Capítulo 48

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Soraya

Ainda sorrio quando lembro da cara de espanto de Sebástian quando me viu saindo das águas. Ele estava constrangido. Não sei o porquê disso, se tantas vezes me viu nua. Nada daquilo era novidade. Naquela noite eu queria sair de todo o estresse causado, e o lugar apropriado para aquilo era o riacho escondido. Ainda lembro quando íamos foragidos de nossos pais, para nos encontrar.

Eu não nutria sentimentos por ele na época, mas adorava os encontros de dois adolescentes rebeldes. Acredito que o fator de não avançar com os meus sentimentos foi a obrigação de me casar com ele. Eu queria alguém de alto nível, e me ver entrelaçada com um homem que não era isso, me causou espanto. Talvez se não fosse toda a pressão dos nossos pais, principalmente dos meus, estaríamos juntos até hoje.

— Estamos na segunda audiência pela guarda das crianças Selene e Suel. Vamos ouvir o relato das testemunhas. Senhora Geane, por favor.

— Bom. Eu conheço Soraya desde criança. Ela sempre foi ambiciosa. Seu sonho era se casar com um homem rico. Acabou engravidando do meu filho e isso atrasou os seus planos. Assim que pariu as crianças, ela pôde dar continuidade ao seu plano de abandonar a sua casa e fugir com o então milionário Leandro de Agar. Para ela, Selene e Suel sempre foram um estorvo. Uma pedra no caminho da qual ela tinha que retirar.

Ao ouvir seu relato, a minha vontade é de gritar, principalmente dizer ao juiz o quanto essa mulher é detestável e ardilosa. Não quero ser expulsa do tribunal, nem ser taxada de louca, por isso, me acalmo.

— Advogada de defesa.

— É verdade que a senhora espancou a minha cliente com um chicote e em outra ocasião quase a asfixiou? Ingrid pergunta.

— Meritíssimo. - o advogado de Sebástian interfere. — Isso não vem ao caso.

— Mas eu quero ouvir a resposta da testemunha. Por favor, continue.

Geane está com os olhos arregalados. Ela olha para o advogado como se quisesse que ele a salvasse de algum jeito. Não havia nada o que fazer, ela tinha que falar a verdade.

— Sim. Mas ela mereceu.

— Sem mais.

O juiz solta uma lufa de ar. Até ele mesmo está cansado disso. Tenho certeza que se ele pudesse, encerraria a sessão se ambas as partes quisessem a guarda compartilhada, mas não é isso que Sebástian quer, e nem eu.

— Advogado do senhor Sebástian. A testemunha é sua.

— A senhora acha que passado três anos, a senhorita Soraya pode ter mudado tanto, comparado ao dia em que ela abandonou as crianças?

— Sinceramente não. Nenhuma pessoa muda da água para o vinho em tão pouco tempo. Especialmente essa mulher. Ela é ruim desde que nasceu. Não se pode esperar nada de bom vindo de uma mulher que abandonou duas crianças recém-nascidas nos braços do pai. Como se explica isso?

— Sem mais.

Acabado de ouvir todas as testemunhas. O juiz pede uma pausa para analisar o caso. Eu realmente não sei o que vai acontecer. Tudo indica que eu perderei essa batalha. Não consegui nenhuma pessoa para falar bem de mim. As únicas pessoas que poderiam contestar seriam meus pais, e eles estão mortos. Não consegui fazer uma amizade digna nessa cidade, sem ser de Ingrid. Estou em apuros!

— Analisando todo caso. Eu decreto que teremos uma terceira audiência para finalizarmos. - todos protestam. Isso parece uma novela mexicana. — Porém, até lá, eu decreto uma guarda temporariamente compartilhada. A mãe poderá ter encontro com seus filhos, sem precisar ser supervisionada.

Eu encosto as costas na cadeira, extremamente feliz. Eu poderei me encontrar com os meus filhos, sem ter ninguém para me perturbar, com olhares duvidosos. Olho para o lado, e consigo perceber olhar de indignação de Diana e Geane. Sebástian mantém um olhar indecifrável. Queria saber o que está passando pela sua mente.

— Parabéns, Soraya. - Diogo aparece. Ele inclina o corpo levemente, e me presenteia com um abraço apertado. Quando se afasta, coloca as mãos em cada lado do meu rosto. — Você conseguiu. Poderá se encontrar com seus filhos. Isso é uma vitória.

Nossos rostos estão muito próximos.

Olho para o lado e vejo Sebástian a nos encarar. O seu olhar é cortante. Volto minha direção a Diogo. Sorrio de lado. Subo as pontas dos pés, e selo nossas bocas. A minha intenção não era beijá-lo, mas sim fazer ciúmes no meu ex marido. O beijo é rápido, não dura muito tempo porque ainda estamos em um local de respeito. Diogo me olha surpreso, com um sorriso bobo no rosto. Olho em direção ao meu ex marido, ele não se encontra mais. Merda!

— Vamos nos encontrar mais tarde?

— Hoje eu não posso. Vou ver meus filhos.

— Tem certeza? Espera até amanhã.

— Eu esperei seis anos para revê-los. Irei aproveitar cada segundo.

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Selene não estava contente, isso era visível no seu rosto emburrado. Suel somente sabia sorrir. Eles estavam prontos, vestidos com suas roupas country. Sorri para os dois e caminhei até eles. Em minha filha dei um beijo rápido, pois ela desviou. O meu filho presenteei com um abraço apertado, enchendo ele de beijos.

Sebástian olhava de longe.

— Como vocês estão?

— Estamos bem, mamãe. Estou muito animado para sair com você. Aonde vamos?

— Em um shopping que abriu recentemente. Lá é cheio de brinquedos e brincadeiras, onde vocês podem se divertir com outras crianças da sua idade. Depois vamos comer algo bem gostoso e voltarmos para casa, está bem?

— A minha alimentação é restrita.

Olho para minha filha.

— Eu sei, Selene. Preste atenção em mim. - agachei a fim de ficar à sua altura. — Percebo que não gosta de mim. Entendo que cometi um erro muito grave, mas todos merecem uma segunda chance. Eu quero ter um dia muito divertido com você. Com vocês dois. - olho para Suel. — Vocês podem me ajudar nisso?

— Nisso o que, mamãe? - ele pergunta.

— Em ser mãe. - sorrio. — Eu não posso mais ter filhos. Vocês são as pessoas mais importantes da minha vida. Eu só preciso de uma chance para provar que eu posso ser uma boa mãe. Vocês podem me ajudar nisso?

— Sim! - Suel grita, abre os braços e se joga em meu corpo. Ele percebe que sua irmã não expressa seus sentimentos, então a questiona. — Selene! Diz alguma coisa.

Ela nada diz.

— Tudo bem. - subo o corpo de Suel e o deixo em meu colo. Cochicho no seu ouvido. — Um dia ela vai me amar.

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O Preço da AmbiçãoWhere stories live. Discover now