QUATORZE

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Martina

- Tina?- acordo com o Junior me chamando na beirada da cama e ascendo a luz de cabeceira e ele se assusta com o trovão- Posso dormir aqui? Tenho medo de chuva.

- Claro, deita aqui- ele pula na cama e pela primeira vez o vejo quietinho e encolhido.

- Obrigada Tina, você é minha amigona- sorrio. Abaixo o aparelho auditivo, para que ele não escute muito alto o som do trovão, esse garoto é uma perola.

São quase três da manhã e a tempestade de primavera cessou há uns quinze minutos. O pequeno dormiu com a cabeça no meu peito poucos minutos depois de deitar, eu e o Junior temos muito em comum e espero que o Valentim seja sincero com ele sobre tudo que aconteceu. Desço para pegar mais água e no caminho de volta, vejo a porta do quarto dele aberta e o mesmo esta limpando o que parece uma arma, será que ele mataria a própria irmã por minha causa? Meu coração acelera, minhas mãos tremem e o copo que eu segurava se estilhaça em mil pedaços pelo chão.

- Martina?- o Valentim me olha assustado- Martina, olha pra mim!- eu não consigo me mexer, em minha cabeça a cena da morte da Beatriz repassa. Várias vezes. Recuo ao toque assim que ele toca meus ombros, ele com certeza mataria a irmã, ele não tem piedade. Nenhuma.

- Vou... vou- me perco na palavras- Vou limpar isso.

- Martina, vai se cortar...- assim que ele fecha a boca, sinto a pele da palma de minha mão sendo rasgada e não sei o que me levou a fechar a mão em volta do pedaço de vidro - Martina, para!- ele tenta abrir minha mão, mas é em vão- Martina, para de fazer isso.

- Cala a boca- eu peço- Sai de perto de mim- jogo o vidro que estava em minha mão nele e me viro para sair, mas sou interrompida.

- O que aconteceu com você? Porque está agindo dessa maneira?- ele segura meu rosto- O que mais aconteceu entre você e minha irmã?

- Nada... el- ela esta morta Valentim- eu não consigo olhar pra ele, minha mente parece um borrão- Você, você matou sua irmã... eu te pedi pra não ir, não foi nada demais.

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Valentim

- Quem te disse isso?- a questiono

- Eu... te vi limpando a arma e também te vi matando a Beatriz- que porra, a Martina esta em outro mundo

- Martina, eu não matei a Camila, acalme- se- a garota tem o olhar assustado e treme muito.

- Ela não fez nada, nada. Foi um acidente, a entendo- ela chora descontroladamente- Esse colar era dela por direito... eu sou a intrusa- eu a abraço e espero que ela se acalme. Não faço ideia do que aconteceu com ela, mas sei que não está bem.

- Martina, vamos limpar isso- ela continua abraçada a mim e não tem reação- Amor, vem, vamos limpar isso- no fundo ela só queria um abraço e um ombro pra chorar e eu como sempre não dei atenção a ela. Não foi por mal, eu fiquei cego de raiva a noite toda e não podia deixar minha irmã escapar, fui conversar com o Santiago e ele disse que a Camila tá estranha há alguns dias, ela pode estar morrendo, mas não justifica tratar a Martina mal.

- Não- ela me impede de entrar no quarto- O Júnior tá dormindo aí.

- Então vamos pro meu quarto- ela está tremendo além da conta, o que aconteceu com ela?- Você tomou alguma coisa diferente ou alguém te deu alguma bebida?

- Não. Aí!- ela geme quando coloco a mão dela debaixo da água- A Maribel me deu o remédio no jantar, ela esqueceu o outro e me deu, e eu tomei.

- Acho que esses remédios não estão te fazendo bem- pego a toalha e a entrego- Aperta, que eu vou chamar o Juan pra fazer os pontos- fecho os dedos dela em volta da toalha e percebo que ao redor das unhas está ferido, como aquele dia- Martina... Você não pode se machucar assim- meu coração corta de dó por ela estar se mutilando por causa dos erros dos outros.

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora