Capítulo 30 - Então ela é sua preferida agora?

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Louise


Congelada, eu engulo em seco. Não há nada para engolir. Só há o vazio e Aren à espera de uma resposta. Uma resposta que eu não sei como dar. Ele afastou as sombras, então seu rosto é perfeitamente visível aos meus olhos. Minutos atrás, eu só conseguia escutar sua voz na minha mente, mas agora... Isso foi um erro, eu não deveria ter o deixado entrar – se bem que não é muito uma escolha minha, e é por isso que ele está treinando para isso mudar. Mas, ainda assim, eu não pensei que ele fosse ver... aquilo.

– Hein? – Aren insiste, me deixando ainda mais sem ar. – O que era aquilo... eram asas?

– Hu-um, e-eu, eu, hu-um-m...

– Louise. – Não há nada em seus olhos além de confusão e questionamento. Não tem motivo para toda essa tremedeira. – Respire.

Obedeço.

– Devagar. Inspire pelo nariz. – Eu inspiro. – Expire pela boca. – Eu expiro.

Tento encontrar o que fazer com as mãos. Ou melhor, deixá-las quietas, mas é impossível. É como se todo o meu corpo estivesse congelando, e eu nem sei o motivo. Aren não... ficaria bravo com isso – não que eu importe, mas... –, então não tem motivo para isso...

Ele viu... ele viu. Era real. As asas. Não era a minha cabeça fantasiosa.

– Consegue falar?

Assinto.

– Eram realmente asas? – ele tenta outra vez, e eu aceno novamente. – E por que... Você não pensou em me dizer isso?

Abro a boca e fecho em seguida. Eu realmente não pensei. E não porque não queria, mas... eu mesma não acreditava que era real.

– Eu não... não achei que fosse... necessário.

Erguendo as sobrancelhas, boquiaberto, Aren dá um único passo para trás.

– Você não achou que era necessário?

– Eu, eu... não.

– Como aconteceu?

Levo ar para os meus pulmões lentamente. Eu sei exatamente como aconteceu, mas as memórias me trazem a lembrança daquela noite, de como foi ficar naquele caixão, sem ar, sem ninguém para ajudar, desesperada, foi terrível. As palavras se embolam na minha língua, mas eu tento explicar mesmo assim:

– Na verdade, eu não sei bem como aconteceu, eu só... estava dentro do caixão e senti... uma coisa. Não sei explicar o que era, mas... ela parecia ter vida própria, e aí eu... simplesmente quebrei o caixão, foi terra e madeira para toda lado, nem sei como meu rosto não se feriu. Mas então eu vi no reflexo do vidro quebrado da lápide. Elas... estavam lá e...

Minhas mãos tamborilam cada vez mais rápidas sobre o tecido do vestido. Ainda não acredito que ele realmente me trouxe para cá só de pijama, sem um banho.

– E?

– E... – Sopro um suspiro no ar. – É estranho dizer isso, mas... foi como se elas sempre estivessem lá. A sensação... Sim, eu senti o peso delas nas minhas costas, mas não foi estranho, não foi como se algo estivesse errado, como se elas não tivessem que estar lá. Eu só... Não sei como explicar, mas foi o que eu senti.

Aren me observa calmamente. Ele está hesitante... Não, ele está apenas assimilando tudo, creio eu. Eu estaria assim, eu fiquei ainda mais sem palavras quando vi. Asas. Eu tenho... bem, pelo menos eu tinha, porque elas sumiram do nada antes que ele chegasse.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora