DESCENDENTES, a fera acorrentada

CAPÍTULO 3, minha irmã recebe uma profecia

Luke's pov

      As manhãs no Acampamento Meio-Sangue sempre eram muito agradáveis. Eu acordava pontualmente às oito da manhã todos os dias, quando o céu já era iluminado pelo Sol ── que sempre brilhava na mesma intensidade por causa das barreiras mágicas do acampamento ── e uma parte dos outros semideuses e legados do chalé seis já tinham se levantado. Quando eu saia do chalé, via os outros campistas caminhando por aí ou indo até o pavilhão de refeições para o café da manhã. Era um momento de paz.

      Aquele dia começou exatamente desse jeito, como qualquer dia de verão. Depois de acordar, eu peguei uma troca de roupa ── a camiseta laranja do Acampamento, os jeans surrados e um All Star azul ── e os meus produtos de higiene pessoal. No caso, pasta e escova de dentes, pente para o cabelo, shampoo e um creme para o rosto. Portanto, fui para o banheiro tomar um banho e me arrumar para parecer apresentável quando fosse tomar café.

       Tomei um banho rápido, como de costume, então escovei os dentes, lavei o rosto e finalmente coloquei as vestes que eu separara, dobrando meu pijama para poder guardá-lo junto das minhas coisas. Dessa forma, voltei ao chalé seis e deixei tudo lá antes de sair em direção ao pavilhão de refeições.

       Diferentemente do jantar, não tínhamos que nos sentar com os nossos chalés durante o café da manhã. Geralmente, eu ficava com Jude e Oliver, uma filha de Deméter e um descendente de Hipnos. Eles eram grandes amigos. Porém, nada saiu como o esperado naquela manhã, o que eu não posso dizer que eu gostei. Na verdade, nunca fui muito fã de mudanças na minha rotina.

      Eu estava me servindo com panquecas de chocolate quando senti que estava sendo observado. Quando você é descendente dos Deuses, acha essa sensação completamente assustadora. No entanto, não era nada com que eu tinha que me preocupar. Ao subir meus olhos para tentar descobrir o que era, tudo o que vi foi Silena me encarando de longe, como se estivesse observando uma nova espécie de pássaro que tinha acabado de descobrir e quisesse captar cada movimento. Eu não entendia ela. Vivia implicando comigo, isso quando não se irritava sem motivo, mas vivia olhando para mim fixamente por minutos, me deixando estranhamente desconfortável e confuso. Era… esquisito, no mínimo.

       Retribui o olhar por alguns segundos, pensando que ela desviaria como sempre fazia. Porém, como eu já disse, nada saiu como o esperado. Silena manteve o contato visual e ainda teve a ousadia de sorrir para mim, me deixando sem jeito. Pensei em virar as costas e, não sei, sair correndo. Parecia uma boa alternativa.

       "Para com isso, Chase" meu próprio subconsciente me repreendeu. Eu era considerado o melhor estrategista do acampamento e estava com medo de uma garota bonita sorrindo para mim? Aquilo era besteira.

      Se bem que era Silena, não? Ela era perigosa o bastante para me deixar com medo.

       Antes que eu pudesse reagir de alguma forma, minha irmã se sentou na cadeira em frente a da LaRue, interrompendo aquele momento estranho e sem nexo algum. Senti-me aliviado, porque eu estava sentindo meu rosto ficar irritantemente quente com aquilo.

      Terminei de me servir, indo sentar junto dos meus amigos. Eu não tinha tempo de pensar sobre aquilo ou coisa assim. Tinha treino de esgrima apenas dali quarenta minutos e depois teria que dar aulas para as crianças pequenas. Não era como se eu pudesse ficar enrolando.

       Só que, bom, eu já disse que não tinha nada saindo como o esperado?

       Eu já estava sentado ao lado de Jude, puxando qualquer assunto aleatório para conversarmos, quando a pessoa que mais trazia preocupação para todos ali ── Inclusive Quíron ── passou pela porta do refeitório e passou caminhando por todos ali até parar ao lado da mesa de Helena. Tia Rachel parecia a mesma de sempre: usava uma camiseta amarela larga, jeans rabiscadas e sandálias rasteirinhas. Seu cabelo ruivo estava preso em um rabo de cavalo com uma bandana verde, e ela tinha uma ecobag pendurada no ombro. Apenas o fato dela estar ali era estranho e, com certeza, muito preocupante. Ela sempre aparecia para dar más notícias.