domínio da vida.
As criaturas levaram a princesa para cima das nuvens, onde a rainha daquele lugar a esperava sentada à mesa firme sobre as nuvens. A mortal, alegre ao encontrar com a eterna, curvou-se e a adorou. Admirava, a princesa, os olhos dourados da anfitriã, que queimavam com a chama da vida.
— Magnifica é aquela que governa sobre todos que são e serão. Eu, humilde serva de sua vontade divina, não sou digna de sentar ao seu lado.
— Tolice, lavante-se — Sorriu e puxou uma cadeira para sua convidada —. Não há, entre os mortais, outra igual a você. É a única que desejo nesta mesa ao meu lado.
— Altíssima celestial, me comove tamanha gentileza. Contudo, — levantou-se e pegou a jarra sobre a mesa — permita-me servir o vinho, pois os reis não são iguais aos celestiais.
— Apenas se me permitir servir-te a comida, pois, para mim, não há humilhação em estar ao lado de tão honrada mulher.
A princesa corou, assentiu com a cabeça, e pôs o vinho em ambas as taças. A anfitriã, logo em seguida, serviu o prato da convidada. Ambas então se sentaram de frente uma para a outra. Conversaram, comeram e beberam até satisfazerem o coração. Regozijaram na companhia uma da outra como se nada mais importasse. Foi então, ao perceber o quão maravilhosa era a mortal, que Elmth não segurou-se em expressar compaixão.
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Mitos De Mywo: Os olhos de Arth
ParanormalSeu cabelo, cacheado, é escuro como a noite, assim como sua roupa. Já os olhos, roxos, são símbolos de sua divindade. Nesta coletânea de dez contos você conhecerá Arth, celestial do domínio da morte, que aparece aos mortais hora na imagem de um home...