Prólogo

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31 de outubro de 2022

Ser odiado por idiotas é o preço que se paga por não ser um deles.

É o que repito para mim mesmo quando o primeiro objeto não identificado bate na minha janela.

Levanto a cabeça e afasto os fones dos ouvidos, intrigado, quando o segundo objeto explode, escorrendo algo parecido com gosma vermelha pelo vidro.

Sem o fone, os sons da casa vizinha chegam até mim. Ódio envenena minhas veias só de ouvir aquela algazarra adolescente no quintal ao lado. E antes que consiga reagir, o que parece ser uma bexiga cheia do líquido vermelho atravessa a janela e só tenho tempo de abaixar, me livrando a tempo de ser atingido, e a bexiga bate na parede atrás de mim, explodindo no assoalho do meu quarto.

Com um rosnado de raiva, me levanto e fecho a janela com força, mas permaneço ali, os raios de sol atravessando o vidro e atingindo minha pele branca como a de um vampiro.

Eu odeio os dias de sol.

É quando Tiffany Taylor traz todos os amigos filhos da puta para sua piscina idiota.

Esses são os dias de cão. Como hoje. Quando quase desejo mesmo ser um desses seres sem vida para o sol me queimar e eu parar de sentir aquele ódio que cada vez mais está difícil de conter.

E ah, eu tentei.

Tentei por anos.

Ignore-os, dizia a mim mesmo.

Ignore as risadas estridentes, os xingamentos que ficavam cada vez mais escrotos e pesados conforme fomos crescendo. As brincadeiras de mau gosto que pareciam deixar a vida medíocre deles mais divertida.

Era óbvio que quanto mais eu os ignorava, mais eles tentavam me atingir.

Mas eles nunca tiveram sucesso.

Até agora.

Já chega.

Eles vão pagar.

E a primeira da lista é Tiffany Taylor.

A menina que parece o próprio sol quando sai da piscina, usando um biquíni rosa, os cabelos loiros pingando água como gotas de diamante que percorre seu corpo perfeito.

O corpo que eu desejo desde os meus 12 anos, e ela passou de minha pequena vizinha insuportável à menina que eu desejava.

A garota que eu odiava.

Que agora ri quando seus amigos cretinos contam o que estavam fazendo, jogando suas bexigas na minha janela.

Eles apontam e riem. Óbvio que estão me vendo e isso os deixa mais deliciados quando gritam xingamentos bêbados e fazem gestos obscenos em minha direção.

Eles querem ser vistos.

Mas eu só vejo ela.

Seu sorriso de escárnio quando pega a bola de um deles e mira na minha janela. O projétil explode no vidro, a gosma como sangue escorrendo na minha frente, manchando tudo de vermelho.

É assim que eu vejo agora.

Tudo vermelho. Combina com meu humor e com a noite que se aproxima, trazendo nuvens escuras e horas mais divertidas pra mim.

Hoje é noite de Halloween.

A noite mais importante na vida da minha irritante vizinha.

É o aniversário da pequena perversa.

Ainda me lembro de todos os aniversários idiotas que eu era obrigado a ir, quando nossas mães ainda eram amigas. Graças ao inferno essa amizade acabou quando eu tinha 12 anos. E não fui mais obrigado a suportar a tortura que eram as festas de aniversário com tema de Halloween da Tiffany. O que imagino, foi um alívio para ela também.

A implicância era mútua. Nunca nos demos bem e se nossas mães não estivessem olhando, sempre estávamos tentando nos matar.

Mas agora Tiffany não é mais a pequena perversa da minha infância. Ela é a garota mais popular da escola. A mais bonita, a mais invejada. E a mais maldosa de todas.

Cheerleader que namora os garotos mais desejados, invariavelmente atletas, e anda com sua turma de cretinos como ela, barbarizando a vida de quem ousa se colocar em seus caminhos.

Ou até mesmo quem preferia ignorá-los, como eu, mas isso não parece empecilho. Devo dizer que ter as melhores notas, um QI acima da média e nunca falar com ninguém é um prato cheio para que eles pratiquem seu esporte preferido: transformar a vida de Roman Jackson num inferno.

Eu sou quase um clichê ambulante de nerd esquisito.

A única diferença é que nunca fiz questão de me encaixar naquela pirâmide social ridícula.

Eu não sou o cara tímido. Apenas odeio todos eles.

Odeio aquela escola, que não passa de um local de tortura.

E, sobretudo, odeio todos os meus colegas.

O ensino médio é só um mal necessário que eu espero sobreviver, mas que Tiffany e seus amigos inúteis se esforçam para eu não conseguir.

Foda-se.

Eu pouso o olhar na máscara em cima da minha cama.

Há algo muito sedutor nas noites de Halloween. Podemos usar máscaras e deixar o que há de pior vir à tona.

Doces ou travessuras?

Eu escolho travessuras.


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Nota da autora

Olá!

Mais uma história sendo postada aqui!

As postagens serão feitas dia sim, dia não.

Esse livro já está disponível completo na Amazon e o livro físico está em pré-venda na lojinha!

Espero que gostem da leitura

abraços

Ju

PerversosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora