Meu presente de Natal é Você

CAPÍTULO 1

Aurora Holly Noel corria tão rápido pelas ruas da Vila de Kringe que poderia até ser comparada com Relâmpago, a rena mais veloz do trenó de seu pai, mas ela não tinha outra opção, afinal, o que aconteceria se o Papai Noel se esquecesse de realizar o pedido de uma das cartas que ele havia recebido? Ela não queria saber a resposta dessa pergunta.

Era por isso que mesmo sentindo suas pernas queimarem e a respiração falhar a cada passo, a jovem se esforçava para manter sua velocidade e desviar dos elfos e renas o mais rápido que conseguia.

Ao finalmente avistar o trenó de madeira, já pronto para começar o voo, e as duas figuras com o casaco e a calça de veludo vermelho típicas para a viagem, a jovem aumentou a sua velocidade, se desgastando mais do que achava ser possível, e começou a gritar a plenos pulmões.

—Pai!— A voz de Aurora se fez presente na pista de decolagem, e provavelmente ecoou por todo o Polo Norte— Pai! O senhor esqueceu uma carta!

O homem congelou em cima do trenó ao ouvir a voz de sua filha, puro pânico dominando sua expressão facial, seu irmão teve a mesma reação e logo estava pulando do veículo e aterrisando seus pés na espessa camada de neve. O pai deles, Nicolau, logo soltou as rédeas do trenó, e com agilidade, já que era um homem de quarenta e cinco anos e não um idoso como a indústria insistia em mostrar, pulou do trenó e se aproximou de sua filha.

—Holly, como assim esquecemos uma carta?— Ele perguntou em pânico para a jovem de dezoito anos, que finalmente pôde parar de correr.

A menina se apoiou em seus joelhos para recuperar o fôlego, os pulmões e pernas queimando tanto que ela mal conseguia respirar, ao abaixar a cabeça, uma cortina de cabelos brancos e lisos caiu sobre seu rosto, impossibilitando que ela olhasse diretamente para o pai enquanto falava.

—Esquecemos...uma...carta— Ela tentou dizer, arfando em cada palavra, o cansaço pela corrida ainda perceptível em sua voz.

—Mas, quem é a criança? O que ela pediu? Como vamos arrumar o brinquedo em cima da hora? Faltam cinco minutos para a decolagem! Santa Aurora Boreal, o que vamos fazer?— Seu irmão, Klaus, começou a perguntar afoito.

O desespero era notável na voz dos homens, que lançavam uma pergunta atrás da outra para a menina. Nicolau era o tipo de pessoa que se desesperava no mínimo sinal de adversidade, e Aurora havia puxado essa mesma característica dele, e foi por entender esse sentimento que ela se esforçou para erguer o corpo, jogando o cabelo branco para trás e olhando diretamente para seu pai à sua frente.

Assim como ela e Klaus, Nicolau tinha a barba, cabelos, e sobrancelhas, em um tom de branco tão puro que poderia até ser confundido com a neve, uma característica presente em toda a linhagem da família Noel, sua mãe era a única que não possuía tal particularidade, na verdade, Aurora até invejava os cabelos pretos em estilo black power e a cor de pele escura da mãe, Noelle.

—Elliot Belmonte Sanchez— Aurora disse, o fôlego já parcialmente recuperado— Dezenove anos, Rio de Janeiro, Brasil. A carta dele é um código 5.

Klaus olhou para a irmã com curiosidade, ele tinha certeza que todas as cartas de código cinco haviam sido checadas por ele mesmo, e nenhuma havia ficado para trás.

—Tem certeza disso Aurora?

—É claro que tenho certeza— A jovem murmurou para o irmão de vinte e três anos— Tome, veja você mesmo.

A menina retirou a carta de seu bolso e entregou para o irmão, que a pegou com agilidade e logo a abriu, chegando mais perto do pai para que ele também pudesse enxergar.