Capítulo 23

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BRUNA

- Está tudo bem? - Raphael empurrava o frango tailandês picante e o fettuccini em volta do prato com o garfo. Terça-feira ele disse que não estava se sentindo bem e cancelou sua visita. E, nos últimos dias, se manteve bem quieto. Hoje à noite, o seu humor era algo que se assemelha a mal-humorado.- Você não gostou do macarrão?

- Sim. Está tudo bem. Desculpe, querida. O macarrão está delicioso. É que estou cansado.

O resto da noite foi praticamente o mesmo. Eu senti como se estivesse forçando-o a responder as perguntas. Normalmente, ficar em silêncio era tranquilo para mim; nunca fui uma pessoa que sentia necessidade de falar o
tempo todo para se sentir confortável. O problema era que o silêncio não era
confortável esta noite.

Mais tarde, tentei assuntos diferentes. Nada parecia interessá-lo o suficiente para falar. Raphael também bebeu no jantar, algo que era igualmente fora do normal para ele. Fez uma forte mistura de rum e Coca-Cola e sentou-se no sofá, olhando para o copo enquanto rodava o líquido.

- O que você acabou comprando quando foi fazer compras no outro dia? - Ele tomou um gole de sua bebida e olhou para mim com a testa franzida.

- Humm?

- A amiga da família para quem você estava comprando um presente na semana passada. Você estava em uma loja de presentes quando te liguei e você disse que estava fazendo compras para o aniversário de uma amiga. Lembra?

Raphael olhou ao redor da sala antes de tomar um gole considerável. Colocando a bebida na mesa, ele levantou um joelho e se virou para mim.

- Eu lhe dei um tabuleiro de damas de madeira. Ela vive em um lar de idosos e gosta de jogos. Ela os vê na TV todos os dias e gosta de jogar jogos de tabuleiro.

- Ah. Isso é legal da sua parte. Ela é uma amiga do seu pai?

Ele me olhou diretamente nos olhos desta vez.

- Ela é a avó da Yasmin, Marlene. - Havia mais nesta história. E eu não tinha certeza se queria saber o resto dela. - Depois que Yasmin desapareceu, Marlene começou a ficar muito confusa. Ela não tinha família, além da filha e uma neta viciadas em drogas. A mulher passou toda a sua vida vendo o lado bom das pessoas e, no entanto, quando chegou sua vez, quando ela precisava desse lado bom para ela, as duas estavam longe de ser encontradas. - Raphael tinha um braço pendurado no encosto do sofá, eu estendi a mão, peguei a sua e apertei. - Meu pai e eu nos revezamos cuidando dela por um tempo, depois que eu voltei da faculdade. Mas, então, o meu pai se aposentou e se mudou para o Rio, e eu estava viajando quatro dias por semanas com a equipe. E não era seguro para Marlene estar sozinha. Então, a coloquei em uma casa de repouso cerca de três anos atrás.

- Uau. E você ainda mantém contato com ela?

- Não perdi nenhuma semana desde que a coloquei lá. Prometi a ela que veria meu rosto sorridente a cada semana. - Raphael gargalhou. - Houve segundas-feiras em que eu não estava bem, mas não deixei de aparecer por lá na terça.

- Isso é incrível, Rapha. Muita gente não faria isso por outra pessoa. Especialmente alguém que não é nem mesmo da sua própria família.

- Ela sempre foi como da família para mim. Eu era jovem quando minha mãe morreu. Marlene tentava ajudar a mim e ao meu pai sempre que podia. Além disso, alguém tinha que estar lá para ela. Yasmin é que não estaria.

Eu estava curiosa para perguntar sobre ela desde a noite em que ele me contou sobre o que aconteceu na faculdade, mas a oportunidade nunca tinha se apresentado. Até agora.

- O que aconteceu com Yasmin ? Você mencionou que ela desapareceu após a noite com Yuri.

- Ela se foi por bastante tempo depois disso. Não apareceu até o meu primeiro ano jogando como profissional. Foi provavelmente o seu período mais longo sóbrio desde que éramos adolescentes. As coisas estavam bem por um tempo. Até não estarem mais.

𝐎 𝐉𝐨𝐠𝐚𝐝𝐨𝐫,𝐑.𝐕Where stories live. Discover now