Capítulo 45 - Não há mais luz no fim do túnel

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Devil


Você não consegue deixar que as coisas boas aconteçam com você, sempre foge quando um mínimo resquício de felicidade se aproxima.

Foi o que Alec disse meses atrás. E ele não estava errado de todo modo. Sim, eu sempre fujo quando algo de bom se aproxima, afasto qualquer resquício de felicidade. Porque sinto que não mereço. Não mereço nada que não seja a dor e sofrimento. Não mereço ela...

Não pretendia que Louise tivesse descoberto daquela forma. Não pretendia que ela tivesse descoberto. É a maior vergonha da minha existência. De todas as coisas que eu fiz como diabo cruel e desprezível, essa foi a pior, mais impiedosa, imperdoável... Você é um monstro. Louise está certa. Eu sou um monstro. Um monstro desalmado e que não merece nada além de um final trágico e doloroso.

Quando vi Louise naquele pesadelo no penhasco, quando ela voltou a tê-los, depois de 7 anos livre deles, eu sabia que tudo ia mudar. Sabia que, de alguma forma, o destino – se é que ele existe – ia trazê-la para mim. Sabia que aquela garota de olhos castanhos tão pura ia transformar a minha existência em algo que há muito tempo eu senti. Ela já estava transformando, na verdade. Mesmo quando não fazia ideia.

Eu tinha cinco anos. Cinco anos. Você não podia ter feito isso. Eu tinha tanto medo.

Eu sei, Meu Anjo, sei exatamente como se sentia. Queria contar a ela como tudo aconteceu, mas... no final das contas, não ia fazer diferença. Eu sou um monstro de todo modo, não há explicação no mundo que justifique o que fiz com ela.

Você não tem o direito de me chamar dessa forma quando destruiu a minha cabeça durante todos esses anos. Ela tem razão. Eu não tenho o direito de sequer me aproximar. Não que eu tivesse a chance. Louise vem se trancando no quarto dela há quase uma semana. Talvez uma semana inteira. Eu até perdi a contagem dos dias depois que ela... descobriu tudo. Não deveria ter sido assim, ela não devia ter descoberto dessa forma... Eu podia ter começado pelo início, poderia ter contado a verdade inteira...

Venho fugindo dela há tanto tempo que nem mesmo eu sei qual é a verdade inteira. Mas não ia fazer diferença. Não quando ela estava tão destruída quando saiu correndo do quarto. Não quando eu consegui sentir o coração dela se partindo. Assim como o meu está agora.

A minha existência nunca teve um sentido de fato depois que minha mãe morreu. Mas quando conheci Louise – não naquele pesadelo, mas no vazio –, algo se iluminou dentro de mim. Algo muito mais profundo e distante que estava nas sombras e congelado há tempos. A esperança. Há 59 anos que não sentia aquilo correndo pela minha consciência, pelo meu corpo.

Mas agora que Louise sabe a verdade, ela se extinguiu por completo. Não há mais luz no fim do túnel. Não há esperança de que minha existência poderia ter nem que fosse um pedaço de paz. Não há mais tentativas fajutas de felicidade – algo que, de toda forma, eu não mereço.

Venho aturando o Ardens porque sou obrigado, mas minha concentração não está em nenhum desses demônios à minha frente, que não fazem a menor ideia do por que ignoro cada olhar, cada provocação e tentativas de conversas. E também porque não há nada que eu possa fazer além de ficar sentado nesse trono, olhando para a porta e pensando se ela virá essa noite.

Mas ela não virá. Sei disso. Ravena vem me informando que ela está comendo menos que a metade do que Soren leva para ela a cada refeição. Mas pelo menos está comendo alguma coisa, algo bem profundo em mim diz, em confronto com outra voz, a voz da culpa girando em torno do meu peito: Isso é tudo culpa sua, você a corrompeu, corrompeu a cabeça dela. Corrompeu o ser mais puro que já havia conhecido na vida. Destruiu o único ser capaz de te tirar da escuridão, do vazio. Destruiu o único ser capaz de mostrar que ainda havia esperança, que não era hora de desistir, de se entregar àquela dor.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora