QUARENTA E SETE

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Martina

Eu passei a maior parte do dia dormindo, a dor da operação apareceu em alguns momentos e então eu tomo remédio e acabo dormindo. O Júnior saiu pra natação e fiquei "sozinha", agora o Camilo fica na porta do meu quarto como uma estatua de rua, me sento na sacada pra observar o dia, que está ensolarado e quente... Típico do verão no hemisfério sul.

Voltei a ficar no meu quarto, o Valentim nunca está aqui nem mesmo pra comer e então fica casa vez mais difícil conversa sobre o nosso casamento. Vejo ele, minha tia e o pequeno chegarem, ele fala alguma coisa e a abraça e em seguida pega o Júnior no colo

— Oi Tina— ele grita e eu aceno. Os olhos do Valentim seguem até onde estou e desvio rapidamente— Tina, vou te mostrar meu cabelo— ele desce do colo e sai correndo, uma máquina ligada no 220V

Depois de alguns minutos o pequeno chega no quarto, ele está todo feliz e alegre

— Que lindo— digo e ele exibe os cabelos cortados me mostrando um linha

— Meu tio também fez isso e...— ele vira e me mostra que trocou o aparelho auditivo— Olha Tina, troquei esse negócio aqui

— Porque?

— Minha avó disse que estava velho. Tina... Você promete que não vai contar pro meu tio?— me sento ao lado dele na cama

— Depende do que seja

— Você tem que prometer, porque eu ouvi escondido

— Júnior, isso é muito feio— ele faz um bico, parece arrependido

— Eu sei, mas foi sem querer. Você promete que não vai contar?

— Prometo, mas você tem que me prometer que não vai mais ouvir a conversa dos outros, pode ser?— ele balança a cabeça e começa a falar

— Meu tio disse que não vai conseguir me adotar, porque não tem mais ninguém pra ser mais minha mãe e...— ele fica com os olhinhos cheio de água— Mas aí eu pensei que você podia ser minha mãe, nem que seja de mentira pra ele poder ser meu pai— definitivamente essa criança acabar me matando com as palavras

— Pequeno, é uma conversa difícil e... — tento achar argumentos— Vamos comer e depois falamos disso, pode ser?

— Ebaa, eu estou com fome mesmo. Tina, eu queria ter uma família normal e assim a Carmem para de brigar com os garotos por minha causa

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Jantamos eu, minha tia e o pequeno, o Juan está no plantão e o Valentim não ficou pra comer com a gente, vou procurar minha tia pra conversar com ela sobre o que o Júnior disse e a encontro na área externa colhendo flores

— O meu bem, com está?

— Estou bem. Que flores lindas— ela está limpando as rosas que provavelmente serão as flores da mesa de café amanhã

— O seu pai que me ajudou a plantar esse canteiro e...— a voz dela está um pouco pesada

— Amanhã seria aniversário dele— agora eu sei o motivo das rosas— Eu sinto tanto a falta dele

— Imagino. Seu pai tinha as questões dele, mas como pai ele era o melhor no que fazia— começa a chuviscar e em seguida a chuva se intensifica— Vamos entrar e conversar lá dentro, eu sei que você quer falar sobre o Valentim

Realmente ela me conhece bem melhor do que imaginei

— O Júnior e disse que ouviu uma conversa entre vocês sobre a adoção e...— meu coração corta só de ver a carinha triste dele— Ele disse que quer uma família normal e que a Carmem briga com os colegas

— Calma Martina

— Não dá— estou desesperada e angustiada pelo bullying— Eu sei bem o que é sofrer na mão de alguém sem motivo e ninguém merece isso e mesmo que as pessoas me julguem eu vou continuar com ele pra o Júnior ter uma família decente

— As coisas não são assim, olha o que ele fez pra você, para de sacrificar sua vida por causa dos outros. Agora vai tirar essa roupa molhada e amanhã vamos conversar com calma, sem discussão!

São quase uma da manhã e eu não consigo dormir e tudo fica pior quando ouço o Valentim falando igual um papagaio no corredor e saio pra ver. Ele está conversando arrastado, eu nunca vi ele bêbado nesse nível

— Valentim, por que essa gritaria?— digo, o Camilo está sério e não move nada— Vai acordar todo mundo

— Tina...— ele caminha até mim— Esse cheiro de melancia... É muito bom— ele tenta me abraçar e eu recuo— Que foi?... Entendi

— Você está molhado?

— Um pouco— percebo que ele está com sangue no rosto— Que foi?

— Porque tem sangue no seu rosto?

— Um imprevisto... Eu posso conversar com você uma coisa? E sentar? Esse corredor tá girando rápido demais

Posso ter cometido um erro em deixa- lo entrar no meu quarto, mas definitivamente ele não tá bem e tenho certeza que ele bateu em alguém

— Sou todo ouvidos— ele se senta no chão

— Fui até a Maribel pra esclarecer umas coisas e descobrir coisas além do que queria

— Quais coisas?— pego uma toalha e entrego a ele

— A Maribel te deu remédios que não era pra você tomar e segundo ela, você tem um irmão

— O que?— me sento na cama e tento processa o que acabei de ouvir— Não me lembro de ter um irmão

— Obviamente ninguém sabe, até porque ele foi adotado por um casal da Califórnia e hoje ele é um polícia do DEA... Matias Willian Jones. O filho da puta do policial Jones é seu irmão Martina

— Valentim, não tô entendendo

— É isso que você ouviu, seu irmão foi adotado e como vingança ele quer te matar ou achou que conseguiria isso— meus olhos começam a arder e meu coração acelera— Martina, você tá bem?

— Sim... Estou. Porque ela faria isso? A Maribel é tão legal— pronto, estou chorando e decepcionada

— Outro ponto é que ela tem um filho... Um filho com o Juan

— O Juan tem um filho?— muita informação pra eu processar

— Tem e ele não sabe! Se ela escondeu ele por oito anos, tem algum motivo pra isso. Martina, você tá bem?— sinto as mãos dele no meu ombro

— Eu... Bem... Estou surpresa com tudo e como assim? Não entendo

— Eu sei, é confuso demais— ele levanta e da um cambaleada— Vou tomar um banho e tirar essa roupa— ele está pronto pra sair e eu chamo

— Valentim, vai lá e volta, preciso conversar uma coisa. Urgente

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE VINGANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora