Capítulo 1

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2023

Duas semanas para o Halloween

Acordo sem ar.

Com a sensação sufocante como se alguém ainda tapasse minha boca e meu nariz me impedindo de respirar.

Como aquela noite.

Sento-me na cama, confusa, piscando meus olhos inesperadamente secos e doloridos e me dou conta com um gemido arrependido que adormeci com as malditas lentes de contato.

Ah droga!

Livro-me das cobertas e sento-me na cama, ainda respirando com dificuldade. Nossa, dessa vez o sonho foi muito real.

Sonho?

A voz rouca que cobra as verdades inconvenientes dentro da minha cabeça há um ano tem um tom muito específico.

Metálico. Duro. Impiedoso.

Sedutor de um jeito que as vozes ameaçadoras não deveriam ser.

É, eu sei, não foi um sonho.

Foi uma lembrança.

O suspiro que vem do fundo do meu peito é uma mistura de angústia e frustração e deixo-me cair para trás novamente, fechando os olhos, minha mente traiçoeira querendo escorregar de novo para aquele lugar escuro e proibido dentro de mim.

O lugar onde guardo as lembranças da noite de Halloween que mudou tudo.

As batidas na porta interromperam o fluxo de memória, me assustando.

— Bombonzinho, vai se atrasar!

Rolo os olhos, com uma careta quando mamãe entra no quarto sem pedir licença, usando seu conjunto chique de malhar, composto de top e calça tão agarrada que parece que foi colada com Super Bonder no seu traseiro excepcionalmente firme para alguém velha como ela.

Ok, mamãe tem 42 anos e se ela ouvir eu a chamando de velha em meus pensamentos, ficarei de castigo uma semana.

E por castigo entende-se sem cartão de crédito e manicure, ou algo horrível assim.

Ou seja, uma tragédia.

Deus me livre ir para a escola sem fazer as unhas como uma selvagem como a Josie Prescott. Josie não parece se importar de exibir por aí suas unhas comidas nos cantos e sujas. Mas ela é uma pária social, então, não faz diferença.

— Ainda na cama, mocinha?

Hum, mocinha é melhor que bombonzinho.

Debby é aquele tipo de pessoa que fala tudo no diminutivo numa tentativa de ser fofa e simpática, mesmo que esteja vociferando as maiores atrocidades e ferindo meia dúzia de direitos humanos.

— Tive um sonho ruim.

— Sonho ruim? Aposto que ficou no celular até tarde com a Blair e Abby. Quantas vezes já te falei que vai ficar com ruga antes da hora se não dormir oito horas por noite, florzinha? Olhe pra mim, jovem como quando tinha sua idade.

Ah sim, porque o segredo da juventude da minha mãe é dormir oito horas por noite, e não a quantidade de botox e cremes caríssimos que ela passa no rosto.

— Não fiquei até tarde com minhas amigas no telefone — minto.

Claro que fiquei.

Daqui a duas semanas é o dia mais esperado do ano.

E não só porque é Halloween.

É meu aniversário.

E desde que eu tinha sete anos, as minhas festas de aniversário são as mais icônicas. Um verdadeiro acontecimento que todo mundo quer estar presente. A festa que vão falar sobre o ano todo.

PerversosWhere stories live. Discover now