Capítulo 6

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Passaram algum tempo abraçadas sentindo a presença uma da outra, os cheiros, a pele, ouvindo os corações que seguiam agitados. A cena era bonita, dessas que você sente e sabe que há amor, todavia era triste porque você sabe também que há muito mais além de amor, existe o amigo da dor e de um coração frágil que foi partido em milhares de pedaço... O amor por se só não basta quando o mundo está desabando, é preciso um bom abrigo, é preciso paz, é preciso não ter medo de quem está ao lado... e Valentina tinha medo de Luiza. Medo que ela no segundo seguinte comprasse uma passagem para qualquer lugar do mundo e a deixasse cair novamente, antes mesmo de estar em pé. Luiza também tinha medo, mas não de deixar Valentina outra vez e sim de que nunca pudesse se reaproximar de verdade, que nunca pudesse tê-la em seus braços novamente.

É preciso ter força para reconhecer os erros, pedir perdão e independente do que acontecer ainda seguir em frente. E Luiza era forte, pediria perdão quantas vezes fossem necessárias e caso nada mudasse, ela seguiria sua vida, doeria como feridas abertas, mas seguiria, não poderia estragar a vida da mulher que amava outra vez, mas seu coração estava obstinado a ter Valentina novamente.

Quis passar muito mais tempo abraçada a Valentina, mas a mesma se afastou minimamente e Luiza permitiu a quebra no contato, não iria forçar mais nada do que já estava. Valentina não queria levantar os olhos vermelhos e encarar Luiza, mas sabia ser necessário mesmo que sua vontade fosse sair correndo sem olhar para ela. A garganta estava seca e sentia-se tão vulnerável em frente aquela mulher. Estava em êxtase, depois de tanto tempo, sentiu o calor de seu corpo e seu cheiro e por alguns segundos seu coração se perdeu em si mesma e esquecendo da dor latente que ela havia causado. Por outro lado Luiza só queria poder abraça-la novamente e beijar sua boca como se jamais tivesse deixado de ser sua, como se alguém jamais tivesse a tomado para si. Não ousou fazer nenhum movimento também, ficou estática em frente a médica observando sua postura um pouco curvada e de cabeça baixa. Os cabelos estavam formando leves cachos como eram normalmente, tão suaves e cheirosos. Percebeu que ela havia deixado que eles crescessem e mantido a cor natural deles. Luiza amava cada detalhe sobre a médica.

-Eu preciso ir... - Sua voz saiu esganiçada e a mesma forçou a garganta. Luiza soltou um suspiro pesado ao ouvir.

- Valentina, eu... É... Bom, fica só um pouco mais... - Luiza não sabia o que dizer ao certo, não tinha porquê Valentina continuar ali, mas ela queria tanto que ficasse, que pudesse admirar mais sua beleza e sentir seu perfume de perto. Valentina ergueu a cabeça ao ouvir a voz instável e olhou em seus olhos buscando um resquício de dúvidas, mas não havia... Só encontrou o olhar de alguém que também estava vulnerável e com medo.

- Eu não posso... Não posso ficar aqui. Não voltarei a te procurar e acredito que seja melhor ficarmos distantes. - Respirou fundo e focou em qualquer ponto atrás de Luiza para não encarar-la. - Não me procure também por favor... Eu, eu estou noiva e não seria apropriado. Desculpe pela visita inesperada, eu não sei o que deu em mim de aparecer aqui e te confrontar dessa maneira, você não me deve nada... - Engoliu um pouco forçando a garganta a continuar. - Nem respostas e muito menos o desconforto de quaisquer imposições minhas. Perdão, eu nem deveria estar aqui, Luiza. Foi um erro! Me desculpe!

Valentina disse tudo em um fôlego só e Luiza não sabia o que responder. Ela estava certa afinal de contas, não poderia fingir que estava livre e simplesmente ceder ao seu coração fraco e apaixonado. Era uma mulher e jamais machucaria Nathalie de propósito. Não permitiria ser fraca e já bastava ter sido tão imatura e frágil de aparecer no ateliê de Luiza sem avisar, inquirir-la sobre coisas que não lhe cabiam e ainda ceder a vontade de toca-la. Havia feito tudo a qual sua razão se opunha, tinha agido sob efeito de seu coração e agora se arrependera. Luiza sacudiu a cabeça levemente em concordância quase tentada a acreditar no Valentina dizia, se seus olhos pequenas lágrimas rolaram e se forçou a manter-se em pé. Não tinha o direito de se aproximar, ou, forçar sua presença na vida da médica, não queria ser motivo para mais dores... Mas não poderia calar seu coração que gritava por aquela mulher, que era completamente louco e apaixonado por ela. Não poderia ignorar aquela força e poder de um sentimento que nunca lhe abandonou. Mas no momento não poderia fazer mais nada, pois até suas forças haviam a deixado um pouco...

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