Bônus: Lá reina

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“Nada acontece com alguém que a natureza

 não o tenha preparado para aguentar.”

Filme O Gladiador

Capítulo 35

"Um ser humano pode perder até 30% do seu volume sanguíneo, se receber o devido atendimento tem grandes chances de sobreviver sem sequelas, a consciência tende a ser perdida. E se esse volume chegar ou ultrapassar os 40%, seus órgãos internos começam a entrar em choque hipovolêmico, levando à morte." - A mente de Leah relembrava uma pesquisa que leu em uma revista científica, o fato de ter resquícios de memórias a deixava mais tranquila, era um sinal de que suas habilidades cognitivas estavam preservadas. Pena não poder dizer o mesmo de seus braços que doíam e queimavam pelo esforço de mantê-la ereta. 

O cheiro ocre impregnado ao seu redor ardia seus olhos que pouco conseguiam ver, a iluminação era precária. O ferimento no pescoço latejou fazendo-a  lembrar-se dos últimos acontecimentos. 

Um chamado urgente do sítio arqueológico, suspeita de uma vazamento de gás, sob o risco de explosão iminente. Ela saiu correndo, sua maior preocupação eram os amigos e toda equipe noturna que havia sido preparada para a visita de Scarlet. 

Pediu que o técnico avisasse a todos do perigo e que fossem retirados de lá, o mesmo disse que o plano de evacuação estava em andamento. Correu o máximo que seu carro permitia, na pressa esqueceu o celular no hotel, sem comunicação decidiu que o melhor era avisar os gestores só após a conclusão do laudo dos bombeiros. Stefan,  em breve chegaria e veria que ela não estava, com certeza  concluiria que ela estaria lá, muito provavelmente iria ao seu encontro.  - "Melhor ligar para ele quando chegar lá" - O que  mal imaginava era que estava indo direto para uma armadilha. 

Esbaforida saiu do automóvel, a brisa do início da noite a recebeu. Diego um dos encarregados a esperava. - Doutora que bom que chegou! Estamos esperando pela senhora, a área já foi toda evacuada, seus colegas estão no trailer do outro lado da rua, preferiram aguardar a sua chegada, os estagiários e demais técnicos foram dispensados até segunda ordem. - disse antes que ela perguntasse.

 - Maravilha Diego! - exalou o ar que segurava - Fico mais tranquila sabendo disso. Vamos até lá? 

- Sim, claro. - ele indicou para que ela fosse à sua frente - Não vai pegar suas coisas? - disse olhando o interior do carro.

Leah dispensou a pergunta com um gesto de mão - Esqueci o celular no hotel, na bolsa só está a minha permissão de dirigir. Não precisarei dela. 

Ela pensou ter ouvido "ótimo", mas deu de ombros e continuou a caminhar. - Me diz, em quais dos túneis está acontecendo esse suposto vazamento? Você não acha estranho, depois de tantas visitas técnicas isso acontecer? - questionava enquanto atravessava a rua. 

Ele coçou a nuca, como se procurasse uma resposta cabível - Pois é, muito estranho, mas a senhora sabe como é, cidade antiga, tubulação de gás… quem vai saber?! 

"O importante é todos estarem a salvo" - não prolongou a conversa, ao avistar o trailer acelerou os passos, queria se certificar que Stive, Gabriel, Rayane e Caroline, que havia voltado naquela manhã, estavam bem. 

Assim que Diego abriu a porta dando passagem para ela, notou o silêncio do local e estranhou, já que se havia um número considerável de pessoas ali o mínimo que se esperava era que houvesse um  burburinho, principalmente se Rayane estivesse junto, ela seria a primeira a puxar assunto. Ao virar-se para confrontar o colega de trabalho, sentiu uma mão pesada sobre sua boca e um cheiro amargo invadir suas  fossas nasais. Tentando alertá-lo do perigo seus olhos o procuraram, com horror ela o viu se distanciar, como se aquilo não o surpreendesse, ele se afastou, sem se preocupar com o fato dela estar sendo sequestrada ou coisa pior.

Tentou gritar, o pano abafava seus protestos, lutou com todas as suas forças quando um homem apareceu tentando segurá-la pelas pernas, facilitando  que a levassem  de vez para dentro do ônibus. Antecipando a sua intenção desvencilhou-se um dos  pés, ele não esperava por aquele gesto, foi atingido um chute certeiro  no queixo fazendo com que ele liberasse suas pernas, seguido por um resmungo de dor.  Todavia o atacante que a segurava pelo pescoço era mais forte, a puxou completamente para dentro, e em poucos segundos  tudo escureceu.

Tempos depois, Leah sentia seu corpo ser carregado como um saco de batatas, seus membros não obedeciam aos seus comandos cerebrais. Fez um inventário mental, respirou aliviada ao perceber que estava sem danos físicos. - “Pelo menos não me estupraram” - pensou - “Há danos psicologicos que são tão invasivos quanto um estupro.” - debateu-se consigo mesma.

Seus braços foram suspensos, amarrados pelo que ela julgou ser uma corda.

Tentou protestar, somente um lamento baixo saiu por seus lábios, tentou manter-se ereta e alcançar as cordas, inutilmente.

- Ora, ora a rainha despertou.

Uma voz grave debochou dos seus intentos, já que seu corpo teimava em não responder aos seus esforços. 

Com dificuldade abriu os olhos, tentando localizar o dono da voz. Lambeu os lábios ressequidos, testando sua voz. - Covarde - a ofensa saiu baixa, no entanto ela tinha certeza que ele ouviu, já que recebeu um grunhido em resposta, porém ainda sem vê-lo, o espaço escuro dificultava.

- A rainha morde, vejam só rapazes a moça tem mais culhão que alguns de vocês.

Leah tentou girar a cabeça, que aos poucos obedeceu, alguns vultos se mexeram após a afirmação dada pelo homem de voz grave. Sua mente trabalhando a mil por hora tentando entender o que se passava, os motivos pelos quais estava ali, sem encontrar nada que justificasse, devolveu - E você deve ser aquele em que falta tudo. Um homem de verdade, não sequestraria, doparia e prenderia uma mulher. - sua voz saia estranha até para seus próprios ouvidos, engoliu limpando a garganta. -  Por que não poupa o nosso tempo e diz de uma vez o que quer de mim?

O homem se moveu tão rápido que seus olhos não conseguiram acompanhar o movimento, em poucos segundos estava frente a frente com ela. Olhos que em um dia comum teriam lhe chamado a atenção pelo brilho intenso, ali lhe causavam repulsa.

- Não sou um simples homem, Rainha. - abriu um sorriso onde foi possível ver todos os dentes - Sou muito mais que isso.

Olhos de Leah saltaram quando entendeu o que se passava ali. - Vampiro. - resfolegou.

********NEVOEIRAS***********

Eita, atrás de eita!!!
Nossa Leah, está nas mãos de nada mais nada menos que ele, Lucian, o nosso Malvadão. E agora, o que esperar disso?

Segurem-se pessoal que a tendência é pior.

Névoa do Tempo Where stories live. Discover now