A Corporação

Capítulo 1: treino

Abriu os olhos e piscou algumas vezes, acostumando-se com a claridade do local. Ergueu as mãos, abriu e as fechou sentindo a força voltar. Olhou em volta, percebendo o mesmo local de sempre, a base e sua cápsula. Esperou o estranho gosto na boca passar, e depois desplotou-se da unidade vital, removendo o tubo que adentrava pelo traje, indo ao seu corpo. 

Subitamente, a porta do espaço da cabine abriu, revelando na soleira da porta uma pessoa com trajes plásticos, botas e um capacete de tela preta. Erguia-se de forma muito ereta e colocou a mão na cabeça em gesto de sentido. O outro que acabava de acordar, saiu da cápsula que ficava colada na parede, e fez a mesma posição de sentido. 

— Número 689 se apresentando! — Bradou forte. 

— Capitã 43 saúda 689! Permissão para relaxar. — E nisso o outro relaxou a postura assim como ela. 

— Porque está sem o seu capacete? — Perguntou a Capitã.

Rapidamente 689 pegou o capacete que ficava pendurado ao lado de sua cabine vital e o colocou. 

— Estava prestes a colocar senhora! 

Inicializando sistema operacional.

Ela ficou imóvel analisando-o. Não era possível ver seu rosto, bem como o dele com o capacete, pois a película de visão era completamente negra, além disso, o visor de seu computador portátil embutido, mostrava de ora em ora, atualizações e funcionalidades, atrapalhando qualquer interação mais pessoal. 

— Sempre use o capacete na presença de outros. 

— Sim senhora! — Respondeu ele em alto tom. 

Se virou em um perfeito giro de 180 graus na soleira da porta, mantendo a postura ereta. 

— Venha comigo. Hoje será seu último dia de treinamento na base. 

— Sim senhora!

Nova tarefa:
completar treinamento: 1 - 5. Executando parte 1.

"Parte 1 de 5? Tem cinco partes de treinamento ainda? Ah..." 

E ele seguiu silenciosamente a capitã com passos firmes e em posição forçada. O traje laranja que usava, era feito de algum material duro e lustroso, que o deixava inchado como um balão, e fazia barulhos estranhos em cada movimento, assim como o da mulher que seguia. 

Seguiram um longo corredor, onde diversas portas digitais se abriam, e outros trajando o mesmo uniforme saiam de dentro. Como todos tinham a mesma roupa e capacete igual, com a viseira de película negra, a única coisa que os diferenciava era o número no canto superior esquerdo, indicando o número e a locação setorial de cada trabalhador. 

Andaram pelo corredor, e depois desceram escada indo para o nível 1, onde ocorriam os treinamentos. Todos os espaços eram inteiramente brancos e bem iluminados, sem a presença de qualquer janela ou abertura. Milhares de trabalhadores passavam apressados, preparando-se para o expediente, indo em direção a seus veículos.

689 andava apressadamente para acompanhar a capitã, mas por olhar curioso os que estavam à sua volta, não percebeu que a mesma havia parado e esbarrou nela.  

— Por acaso aconteceu algum problema na sua atualização diária. — Não tinha receio ou desconforto no fato dele ter esbarrado nela, ela estava firme. 

Houve uma pausa. 

689 sabia que caso falasse do erro na atualização de qualquer componente, teria que voltar para o setor de reparos, onde ficaria lá por pelo menos um mês solar, antes de poder voltar para a área de treino. Por isso, mesmo sabendo que na atualização diária matinal o componente cabeça havia tido erro, ele apenas disse: