Capítulo 20

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Os dias passaram rápido, tivemos outros três jogos e o próximo seria o nosso primeiro eliminatório. A minha ansiedade já estava gritando e independente do que eu fizesse, nada me fazia esquecer do jogo de amanhã.

Gabe tinha saído pra comprar algumas coisas e eu estava em casa terminando de arrumar as malas, minha playlist tocava baixinho e eu acompanhava a batida com a cabeça, mas de repente a música para.

- Alexa... tocar playlist Game Day no Spotify. - Grito e espero por resposta, porém nada acontece.

Irritado, eu caminho até a sala e procuro o que tem de errado com o aparelho e sem encontrar, a minha atenção foi roubada por inúmeras notificações no meu celular. Confiro meu instagram e várias pessoas desconhecidas me mandavam mensagens de ódio e me xingavam.

- O que... - Comento confuso.

Entro no aplicativo de mensagens e no mesmo momento Blake me liga.

- Cara, onde você tá? - Ele pergunta com a voz apreensiva.

- Eu tô em casa, o Gabriel saiu. - Explico devagar. - O que tá acontecendo?

- Não entra nas redes sociais e não posta nada, pelo amor de Deus, escutou o que eu disse ? - O treinador grita me deixando com medo.

- Tá, mas me diz o que rolou. - Peço sentindo minha respiração pesar.

- Alguém do Jornal da Universidade descobriu sobre o seu problema com as drogas no ano passado. Eles fizeram uma matéria sobre você. - Blake diz e fica em silêncio. - Eu só te peço pra ficar longe da internet e ficar no jogo que nós temos amanhã.

- Ok, mas o quão ruim foi a matéria? Eles não mentiram, né? - Questiono passando a mão pelo rosto.

- Os filhos da mãe aumentaram a história, tem até depoimentos do filho do prefeito. - É aí que sinto sua voz falhar.

O medo e a apreensão tomam o meu corpo, passo alguns minutos em silêncio e Blake grita do outro lado da linha.

- JUAN, GAROTO VOCÊ TÁ ME OUVINDO?

Não consigo responder, apenas desligo a chamada e entro no site do Jornal da Universidade. Estava lá, a minha foto como capa da semana e uma manchete mentirosa no topo.

"Astro do Toronto Team, Juan Maria, esconde uma personalidade agressiva ou seria isso reflexo do uso abusivo de drogas? "

Eu mordo os dentes com raiva e leio a matéria até o fim, aquela história inteira estava sendo contada de maneira errada, eu não era aquele monstro incontrolável que diziam.

Outras mensagens aparecem descontroladamente na minha tela e sem querer clico em uma delas.

"Seu merda, eu até acreditei em você, mas sua mentira não duraria pra sempre." - Dizia um garoto.

"Porque não para de jogar? Drogados não podem participar do Estadual." - Enviou outra pessoa.

" O basquete dele é péssimo e pelo visto como pessoa ele é do mesmo jeito."

"Lixo, você não vai ser nada!! "

Essas são só algumas que eu consigo ler antes da página atualizar e novas mensagens aparecerem. Cenas da noite da briga aparecem na minha cabeça e eu aperto os olhos tentando conter, mas eu lembro do barulho, da gritaria, das luzes, de tudo.

Senhor, por que tudo isso agora? Eu já tinha lidado com essas questões do passado, mas parece que eles voltaram com ainda mais força. As palavras duras que escreveram sobre mim se repetem na minha mente e meu corpo treme.

- Eu não sou assim, é mentira, é mentira. - Repito puxando o ar com força.

Tudo em volta escurece e eu não consigo mais respirar, é desesperador, minha cabeça dói, sinto vontade de chorar.

- socorro. - Peço com o resto de força que tenho e me sento no chão.

Eu afasto a gola da camisa e tento a todo custo respirar, consigo enxergar a porta a alguns metros e me arrasto até lá.

- Juan... - Alguém chama.

- Me ajuda, por favor me ajuda. - Imploro tentando abrir a porta.

- Hãn, Juan tá tudo bem? - Finalmente reconheço a voz Samyra e fico esperançoso.

Tento mais uma vez girar a chave e destrancar a porta, quando consigo eu só abro e vejo a moça entrar assustada.

- Ei, olha pra mim. - Samy pede segurando meu rosto entre as mãos. - Por favor, fala comigo.

- Eu... eu não consigo respirar. Meu peito tá doendo. - Confesso lentamente encarando seus olhos.

Samyra me olha com ternura e se senta comigo no chão, ela toca minhas mãos e eu sinto sua palma quente contra a minha.
Fecho os olhos e obedeço o que ela dizia respirando fundo várias vezes e apertando suas mãos.

- Isso, você tá indo bem. Continua respirando assim pra mim. - Ela pede pacientemente e eu me encosto na porta sentindo os tremores diminuírem.

- Não vai embora, por favor não me deixa aqui. - Peço abrindo os olhos e vendo seu olhar preocupado.

- Eu não vou a lugar nenhum até você ficar bem. - Diz entrelaçando nossos dedos.

Não sei ao certo quanto tempo ficamos trocando pequenas frases, mas quando finalmente me sinto bem lá fora está escurecendo.

- Como você tá? - Samy pergunta baixinho.

- Agora, bem. - Confesso sorrindo amarelo pra ela. - Desculpa por te assustar com isso.

- Para Juan, você não me assustou, eu só fiquei preocupada. - Ela diz se levantando e colocando o cabelo atrás das orelhas. - Onde posso pegar água?

- Tem alguns copos no armário branco e água na geladeira. - Direciono observando ela de longe. - O que vinha fazer aqui?

- Eu não lembro, só sei que queria falar com você. - Avisa me entregando o copo d'água.

- Obrigado por vir e por me ajudar. - Ela sorri e eu me levanto, olhando pra ela do jeito que me acostumei, de cima.

- Qualquer vizinho faria isso.

- Ah vai por mim, não mesmo! - Digo balançando a cabeça negativamente várias vezes. - Eu tive sorte grande de ter uma futura médica por perto.

- Doutora Samyra Rodrigues estava de plantão. - Ela brinca com as mãos na cintura feito uma super heroína me fazendo rir.

Curado Pelo Amor | Romance CristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora