Capítulo 2: O contrato

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Os cinco continuaram andando, pelos corredores brancos, passando de porta em porta, descendo cada vez mais aos níveis administrativos da empresa. E foi ao passarem por uma porta, de segurança ranque 3, que normalmente é restrita para mero colaboradores como eles, que 689 parou. Ele viu uma janela. 

Paralisou onde estava, assim como 673 e 690 que nunca tinham visto tal paisagem. Lá fora, o escuro vazio imenso do universo, atraiu seus olhos para a beleza nele oculta. Estrelas brilhavam em pequenos pontos respingados por todos os lados, e alguns planetas, que eles não conheciam os nomes, flutuavam no escuro vazio. 

— É lindo, não é? — Disse 421 apontando para lá fora. 

Os outros apenas concordaram, e continuaram a seguir o supervisor. Nenhum deles havia, antes daquele momento, visto o lado de fora da corporação, pois desde que abriram os olhos, apenas as paredes brancas e luzes de escritório faziam parte do mundo conhecido. 

Outras janelas vieram o caminho, conforme mudavam de ranque de segurança, e toda vez, 689 sentia o ar faltar quando via o espaço lá fora. 

— Chegamos. — Anunciou o supervisor cortando o momento.

Estavam agora em outra sala, onde havia uma longa mesa com cadeiras no centro. Pediu que eles se sentassem nas laterais, e depois sentou-se na ponta. O ar do ambiente ficou sério, e para se distrair das preocupações, 689 começou a olhar o ambiente. 

Havia um grande quadro na parede, onde diversos planetas e descrições dos mesmos estavam pendurados. Tinha também algumas anotações feitas em papel, coisa não mais comum de se fazer, coladas nas paredes também. 

Notava cada aspecto da sala, quando ouviu o farfalhar de folhas. O supervisor as retirava da pasta e entrava uma para cada um deles juntamente com um instrumento de escrita, uma caneta. 

689 pegou-a com muito cuidado, pois tinha ouvido falar que o papel é muito delicado e pode se rasgar. 

— Bom, creio que estão se perguntando porque os trouxe aqui.

Ninguém respondeu, pois aquilo era uma verdade geral e óbvia a todos ali. Por isso, só continuou. 

— O que tem na mão é um contrato que vocês podem escolher assinar ou não, para prestar serviço à Corporação. 

689 olhou o papel. 

Scanner: papel feito de celulose Contrato de prestação de serviço 

- Prestar serviços para à Corporação 

- Reintegrar planeta de rotas abandonadas 

- Ter na equipe um membro reintegrado


O scanner resumiu os principais pontos, e logo 690 perguntou:

— O que seria isso de ter um membro reintegrado? 

— Muito bem, 690, você perguntou exatamente o que eu queria explicar. — O supervisor fez uma pausa e se levantou, caminhando entre as cadeiras.

— Como você podem ver, um de você, não é da série de modelos 600, foi produzido muito antes de vocês, não é mesmo 421? — Foi até a cadeira deste e colocou a mão nos ombros dele. 

Este nada disse, mas todos o olharam encarando a superfície negra e impenetrável de seu capacete.

— Bom, o que acontece é que 421 é um membro de uma linha mais antiga. Ele já tem mais experiência do que vocês, já serviu a corporação por um tempo.

— Pensei que os membros que já serviram a corporação fossem removidos. — Afirmou 689 interrompendo-o. 

— Sim... mas 421 ficou perdido em um planeta, e foi recentemente resgatado, passando por inspeção e um processo de reintegração. E nós, da corporação percebemos, que com a ajuda de 421 e seu conhecimento, podemos recuperar linha espaciais perdidas, bem como planetas que foram deixados de lado devido... — fez uma pausa longa — devido a certos inconvenientes.

A palavras "inconvenientes" fez 421 se remexer na cadeira. 

— Entendo... então nós seremos uma equipe de restauração de linhas antigas? — Perguntou 689. 

— Sim, exato. 

Todos voltaram a olhar para a folha em silêncio. 

"Mas que merda... eu não sei porque, mas não sinto algo bom desse contrato."

— E se nós não assinamos? — 690 falou enquanto remexia nervosamente os dedos. 

— Vocês são livres, não estamos obrigando-os a nada. Se escolherem não assinar, voltarão ao setor de treino. 

Mesmo com essa resposta, que desagradava a todos os Celes ali presentes, nenhum deles pegou na caneta.

— Certo, mas uma coisa ainda não ficou clara. Porque nós? Porque nós fomos escolhidos? — 673, que até o momento estava em silêncio, questionou firme o supervisor. 

A questão não havia passado pela cabeça de todos, mas agora que era dita, tornava-se essencial. 

— Bom, vocês foram os que tiveram resultados de maior compatibilidade com o Celes 421, por isso os colocamos na equipe dele. Caso não queiram assinar, vocês voltarão a ala de treino, para uma nova equipe, e 421 aguardará até outros com compatibilidade semelhante. 

Ao ouvir isso, 421 pegou uma caneta que foi entregue junto do contrato, e o assinou colocando seu número no fim da folha. Agiu 

Isso fez a pressão aumentar, pois caso um deles não assinasse, todos os outros seriam penalizados e voltariam para o treino. 

689 sentiu uma gota de líquido percorrer seu pescoço. Sua perna se agitou batendo no chão para sim e para baixo. Pegou a caneta, mas logo depois a soltou. Ouviu o som de outra caneta riscando a folha, era 673 que assinava. Logo depois, 690 assinou também, tão rápido que os números dele quase não poderiam ser lidos. 

Agora o único que restava era 689. 

Todos olhavam para ele. 

O coração batia nos ouvidos, escapando pela boca. 


Scanner: alerta!

Sinal vital alterado!

ECG 131 bmp


Pegou a caneta. Assinou seu número. O coração foi se acalmando. Olhou para os colegas, e pensou que mesmo não podendo ver seus rostos, sentia-os sorrindo. 

Mas o supervisor era o mais contente de todos. Ele aplaudiu o grupo. 689 não soube dizer porque, mas sentiu medo daquela grande felicidade.

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