Vespa

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Vespa

E Luca fechou.

Ele ouviu Alberto caminhar para longe dele e então o som de um pano grosso sendo arrastado, e sua curiosidade estava quase falando mais alto do que sua obediência em manter os olhos fechados. 

Alberto ficou mais alguns segundos em silêncio antes de respirar fundo. 

— Ok... Pode abrir. 

Quando Luca abriu os olhos outra vez, ele teve dificuldades para compreender o que estava vendo. 

Ficou encarando o objeto verde-água brilhante, reluzindo contra o sol, tentando se fazer acreditar que era... 

Então seu peito transbordou em emoção e o nariz pinicou até que os olhos estivessem cheios de lágrimas. 

— É...? — perguntou, incerto, apontando um dedo incerto para o objeto como se ele fosse um animal ameaçador e estivesse prestes a atacá-lo. 

— É, é a nossa Vespa — Alberto respondeu, contente e orgulhoso, as mãos fechadas em punhos na cintura e o peito estufado. 

Mesmo que tivesse recebido a confirmação, Luca não podia acreditar que aquela ali era a mesma Vespa que ele e Alberto haviam comprado seis anos atrás com o dinheiro da Copa Portorosso. 

Ela estava simplesmente linda, mais ainda do que quando a compraram. Parecia nova em folha, saída diretamente da fábrica e dada de presente para Luca. 

Ele se aproximou com passos lentos, tocando no guidão dela com reverência. 

— Mas você não tinha...? 

— É, eu vendi ela para comprar sua passagem para Genova. Mas depois que você se foi, eu... Eu percebi que não tinha nada seu aqui comigo. Nada nosso. Que me faria lembrar de você e de tudo o que passamos juntos quando eu estivesse sentindo sua falta. Então decidi comprá-la de volta. Mas, bem, foi muito difícil. 

Alberto riu como se lembrasse com amargura de tempos horríveis, e Luca olhou para ele ao sentir a primeira lágrima escorrer. Alberto sorriu mais docemente. 

— Acontece que o homem para quem eu vendi não queria vendê-la de volta para mim porque eu não tinha dinheiro, e disse que venderia para um homem muito rico que vem para Portorosso uma vez por ano. Ou algo assim. Não é importante. O importante é que eu falei para ele não fazer isso porque eu a queria de volta, então fiz um acordo: ele iria me dizer o valor que queria por ela e a manteria com ele, e enquanto isso eu trabalhava para ele pra conseguir a grana. 

Enquanto ele falava, Luca passeava os dedos gentilmente pela Vespa; o guidão, o banco de couro, as rodas novas. Ele ainda mal conseguia acreditar que a tinha de volta. 

— Mas o patife era esperto e cobrou quase três vezes o valor que nós pagamos por ela pela primeira vez — Alberto cruzou os braços em indignação e Luca riu, secando os olhos na manga da blusa. 

— Com esse dinheiro todo você poderia ter comprado uma Vespa nova, Alberto. 

— Mas eu não queria uma nova. Queria a nossa. Eu só demorei esses anos todos para comprá-la de volta. Só consegui juntar toda a quantia quando você foi para a escola na última vez, então passei o ano inteiro reformando ela. 

— E ela ficou maravilhosa. 

O moreno se aproximou e pegou uma de suas mãos, olhando profundamente em seus olhos. 

— Seis anos atrás, Luca, eu te fiz uma promessa. De que seria apenas eu e você viajando o mundo em nossa Vespa, conhecendo lugares novos todos os dias e dormindo sob as anchovas todas as noites. Hoje, eu finalmente posso começar a cumprir essa promessa. 

As lágrimas voltaram aos olhos de Luca e ele abraçou o moreno outra vez, forte e apertado. 

— Você não precisava ter feito tudo isso, Alberto. 

— Precisava. Quando você foi embora pela primeira vez, eu... Eu tive tanto medo. Medo de que você não voltasse. De que eu te perderia para sempre e não teria nada para me lembrar de você. Medo de que nunca poderia cumprir minha promessa e realizar o nosso sonho. 

— O Bruno te dizia que eu iria para Genova, faria novos amigos, construiria uma nova vida e te esqueceria? 

Alberto não respondeu, apenas o apertou mais forte. Luca apertou sua bochecha contra a dele. 

— Bem, eu realmente fui para Genova, fiz novos amigos e construí uma nova vida. Mas... — se afastou para olhar nos olhos verdes. — Eu jamais te esqueceria, Alberto. E nada do que eu construí lá poderia um dia sequer substituir o que eu tenho aqui. Substituir você. 

Os olhos de Alberto marejaram, mas em seguida ele fungou e sorriu, balançando a cabeça para Luca. 

— É bom mesmo, porque eu não poderia te deixar ir de vez. Já é uma tortura para mim ficar longe de você por tanto tempo, Luca... 

Ele falava baixinho, sua testa encostada na de Luca, eles se observado através das pálpebras quase fechadas. 

— É uma tortura para mim também. E é por isso que você não foi o único a pensar em uma surpresa. 

O moreno se afastou, olhando surpreso para Luca, que riu encabulado ao coçar a cabeça. 

— Bem, eu... Eu meio que posso ter juntado dinheiro todos esses anos para poder viajar com você pela Itália e... 

— Como é?! 

— ... e posso já ter preparado um itinerário para eu poder te apresentar todos os lugares mais legais e importantes do país. Surpresa. 

Alberto abriu e fechou a boca por um momento, sem fala, e então pulou animado. 

— E o que nós estamos esperando?! 

— Bem, nós temos que aprontar nossas mochilas com roupas e outras coisas... 

— Luca, não precisamos disso. 

— Precisamos sim! Precisamos de roupas adequadas e documentos e... Ah, é, temos que avisar todo mundo... 

— Luca. 

Alberto o puxou pela cintura de encontro ao seu corpo, sorrindo daquela maneira convencida e preguiçosa. 

— Confia em mim, nós não precisamos dessas coisas. Só precisamos um do outro. Eu faço o que der na telha, lembra? 

— Lembro muito bem. 

— Então foge comigo. 

Luca sorriu abertamente, sem nem ao menos pensar duas vezes antes de acenar em concordância. 

— Mas nós ainda precisamos das moch... 

Mas Alberto rolou os olhos e o calou com um beijo roubado. 

— Ok, podemos pegar as mochilas à noite. Mas, agora, eu já sei qual vai ser o primeiro ponto da nossa viagem. 

— E qual é? 

— É a terceira parte da surpresa. 

Sob as Anchovas - Alberto x LucaTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang