Capítulo 25

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Oie, meus amores! Algumas de vocês estão meio revoltadas com a Pilar, né. Mas não fiquem não. Nós mulheres deveríamos ser como os homens. Um não julga de forma alguma o que o outro faz. Mesmo que não concorde. E quando isso acontecer seremos invencíveis.

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Capítulo vinte e cinco

Eduardo

Pensar que chegaria em casa e não veria a Pilar e meu filho não estava me animando a ir embora. Passava das vinte horas e eu ainda estava na Arete, trabalhando. Caminhei pelos dois andares da Construtora, o de cima já todo reformado havia ficado lindo, as obras no de baixo, onde ficava nossas salas, começariam no início do ano. Estava trabalho no mínimo quinze horas por dia. Era a única coisa que me distraía da Pilar. Estava a ponto de enlouquecer a vendo chegar de manhã em casa, bebendo, mentindo. Mas ainda assim preferia ficar ali, não importa o que ela fizesse, precisava que ela entendesse que nunca mais deixarei que se sinta sozinha.
Acabei trabalhando a madrugada toda, e quando vi que estava amanhecendo resolvi nem ir para casa.
Quando a Catarine e a Bia chegaram me mediram de cima a baixo.
— Você dormiu aqui? — Confirmei.
— Preciso de café.
— Por que não troca pelo menos de camisa? Tem no armário do banheiro.
— Ótima ideia, prima.
— Não me chama de prima. Porra.
Tentei não incomodar a Pilar, pedi para Julia me enviar fotos e vídeos do meu pequeno, e era absurda a falta que ele me fazia, tentava não pensar em Angel, mas era impossível. Sempre que a saudade, raiva, tristeza me atacavam, eu fugia para o trabalho. E foi só o que fiz naqueles três dias e noites, a falta que meu filho e a Pilar faziam não era apenas física, eles eram tudo para mim. Ter perdido meu segundo filho da forma que foi, só fez com que eu amasse Pilar ainda mais.
— Eduardo, tem um segundo? — Com certeza era pessoal, Bia nunca pedia permissão para me atrapalhar quando era trabalho, ela era como a Catarine, mandona, carrasca e abusiva. Mas jamais falaria isso em voz alta, tenho mais medo dela do que da Ca.
— Entra aí.
— Vai ir ver seus pais antes de descer?
— Não. — Ela permaneceu me encarando. Talvez estivesse procurando palavras para me dizer o que pensava, ou se controlando. — Vou daqui direto para Ilhabela.
— Você está com raiva dos seus pais, de todos nós na verdade. — Levantei e peguei um copo com água.
— Bia, eu não estou; não estou com raiva de ninguém, mas não estou bem para agir como se nada tivesse acontecido comigo, e não tenho nada para conversar, com nenhum de vocês na verdade. Eu só me sinto triste, não quero forçar uma interação. E não vou nem me despedir porque na última vez que fui em Itaqua, deu muita merda. Eu falei para todos vocês que não voltaria ali tão cedo, e quando digo tão cedo, quero dizer nunca mais. Se não tivessem me segurado teria matado Gustavo. Eu só quero paz. Se as coisas tiverem que voltar ao que era, voltará. — Dizia aquilo por dizer, pois nunca, nunca voltará a ser como antes.
Antes da sair da Arete mandei uma mensagem para Pilar avisando que estava a caminho. Demorei bem mais tempo do que o normal, o trânsito de São Paulo para o litoral estava um verdadeiro caos. Quando adentrei à residência do Heitor, entendi porque ele se refugiava ali sempre que precisava. Era o paraíso. Uma estrada de terra ladeada de árvores grandes e bem cuidadas escondia a imensa e luxuosa casa que se avistava depois de uma leve curva. Parei absorto, vislumbrando aquela construção impressionante. Tinha certeza que o deque que eu via apenas a lateral de onde estava, tinha vista para o mar. Terminei de percorrer a distância até a garagem e senti meu coração disparar de ansiedade. Estava com saudades da minha branca, louco para ver meu filho. E foi muito bom abraçá-los.
— Fez boa viagem?
— Horrível, muito trânsito.
— Todo mundo querendo pular as setes ondas na virada do ano — Heitor comentou.
— Heitor, essa casa é fantástica. — Ele sorriu orgulhoso.
— Você precisa ver a vista lá do deque — Pilar comentou. Ela estava linda, um vestido longo e azul como seus olhos. Disse que não havia ido na praia propriamente dita, mas estava mais coradinha. Pegou sua taça do drinque que estava tomando e me convidou para ir ver. Caminhamos em silêncio, e quando chegamos pude apreciar a imensidão do mar, com uma luz aqui outra ali das embarcações, suspirei sem saber o que dizer da beleza do cenário a nossa frente.
— É incrível, não é?
— Sem palavras para descrever quão incrível. É por isso que Heitor ama esse lugar.
— Meu pai comprou esse lugar logo depois que minha mãe morreu. A casa que havia ali onde é a garagem não existe mais, foi demolida, meu pai fez tudo do zero. Minha mãe nunca gostou de praia, é como se ela não estivesse aqui mesmo estando viva. É a bolha que meu pai criou para afastar a dor da morte da esposa.
— Ele fez um ótimo trabalho, esse lugar é um paraíso. — Pilar e eu ficamos ali, contemplando o mar em total silêncio. Queria abraçá-la, dizer o quanto senti sua falta.
— Pi? — Ela me olhou e sorriu com carinho.
— Foi um ano difícil — falou e voltou a olhar para o mar.
— O melhor e o pior ano da minha vida. — Ela colocou a mão sobre a minha no balaústre de madeira o qual nos apoiávamos.
— Não consigo imaginar a dor que seja... todas as vezes que quase perdi o nosso filho. — Apertei aquela madeira com tanto ódio, que senti que poderia quebrá-la.
— É por isso que sinto tanto ódio, tenho até medo de encontrar a Luana, não sei o que sou capaz de fazer. Na última consulta ele estava bem, saudável, grande e pesado, o som de seu coração batendo ainda me acorda a noite. Ela o matou e nem posso processá-la, pois foi tentativa de suicídio não de aborto.
— Sei que parece egoísmo falar isso, mas tente não pensar nisto.
— Não é egoísmo, você tem toda razão, tenho que agradecer a Deus pelo nosso filho ser saudável, e malcriado. — Rimos. — Viu a brabeza porque fui com ele para o quarto? Estava morrendo de sono e não queria dormir de jeito nenhum. Não sei quem esse menino puxou.
— Eu sei.
— Eu fui uma criança calma, nem vem, pode perguntar para a minha mãe. — Pilar riu e bebericou seu drinque.
— Eu sei, seu pai falou, ele disse que nenhum dos filhos dele era malcriado como o neto. Ah, mas meu pai tinha que acabar com a minha imagem. Falou que eu era ranzinza, chorona e estressada. Disse que só melhorei meu gênio depois de três, quatro anos, porque minha mãe era muito calma e amorosa. Mas disse que eu me jogava no chão, batia na Lyara e nas crianças que não me emprestavam brinquedos, mesmo eu nunca dividindo os meus. — Estava com o queixo no chão quando ela terminou de falar. — É uma surpresa não é mesmo, justo eu que sou tão boazinha.
— Na verdade, pensando bem, sabe que não mudou muita coisa? — Ela me deu um tapa seguido de uma mordida, me deixando com tanto tesão que em segundos a prendi entre meu corpo e a madeira. Nossos rostos a centímetros um do outro. Seu hálito de fruta e álcool me atiçando ainda mais. — Tenho uma coisa bem melhor para essa boquinha. — A beijei com tanta paixão que meu peito doeu, Pilar se enroscou ao meu corpo e acabamos em sua cama.
Acordei no dia seguinte com ela esparramada sobre mim. Mas não quis acordá-la, sabia que seus planos não era dormirmos no mesmo quarto, minhas coisas tinham sido levadas para um quarto de hospedes.
— Bom dia! — falei assim que abriu os olhos. Seu olhar era indecifrável, não respondeu meu cumprimento, apenas continuou ali me encarando. Depois do que achei ser uma eternidade, ela respondeu e levantou para ir ao banheiro. Aproveitei para vestir minhas roupas, o clima que havia na noite anterior se dissipou e para que Pilar não tivesse que me dar uma desculpa ou dizer algo que não queria ouvir, deixei seu quarto antes que voltasse.
Renato foi me chamar dizendo que estavam me esperando para tomarmos café da manhã.
— Me desculpem, não sabia que estavam me esperando.
— Senta, eu fiz seu bolo. E se vocês dois começarem a brigar por comida, vão ficar de castigo — minha tia falou, realmente brava, para Renato e eu.
— Onde Heitorzinho está? — perguntei para Pilar, que olhava para tela do seu celular sem piscar. Quem respondeu foi minha tia.
— Está tomando o solzinho da manhã no quintal com a Julia.
— Ah... desculpa. — Pilar me deu atenção tardiamente. — Não o levei na praia ainda, achei que quisesse estar junto. Podemos ir hoje no fim do dia.
— Obrigado por isso! Vamos assim que o sol baixar.
— Podemos fazer um churrasco para o almoço agora que chegou um churrasqueiro. — Heitor sugeriu, como quem não quer nada com nada, mas sempre me falou que adora churrasco e detesta ficar na churrasqueira.
— Piscina, sol, churrasco... nada mal. Até fico na churrasqueira.
— Eba, eu te ajudo! — Renato exclamou empolgado.
Assim que terminamos o café fomos todos para a piscina. Pilar estava bem distante, pensativa, sumia dentro de casa o tempo todo e não largava o celular por nada. Senti um amargo na boca e um gelo percorreu minha coluna quando vi ela sumir com o telefone na orelha e um sorriso bobo no rosto. O nó que se formou na minha garganta se tornou sufocante.
— Eduardo? — Olhei para Heitor, mas não o vi. Ele continuou a falar, mas demorei até realmente ouvir o que ele estava falando.
— A Nicole?
— Você não ouviu nada do que eu disse.
— Não, Heitor, me desculpa, pode repetir?
— Falei que Nicole parece me odiar, e perguntei se você sabe se existe algum motivo para isso. — Suspirei fundo, e resolvi que falar sobre os problemas dos outros era melhor do que viver os meus. Minha tia estava dentro de casa, Renato brincando na parte rasa da piscina e Nicole estava do outro lado com Julia e Heitorzinho.
— Não sei o que sabe realmente sobre a vida da minha tia, sei que não deveria, mas te considero muito para te deixar no escuro. O pai da Nicole, era muito violento, batia em minha tia, ela não falava para ninguém, só veio procurar meus pais quando ele começou a bater na Nicole, a bichinha fazia xixi nas calças de tanto medo dele. Minha tia o denunciou para a polícia, ele foi preso e morreu na cadeia. Ela morava no quintal de sua família, ninguém soube que ela o denunciou, mas os irmãos eram tão violentos quanto, eles batiam em suas esposas, filhos e até sobrinhos. Nicole cresceu vendo esse tipo de homem como pai de família. Faz apenas dois anos que minha tia conseguiu sair de lá, só depois que ele morreu. Precisa dar um tempo para ela. Ela é assustada, reclusa, não interage com nenhum homem com naturalidade.
— Você acredita que ela pode ter havido outro tipo de abuso? — Heitor perguntou preocupado.
— Eu espero que não, Heitor, já é difícil saber da violência pela qual foi submetida e que foi obrigada a ver.
— Obrigada por confiar em mim. Sua tia me falou que tinham medo dele, me contou por algumas coisas que passou, mas é um castigo falar do seu passado, não gosto de vê-la sofrer tendo que reviver seus pesadelos.
— Sabe de uma coisa? Minha tia é uma mulher de sorte por estar com um homem como você. Por um tempo achei que estivesse criando um sentimento pela minha mãe, acredita?
— Admiro a sua mãe desde a primeira vez que a vi, uma mulher tão jovem, meiga e com um instinto materno que só havia visto em Patrícia, mãe da Pilar. Mas Marta é uma verdadeira força da natureza.
— Minha tia é realmente incrível. Sabe, o pai das crianças sempre foi apaixonado por ela, mas ela casou com seu primeiro namorado, o tio Tom, ele teve câncer muito novo, e viveu por anos em tratamento severo, minha tia nunca saiu do seu lado até a sua morte, eles nunca puderam ter filhos. O pai da Nicole a cortejou por anos, esperou seu luto e se mostrou o homem mais apaixonado; o sonho dela sempre foi ter filhos, então resolveu se dar uma chance e poder ser mãe. Depois que Nicole nasceu foi que ele mostrou sua verdadeira face... — Heitor correu antes que eu terminasse de falar e pulou na piscina, quando entendi o que tinha acontecido ele já estava saindo com Renato tossindo.
Todo mundo correu. Ele pegou o menino que estava bem, mas assustado no colo e levou para o enorme pergolado com tufon de couro, onde Julia estava com as crianças.
— Meu Deus, Renato, eu falei que era fundo, se eu não estou de olho você poderia se afogar. — Heitor estava mais assustado do que o menino.
Pilar e Marta vinham caminhando calmante, quando viram a confusão, correram. Mas Nicole estava em cima do Heitor tentando pegar o irmão de sua mão.
— Me dá ele. — Seu tom era de fúria. Heitor sentou com ele no tufon enquanto Renato tossia. — Você não vai brigar com ele! — gritou a menina.

 — Você não vai brigar com ele! — gritou a menina

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⏰ Última atualização: Nov 24, 2023 ⏰

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