✈ Aeromance | Namjin

10. CAPÍTULO: Frio e Ensolarado

Kim Namjoon

Um som distante e disperso preenchia o ar, como se quisesse chamar minha atenção. À medida que a consciência retornava, percebi que era o som de notificação do meu celular, inicialmente distante, mas se aproximando com cada pulsar. Levei alguns segundos para recuperar a conexão com a realidade, como se estivesse emergindo de um sono profundo, e até mesmo meu nome parecia uma peça esquecida temporariamente no quebra-cabeça da mente.

Ao despertar e ligar meu aparelho, notei que tinha perdido uma boa parte do dia em um sono profundo. Entre as várias mensagens recebidas da empresa para a qual trabalhava, estava uma chamada para assumir um novo voo. Contudo, naquele momento, voar era uma opção distante. Yoongi precisava de mim, e essa foi minha resposta à empresa.

Levantei-me, dei um pulo e atravessei o corredor em direção ao banheiro. A casa estava envolta em um silêncio incomum, e a ausência de Yoongi dava a tudo uma tonalidade acinzentada.

Ao entrar no box, abri o registro do chuveiro, deixando a água fria cair sobre mim. A sensação gelada era uma tentativa de acordar completamente para o desafio do dia. Tinha uma série de tarefas a cumprir: a visita ao hospital para ver Yoongi, levar algumas coisas para ele, além de cuidar da casa, que agora parecia menos acolhedora sem sua presença.

Adentrei o quarto de Yoongi, um lugar onde raramente entrava sem a sua presença. A atmosfera ainda carregava o seu inconfundível aroma, proporcionando uma sensação aconchegante. A cama, como de costume, estava desarrumada, um verdadeiro ninho que ele sempre preferia. No canto, repousava um teclado, um sinal evidente da paixão de Yoongi pela música, a sua forma mais íntima de expressar emoções. E, é claro, lá estava o seu computador "gamer", um tanto desgastado pelo tempo e pela intensidade das suas noites imersas em jogos online, que frequentemente me acordavam com seus surtos.

Examinei minuciosamente o quarto, na esperança de encontrar o Gatinho ali, mas infelizmente ele não estava lá. Coletando o que era essencial, comecei a observar aquela bagunça na cama. Normalmente, eu ficaria irritado com Yoongi, mas naquele momento, só conseguia sentir sua falta, a casa ficava fria sem ele. A ausência dele era como um vazio que preenchia todos os cantos. Saí, preparando algumas roupas e uma cesta de frutas, cuidadosamente recheada de tangerinas, sabendo que são suas favoritas. O pensamento de que ele gostaria daquele gesto aqueceu meu coração, mesmo na ausência física dele.

O sol brilhava intensamente lá fora, pintando o dia com calor e luminosidade. Um clima perfeito para um mergulho na piscina.

Saí do prédio, carregando bolsas repletas de itens que Yoongi precisava no hospital. Enquanto caminhava sob o sol escaldante, uma ideia curiosa cruzou minha mente. Imagina se Jin decidisse me sequestrar agora, pelo menos eu não precisaria enfrentar o calor e o peso das bolsas no ônibus. Além disso, considerando a aparente riqueza de Jin, ele deve ter uma mansão com piscina, e talvez não seria uma má ideia afinal.

O ônibus estava vazio para um dia de semana, longe do horário de pico. Os passageiros, imersos em seus próprios mundos, estavam ocupados com fones nos ouvidos e olhos fixos nos celulares. Era intrigante como as pessoas hoje em dia viviam distraídas em seus dispositivos, alheias aos acontecimentos ao redor, perdendo os sons e movimentos que compõem a vida cotidiana.

Escolhi um assento ao lado de uma garota distraída. Enquanto o ônibus começava a se mover, mergulhei em meus devaneios, observando a paisagem através da janela suja. Um parque se desenhava à distância, com crianças brincando e saltitando. Os adultos, por sua vez, apenas observavam. Essa cena despertou memórias da minha infância no orfanato. Crianças entravam e saíam, algumas voltavam quando famílias adotivas as devolviam. Éramos vistos como peças em um tabuleiro, movidas conforme a vontade dos outros, e, se não éramos mais desejados, éramos simplesmente descartados.

Em meio às idas e vindas do orfanato, criar laços com outras crianças tornava-se uma tarefa desafiadora. No entanto, Yoongi foi uma exceção notável. Quando ele chegou, já éramos considerados "velhos demais" para conquistar o coração de possíveis pais adotivos. Nesse cenário de rejeição, decidimos unir nossos destinos, tornando-nos praticamente inseparáveis. Fomos como carne e unha, sempre apoiando um ao outro em meio às adversidades.

Ao emergir dos meus devaneios, percebi que a garota ao meu lado, que antes estava imersa no celular, agora me encarava fixamente, como se buscasse alguma confirmação. Num rápido olhar para a tela do dispositivo, deparei-me com fotos minhas e de Seokjin. Instintivamente, tentei esconder meu rosto com uma sacola.

Segurando a sacola na altura do rosto, me levantei e me dirigi para o fundo do ônibus, buscando algum anonimato. Felizmente, já estávamos próximos ao hospital, então não hesitei em descer no ponto mais próximo. O vazamento das fotos, aparentemente já começava a render consequências, e eu mal posso imaginar até onde isso pode ir.

Caminhando apressado, alcancei a porta do quarto de Yoongi, mas antes de adentrar, percebi vozes do outro lado. Optei por esperar do lado de fora. Pouco depois, um jovem aparentando ter uns 16 ou 17 anos emergiu do quarto, sendo conduzido por um homem de terno, de semblante sério, porém notavelmente atraente. Ambos saíram rapidamente, sem dar muita atenção ao entorno. Com a porta entreaberta, pude vislumbrar Yoongi deitado ao fundo. Aproveitei a saída dos dois homens para entrar rapidamente.

- Quem são esses? - Perguntei a Yoongi, com minha curiosidade aflorada.

- Hoseok e seu filho, Taehyung. O garoto está envolvido no acidente, vieram me dar suporte - Yoongi explicou, com uma calma serena.

Libertando-me das sacolas, peguei a cesta e a coloquei no colo de Yoongi, que prontamente abriu um sorriso ao avistar as tangerinas.

- Ei, você fica mais feliz em vê-las? E eu? - Brinquei, fingindo estar indignado.

- Prioridades - Ele respondeu, já atacando uma tangerina como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo.

Ao testemunhar o sorriso gengival de Yoongi, uma sensação calorosa me envolveu, como se estivesse sido banhado pelo sol.