2#004

810 60 6
                                    

Resmungou cobrindo a cabeça assim que a porta se abriu. Embora de repente, sabia muito bem quem tinha a mania de abrir portas dessa forma, e normalmente esse alguém aparecia com um sorriso contagiante.

- Lena, levanta logo dessa cama! - A voz ríspida a fez se encolher sob o edredom a recordando que o sorriso afável, e quase sempre paciente, havia sido trocado por... - Anda logo! - A loira antes gentil puxou o edredom de forma abrupta.

- Kara minha cabeça está doendo - Cobriu os olhos quando as cortinas foram abertas.

- Você está a dois dias nessa cama. - Gritou entrando no closet - Precisa tomar um banho e comer alguma coisa!

- Zhao... - Sentou-se. A cabeça girando quase a fez se deitar novamente, mas se esforçou para permanecer.

- Lena - Chamou autoritária impedindo futuras desculpas  - Você vai sair dessa cama mesmo não querendo, seja por bem ou por mal, eu vou te tirar desse quarto - Disse de forma firme saindo do closet, jogando a muda de roupas na cama e cruzando os braços - Você vai levantar sozinha ou precisa de ajuda? - Arqueou as sobrancelhas pressionando os lábios em uma linha fina vendo a mulher bufar.

Teve de segurar o riso quando a mesma se levantou e foi praticamente arrastando-se para o banheiro. Essas pequenas conquistas a faziam acreditar que tudo poderia voltar ao normal algum dia.

Toda a raiva que pensou ter de lidar se esvaiu assim que ouviu o som do chuveiro ser ligado, e sorridente, caminhou saltitante até a cozinha para desembalar as comidas esquisitas que a de olhos verdes preferia. Quase que cantarolando pela conquista.

No cômodo de cima, Lena se sentia por algum motivo - da qual não conhecia - triste e indisposta, e isso nem era devido a ressaca, já tinha tempos que não ingeria alcohol.

"Talvez seja a lucidez que me faz mal"

- Estúpida... - Sussurrou sentindo desprezo por si  mesma. Jamais imaginou que detestaria estar em sua própria presença e que algo comum como acordar se tornaria insuportável... No começo, até pensou em procurar ajuda, infelizmente perdia a coragem sempre que pegava o telefone.

Fechou os olhos na intenção de se desfazer como espuma e desaparecer. Seu maior pesadelo tinha virado sua nova realidade e agora tinha de lidar com uma Kara completamente nova que não sabia lidar com a situação, assim como ela.

Até entendia o fato da loira estar querendo controlar cada hora de seu dia com medo de algo ruim acontecer mas... Algo na loira a machucava. O amor de sua vida vinha perdendo a essência e o controle em quase tudo que a envolvia e

- Lena?! - A loira chamou preocupada abrindo a porta abruptamente. O olhar angustiado deixava claro o desespero que assombrava a loira toda vez que a outra ficava sozinha fora da cama - Ham... Você está demorando. A comida vai esfriar - Sorriu desconcertada, envergonhada. Ficava sem jeito toda vez que notava suas ações compulsivas e nos últimos meses, manter Lena sob sua vista sempre que podia tinha virado uma.

- Tudo bem Zhao... - Sorriu desligando o chuveiro - Pare de me encarar assim.

- Não estou fazendo nada! - Levantou as mãos saindo de fininho depois que a menor terminou de se enrolar na toalha felpuda. - Te vejo lá embaixo! Não me faça subir de novo!

- Tá bem! - Cantarolou sorrindo antes de sair do banheiro para se vestir. Gostava da forma carinhosa que a esposa tinha embora passasse dos limites algumas vezes.

Kara era o ser mais amável e cuidadoso que teve a honra de conhecer. Infelizmente, sua instabilidade emocional havia afetado a mulher, que passou a ser amável de forma controladora. Queria que tudo seguisse conforme suas ordens e quando isso não acontecia, tinha de lidar com uma loira à beira de um colapso nervoso e deus proteja quem ousasse lhe contrariar. Se sentia totalmente responsável pelas más ações que a outra tinha, pois ela jamais se portaria como atualmente se não tivesse que enfrentar tanta coisa ao seu lado. Por isso evitou demorar mais a chegar na cozinha.

- O cheiro está ótimo

- Comprei em um restaurante francês - Sorri orgulhosa por proporcionar o melhor a de olhos verdes.

- Não tem hambúrguer ou postikers dessa vez? Vai comer esse tanto de coisas saudáveis comigo?

- Eu faço esse sacrifício por você - Dramatizou fazendo uma careta esquisita.

- Engraçadinha - Beijou os lábios lá loira que desfez o bico no mesmo instante.

- Eu te amo, Lena - Kara a abraçou pela cintura beijando a bochecha pálida antes da mesma se acomodar em uma das cadeiras.

- Eu também te amo Zhao... - Sorriu apaixonada pela espontaneidade da mais velha - Como foi seu dia? - Perguntou notando a expressão da loira para o prato.

- Agradável. A Nia recebeu uma promoção e agora vai poder escrever as próprias matérias!

- Isso é incrível. Ela sempre foi muito esforçada e merece muito essa nova fase  - O sorriso que não alcançou os olhos apareceu enquanto a mesma se servia. Kara a observava.

- E aí, o que achou? Aprovado?

- Já comi melhores... - Respondeu com a boca cheia soltando um gemido de satisfação em seguida - Caramba!

Era genuíno a forma como ambas se observavam vez ou outra contemplando o momento que desfrutavam.

- Nia nos chamou para comemorar a promoção no - Bufou assim que a morena começou a negar com a cabeça - Você nem sabe o que vou dizer ainda!

- Kara, eu não quero ir -

- Você pode ao menos se esforçar? A vida é curta demais para ficar triste assim.

- Você acha que todos conseguem ser como você?

- Não, mas também não precisa desperdiçar a vida como você está fazendo.

- Você acha que estou assim de propósito? Acha que acordo todos os dias decidindo ser infeliz? Que gosto de me sentir um lixo ambulante toda vez que saio do quarto?!

- Você costumava ser menos problemática... - Falou revirando os olhos - O que foi?! - Largou os talheres de qualquer forma quando a menor lhe olhou desacreditada antes de sair da mesa, perdendo completamente o apetite - Aonde você vai?! - Questionou. Lena saiu da cozinha, fingindo não ouvir uma palavra sequer - Você está sendo uma mal agradecida! - Gritou para a outra ouvir antes de empurrar o prato, bufando, tendo como resposta a porta batendo - Maldita mimada…

Kara passou as mãos pelas mechas loiras em um sinal de estresse. Suas ideias pacíficas estavam se esgotando. As mãos insistiam em tremer. A idéia de não conseguir ajudar a esposa, a deixava extremamente ansiosa e impotente. Estava com o coração pulsando nos ouvidos, precisava de algo para lhe acalmar. Algo Ambar, e que descesse queimando ao ingerir.

***
Eu disse que voltava!
Não se esqueçam de acender a estrelinha🐙

Extremos R#004 - SUPERCORPOnde histórias criam vida. Descubra agora