Capítulo 11

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Hoje é o enterro de minha mãe. É difícil eu aceitar que isso realmente aconteceu. Ela era a única pessoa que me amava, e a sua ausência dilacera minha alma. Subo o xale negro que cobre as marcas que minha ex sogra deixou. Faz dois dias que isso aconteceu, mas parece que ainda sinto o chicote penetrar em minha alma. Por um segundo, fecho meus olhos. Ela vai pagar caro pela humilhação que me fez passar. 

— Sinto muito Soraya. - sorrio forçadamente para o aglomerado de pessoas que se juntam a fim de me dar os pêsames. Bando de corvos. Quando minha mãe precisou, não estavam para socorrer. Só vieram para celebrar a sua morte. 

O impressionante é que mesmo tendo passado alguns anos, ainda sinto olhares afiados em minha direção. Posso ver muita das pessoas que me escorraçaram da fazenda, e isso me faz ter lembranças amargas. Meu perfume agradável, vestido caro, e saltos finos dizem como sou uma pessoa elegante e me diferem dos demais, talvez o meu sucesso os incomode. Ingrid me surpreende com um abraço apertado. Nela eu sinto verdade, além de mim, é a única que realmente está triste pela morte de minha mãe.

A porta é aberta. Vislumbro Geane chegar, com toda sua pose soberba de sempre. Desvio o olhar. Não quero seus olhos perseguindo minhas feridas. 

— Não se preocupe amiga. Ela vai pagar pelo que fez com você. - Ingrid sussurra. Como minha confidente, contei o que Geane havia feito, e logicamente ela ficou ao meu lado. Ajeito novamente meu xale. 

— Eu tenho certeza disso.

As horas se passam e o cortejo se inicia. Confesso que fiquei um pouco esperançosa de encontrar Sebástian novamente. Acreditei que ele pudesse aparecer com as crianças, já que minha mãe relatou que eles tinham um certo convívio. Deixei um suspiro sair pela boca. Talvez eu esteja idealizando acontecimentos que jamais irão acontecer. Minha intenção era chegar na cidade, conversar com Sebástian, acertarmos as pendências e conhecer finalmente os meus filhos. Isso será mais difícil do que eu imaginava.

Não consigo conter a emoção ao vislumbrar o caixão amadeirado de minha mãe. A marcha fúnebre tocava dando um tom melancólico a ocasião. Uma vontade súbita de abraçá-la, me faz cair de joelhos ao solo, e debruçar ao seu leito. Meu peito dói, como se houvessem perfurado com uma faca afiada. Deixo minha testa repousar. O choro é audível, como de uma criança, e eu não me envergonho disso.

— Levante, Soraya. - Ingrid tenta encostar em meus braços, porém eu me esquivo. — As pessoas estão comentando. 

— Que se dane as pessoas. Minha mãe está morta, caramba! - com fúria, olho ao redor. — Bando de abutres! Fingem choro, enquanto por dentro estão alegres com a morte dela! Quando estava viva ninguém a ajudou, nem mesmo em sua doença. Agora vocês querem lamentar, como se houvessem perdido uma amiga de muitos anos. - todos me olham impactados com minha reação. — Dane-se vocês e suas falsidades! Minha mãe não precisa de vocês!

— Nem de você Soraya. - ergo a face. Geane se aproxima com toda sua arrogância. — O mais engraçado é que se lamenta agora que ela está morta. Poderia ter permanecido ao seu lado se não houvesse fugido com o milionário. Agora você questiona a nossa presença?

— Eu tenho os meus motivos para ter me afastado.

— Belos motivos você teve. - sou surpreendida quando ela inclina o corpo e puxa meu xale. Imediatamente eu cubro, infelizmente, foi tempo suficiente para olhares curiosos. — Talvez fosse digno de sua parte, falar para todos, o porquê dessa marca ao corpo.

— Cale sua boca, ordinária - ergo o corpo. — Nem mesmo na morte de minha mãe, você me deixa em paz. O que você quer de mim, além de me espezinhar?

— Que você deixe imediatamente a cidade do México e volte para o bueiro de onde saiu.

Ergo uma sobrancelha. Não posso deixá-la pensar que me intimida.

— Ouça bem Geane. Eu não irei fazer isso até os meus filhos reconhecerem que sou a mãe deles. Até lá, pode se acostumar com a minha presença. - ela reprime os lábios. — Eu não tenho medo de suas ameças.

— Mas eu tenho certeza que de Leandro, você tem medo.

Arregalo os olhos sem saber o que falar. Está nítido que ela sabe da agressão que sofri. Dou alguns passos para o lado. O que me intriga é saber como ela pôde ter acesso a essa informação. Ela sorri de lado ao sentir o medo estampado em minha face. Bruxa! Mulher asquerosa! Que sua morte seja ácida como sua língua venenosa.

— Acho bom a senhora não ameaçá-la. Como sabe, sou advogada, e amiga de Soraya. Sei da agressão, e se continuar com esse seu jogo patético, eu não exitarei em abrir um processo contra você. - Ingrid intervém.

— Empregadinha subordinada. Se defende essa porca, é porque come o mesmo farelo que ela. Seus dias na fazenda estão contados.

— Eu não vejo a hora.

Ela se vai e eu permaneço na mesma posição. Pareço um rato medroso e isso que sou. Me escondo de Leandro, mudando de lugar a todo instante, com medo dele me encontrar. Isso tem que mudar. Eu não vou mais me esconder. Permanecerei na casinha da minha mãe, morando em San João de Agar, e quero ver quem vai me impedir ou me intimidar. 

— Tenho que ir amiga, fique bem.

Com um beijo quente na testa, Ingrid me deixa sozinha, aliás, permaneço sozinha, pois todos foram embora, juntamente com Geane. Melhor assim. Só quem tem que ficar com minha mãe, sou eu, a única que a amava. Acaricio o seu caixão. Quanta falta ela fará...

— Me perdoe por não estar ao seu lado. A senhora foi a melhor mãe do mundo. Me presenteou com a vida, e com tudo que podia através do seu suor e do suor do papai. - deixei algumas lágrimas descerem. — Eu vou te amar eternamente. 

Iria dizer mais algumas palavras, mas escutei um barulho. Eu estava tão assustada com medo de ser Leandro, que corri para me esconder atrás de outros túmulos.

— Se despeçam de sua vó, crianças.

Arregalo os olhos. Meus filhos estão aqui!





O Preço da AmbiçãoWhere stories live. Discover now