Delegado Silas

Epílogo

Três anos depois.

JÚLIA

Eu vejo Adriana se afastar. Ainda não acredito que a minha amiga agora é dona de uma cafeteria num shopping da Zona Sul. Logo ela, que não gosta de café. É incrível como as coisas tomam um rumo inesperado.

Verifico a hora no celular, preciso ir logo para casa. Eu quero chegar antes do meu marido. Hoje, faz exatamente três anos que nos casamos. Lembro que, na época, foi tudo muito rápido. Entre o pedido de casamento e o casamento em si, foram menos de três meses. Eu ainda acho graça do meu pai me ligando para perguntar se eu estava grávida.

Acontece que Silas é um homem decidido e já tinha tudo planejado. Assim, nós nos casamos no civil numa tarde chuvosa de sexta-feira. Apenas as pessoas mais íntimas compareceram, e aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida. Embora seja bem difícil escolher um dia, pois desde a primeira vez que Silas me beijou, eu acho que todos os meus dias são especiais.

Eu ainda sigo muito apaixonada, e o meu delegado se mostra um homem romântico, sempre me fazendo surpresas e declarações que me deixam deslumbrada.

Mas, hoje, será diferente. Sou eu que farei uma surpresa, uma que já falamos há algum tempo, e que eu sei que ele quer muito.

Cida ainda está no apartamento e se prepara para ir embora. Quando me vê chegar, ela me observa.

— Olá, Júlia! Deixei o jantar pronto, é só aquecer — avisa, mexendo em sua bolsa. — Quer que eu faça algo para você antes de ir?

Eu me aproximo dela, aliso seu braço e sorrio.

— Não, eu estou bem. Pode ir, e aproveite o feriado — digo, e ela faz um leve aceno com a cabeça.

Em seguida, vou para a suíte e tomo um banho. Pego o envelope da minha bolsa e vou para a sala. Enquanto aguardo Silas, abro o notebook. Vejo um e-mail da faculdade informando que meu diploma já está disponível para eu ir buscá-lo. Eu terminei o curso faz um mês, e agora sou bacharel em Ciências Exatas.

Navego por alguns sites, e quase todas as plataformas jornalísticas falam sobre "O Caso do Café", que finalmente chegou ao seu fim, demorou mais que o esperado, porém acabou. Agora, estão todos atrás das grades. Petrus, por ser idoso e ter problemas cardíacos, teve sua pena reduzida, pegou apenas dez anos de reclusão. Silas não achou essa sentença justa, mas é a lei, e devemos respeitá-la.

Francisco pegou 25 anos de cadeia, e eu soube que Valéria, agora sua ex-esposa, se casou com um homem rico, com idade para ser o seu avô.

A porta faz barulho. Eu fecho o notebook e o coloco de lado.

— Boa noite, meu amor! — Silas saúda quando me vê sentada no sofá.

Eu sorrio e me levanto, vou ao seu encontro e beijo seus lábios.

— Boa noite. Senti sua falta.

Ele me abraça e beija a minha testa.

— Amanhã, eu não trabalho, então seremos apenas você e eu — murmura em meu ouvido, eu me contorço toda.

Eu olho para o meu marido, afasto-me e seguro a sua mão. Eu não tenho a mesma paciência que ele para fazer surpresas. Na verdade, estou muito ansiosa. Eu o puxo até o sofá, nós nos sentamos lado a lado, e eu entrego o envelope para ele.

— Isto é para você — falo, com meu coração batendo forte.

Silas ergue uma sobrancelha.

— E o que é? — pergunta.