Capítulo 4 - Tutorial de como cavalgar com segurança

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Sento-me de frente para a camera do meu celular no tripé enquanto ainda penso se o texto que elaborei mais cedo é capaz de convencer alguém de que eu realmente estou arrependido de ter dito aquelas coisas.
Estou vestindo uma roupa branca sem estampa nenhuma, com poucos acessórios e com o cabelo perfeitamente penteado. Também optei por escolher o canto do meu novo quarto que mais passe a vibe de "ainda estou no meio do nada e estou bem com isso.". Pensei em dizer que só estava brincando, mas isso soaria bem idiota, pra falar a verdade. Me ajeito sentado na cama e respiro fundo para então começar a falar.

-Bom, pessoal... eu decidi aparecer aqui para me pronunciar sobre um assunto que todos vocês provavelmente estavam esperando...-Pauso a gravação após as palavras sumirem da minha mente.-Porra...-Me estico para pegar a folha de papel do outro lado da cama e reviso mais uma vez. Posso resolver isso na edição mais tarde.-Vocês não imaginam o quanto eu estou devastado... passei o dia inteiro chorando hoje... pensando em como evoluir como pessoa e procurando fundações e orfanatos de pessoas pob... carentes! para doar...-Paro a gravação mais uma vez.

Acho que falei sobre doações muito cedo, isso vai ficar genérico de mais. Eu nunca pensei em como agiria se fosse cancelado um dia, mas, até onde eu sei, todas as celebridades fazem assim quando isso acontece.
Pego o papel para fazer algumas alterações e começar a gravar tudo de novo.

Duas batidas na porta do quarto atrás de mim me atrapalham. Ignoro e sigo escrevendo numa nova folha da agenda com data de vinte anos atrás que encontrei em uma das gavetas. Voltam a bater. Suspiro com impaciência antes de responder. Será que ninguém entendeu a gravidade da situação ainda?!

-Tá aberta!-Digo, arrancando meu celular do tripé na minha frente.

-Holden, seu avô pediu para te chamar para o jantar.-Diz Judy, como sempre num tom de voz muito calmo.

Olho o horário no relógio de parede. Passou tão rápido, já são quase oito.
Ainda não vi o vovô depois de tudo o que rolou mais cedo, ele não estava no almoço. Quando perguntei por ele para Judy, ela disse que demorei de mais por lá... e que haviam chances dele estar aborrecido comigo.
Colt me trouxe para casa. Pelo visto ele não é muito de conversa, só disse que eu dei um baita prejuízo. Eu dei de ombros no banco do fundo. Sei que estou errado, bem errado por sinal, mas admitir ou me lamentar pra ele já é de mais.

-Diga que tô indo.-Respondo, me preparando para levantar.

No fim, a minha busca incessante por Wi-Fi acabou me ferrando. Eu nem tenho mais idade para isso, mas pode ser que o coroa decida me deixar de castigo. Considerando as possibilidades, não sair do quarto não faria diferença, então não me preocupo muito. A única coisa que poderia me deixar aflito seria se eu fosse obrigado a ficar aqui para sempre.
É a primeira vez que saio do quarto desde o meio dia, desse horário para cá não vi ninguém, só fiquei bisbilhotando e passei horas tentando pensar em como produzir o vídeo de desculpas mesmo.
Aparentemente, o quarto no qual estou hospedado agora pertenceu ao meu pai um dia, encontrei fotos dele em sua adolescência dentro de um guarda roupas velho, entre medalhas e troféus de rodeios guardados neste também. Tinha até uma foto com a minha mãe, o que significa que (por incrível que pareça) não foi um caso de uma noite só que me trouxe ao mundo.

Quando termino de descer as escadas, o silêncio paira sobre os corredores até chegar na sala de jantar. O vovô está sozinho na mesa imensa, sentado em uma das pontas, assim como eu estava mais cedo. A Judy me disse que há anos ele senta-se sozinho nessa mesa. Sua única companhia é um copo de uísque.
E então percebe a minha presença.

-Holden! Sente-se!-Diz, com um certo entusiasmo.

Eu fico confuso. Ele não deveria estar puto comigo ou algo assim? pensei que jogaria um prato na minha cara assim que eu aparecesse por aqui. Fico parado por alguns segundos processando.

Indomável (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora