Capítulo 20

250 39 233
                                    

A manhã floresceu radiante como todos os dias e, com ela, as luzes do sol tomando o lugar da noite assustadora que tive.

Após ser deixada em casa por Filippo e meus amigos, e apenas depois dele assegurar que eu estava quentinha e deitada em minha cama, consegui adormecer como se nada tivesse acontecido. Mas aconteceu. E a prova disso foram os pesadelos que tive a madrugada inteira com águas tempestuosas e negras sobre mim, me engolindo sem nenhuma piedade.

No entanto, a parte mais curiosa do sonho veio depois.

De repente, um pequeno barco aparecia como se estivesse vindo do completo acaso. Um rapaz que não consegui ver o rosto me puxou para cima, acolhendo-me dentro do simples barquinho. Ele me enxugava com uma toalha macia, de um branco tão límpido quanto as nuvens que nos cobriam, e tentava me acalmar com palavras gentis. Porém, a visão do seu rosto fora um borrão durante todo o sonho. A única sensação que tive era a de me sentir protegida perto dele, mesmo num barco de estrutura simples. Alí, eu apenas sentia que nenhum mar poderia me engolir novamente.

O sonho acabou quando eu perguntei seu nome e ele falou algo que não consegui entender, enquanto abria um largo sorriso. Sorriso esse que me pareceu familiar, mas não consegui lembrar com clareza.

Eu nunca tive sonhos tão subjetivos assim. O que está acontecendo agora?

Odeio a sensação de não saber o que fazer. De não ter uma direção certa. De não controlar o que sinto. Quem seria aquele rapaz? Por que eu sonhei tudo aquilo?

Ok! Eu quase morri afogada e provavelmente foi uma memória retida que ocasionou o sonho? Sim!

Mas isso não explica o rapaz no meu sonho. Não explica um barco vindo do nada. E não explica eu não conseguir descobrir quem era. Será que era o... Não podia ser!

Eu não lembrava de nada.

ARGH!

Fui tirada dos meus pensamentos com a senhora Taty chamando para descer até a sala, onde Tiago me esperava. Me arrumei como pude, tentando disfarçar a noite mal dormida, e desci os degraus até a sala de estar.

— Emma, que bom te ver recuperada! — Tiago expressou com alegria. — Mais uma vez me perdoe. Não deveria ter te exposto aquele risco.

— Tudo bem, já passou! — tranquilizei o rapaz que demonstrava genuíno arrependimento.

Nos sentamos no sofá, um de frente para o outro, iniciando uma conversa banal sobre a parte boa da noite de ontem. Dentre esses assuntos, Tiago me fez uma pergunta um tanto curiosa:

— Você conhece aquela menina? — indagou, mudando de súbito o assunto que conversávamos. Vendo minha expressão confusa, ele continuou: — Uma morena, de cabelos curtos e que chegou um pouco depois de nós. Ela tinha um semblante tímido  e adoecido também!

— Oh, sim! Você está falando da Jane. Conheço, sim! — falei olhando-o atentamente. Tiago me encarava esperando mais respostas, o que me fez cerrar os olhos para sua curiosidade súbita. — Ela estava em São Paulo, cursando música e morando com uns tios. Recentemente voltou para a casa da avó, alegando não estar muito bem de saúde. Mas, até agora ninguém sabe ao certo o que é!

— Entendo! Ela estava bem abatida mesmo. Convenhamos que sua aparência já não é de se chamar atenção, doente então! — ele proferiu com um sorriso de lado, mas com o olhar seco.

Eu apenas dei uma pequena risada. Apesar de não simpatizar com a Jane, não queria ser maldosa com uma garota doente. Inclusive, Isa já me falou várias vezes para visitá-la e acho que irei mesmo. Aproveito e avalio melhor essa história um tanto estranha sobre sua saúde.

Até Te Encontrar (Uma releitura de Emma)Where stories live. Discover now