Capítulo 4

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Sim, talvez eu vomite todo o suco verde da minha mãe em cima do Roman como uma daquelas cenas medonhas de O Exorcista.

Que diabos, como enfiaram aquele bilhete no meu armário?

Sua tonta, do mesmo jeito que enfiaram na sua gaveta de calcinha, que convenhamos, é bem pior.

Ah Meu Deus!

Começo a hiperventilar me dando conta que tem alguém me deixando bilhetinhos sacanas de um jeito bem bizarro e assustador.

O mesmo cara do Halloween passado.

O cara que não tenho ideia de quem seja até hoje.

Por algum tempo depois daquela noite, eu não conseguia lidar com o que aconteceu como algo real. Talvez fosse fruto da minha imaginação. De repente colocaram alguma droga na minha bebida e eu tinha alucinado?

Acho que até me sentia mais calma quando pensava assim. Embora bem no fundo, eu soubesse que tudo foi real. Bizarro, mas real.

Nunca contei pra ninguém, nem para minhas amigas.

Como ia explicar o que nem eu tinha entendido direito?

Agora, levanto meu olhar, varrendo a sala ao redor com uma nova ótica, me perguntando se ele está ali. Se pode ser um dos meus colegas da aula de literatura.

Depois daquela noite, fiquei assim por um tempo, olhando todo mundo desconfiada, me perguntando quem poderia ser. Se ele iria se revelar pra mim, se eu poderia dar um rosto real ao meu... o quê? Nem sei como chamar. Perseguidor? Sim, com certeza ele me perseguiu.

Torturador? Bem, não sei se posso chamar de tortura o que rolou.

Agressor? Não dá pra dizer que fui agredida de verdade, embora eu tenha ficado com algumas marcas roxas no meu quadril por dias. E no meu pescoço. E nas minhas coxas, e...

— Senhorita Taylor?

Levanto a cabeça assustada e o Sr. Grint está do lado da minha carteira.

Eu ainda seguro o bilhete entre os dedos, meio em transe, percebo.

Vermelha, apresso-me em guardá-lo no livro de novo.

— Sim?

— A senhorita fez a leitura do livro pedido?

— Claro que sim — minto com um sorriso que espero ser bem charmoso, mas o Sr. Grint, um cara de uns sessenta anos de distintos cabelos grisalhos e suspensórios sobre a camisa imaculadamente branca e gravata borboleta, não está interessado no meu charme mentiroso.

— A senhorita está com péssimas notas e seu último exame foi uma lástima. Chego a acreditar que nunca fez nenhuma leitura proposta.

— Claro que eu faço.

Roman tosse do meu lado e eu giro a cabeça devagar por que parece que ele está tentando não rir?

Impossível.

Aquele cara nem sabe como rir. Porém, ele está sério, embora seus olhos pareçam cheios de sarcasmo, como se soubesse que estou mentindo descaradamente.

— Pois não parece por suas péssimas notas.

— Senhor Grint, está ocorrendo algum engano aí. Eu leio todos os livros, mais de uma vez. Não entendo por que minhas notas estão ruins. E claro que eu li, é... o... Orgulho e Implicância.

— Preconceito — ele corrige.

— Isso, preconceito. Eu só não tive tempo de fazer o exercício proposto porque tive ensaio, sabe, sou líder de torcida... — Sorrio de novo, piscando dessa vez. O professor não mexe um músculo.

PerversosWhere stories live. Discover now