Nasceu e...

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Juliette começou com leves contrações e eu levei-a para o hospital de Morrinhos.

A obstetra foi informada e já estava à nossa espera.

Depois de ser observada foi conduzida à sala de partos.  Eu vesti a bata, luvas, sapatos e touca e logo estava junto dela.

Durante a gravidez não quisemos saber o sexo do bébé.  Queríamos ser surpreendidos na hora do parto.

Escolhemos o nome de Raffael para rapaz e Valenttina para menina.

Ao fim de meia hora de trabalho de parto a médica anunciou.

- Bem-vindo Rafael.

Eu e Juliette chorámos quando o bébé veio para o peito de Ju.  Lindo, cabeludo e gordinho.

- Amor ele é tão lindo,  disse eu beijando a testa dela.  No entanto achei-a gelada.

- Doutora, a Ju está bem?

- Temos uma hemorragia para estancar.  Por favor levem o bébé.  A Juliette para a sala de cirurgia por favor.

Eu fiquei em pânico.  A Ju foi levada e não me deram mais explicações.

Já se tinham passado 2 horas desde que Raffael nasceu e eu não tinha notícias.
Permitiram que eu fosse ao berçário ficar um pouco com Raffael.  Da Ju nada.

Eu andava de um lado para o outro no corredor do hospital quando veio a médica.

- Rodolffo,  estancámos a hemorragia,  mas, temo que não tenha sido suficiente.   A Juliette vai agora para o quarto mas depende das próximas 24 horas o facto dela ser ou não operada novamente.

Se for este o caso vocês ou no caso dela não poder, o Rodolffo tem que tomar a decisão da retirada do útero dela.

- Eu?  Eu não posso tomar essa decisão.   Ela é que pode.

- E se ela não tiver condições de decidir?  Por isso vamos esperar 24 horas.

- Pode esperar no quarto por ela.  O Raffael só vai mais tarde.

Trouxeram Juliette desacordada devido à quantidade de antibiótico e eu fiquei à sua cabeceira rezando para que tudo desse certo.

Helena tinha chegado com minha mãe e eu fui com elas ao berçário.

- Tão lindo mano.  Tão perfeitinho.

- A médica disse que ele está muito saudável.
Eu tenho medo pela Ju, mãe.

- Calma.  Tudo vai passar.  Ela vai reagir.

Elas foram embora e eu voltei para ao pé da Ju.
Puxei uma poltrona para junto da cabeceira e ali fiquei segurando a sua mão.

Durante a noite as enfermeiras vinham verificar os aparelhos e substituir a garrafa de soro.

- Senhor! Pode deitar-se naquela  cama vazia.  Ali descansa melhor.  Ela só deve acordar de manhã.  Os sedativos são fortes.

- Obrigado.   Eu fico aqui mesmo.  Se eu tiver necessidade eu uso a cama.

E passei a noite na poltrona.  Entre um cochilo e outro eu apertava e dava beijos na mão dela.

Já de madrugada senti a mão dela mexer.  Chamei-a baixinho e ela foi abrindo os olhos.

- Amor, como te sentes?

- Eu estou tão cansada.  Mal consigo abrir os olhos.  O Raffael?

- Está bem.  Está lá no berçário para tu descansares.

- Porque eu tenho estes aparelhos todos ligados?

- Tiveste uma hemorragia.  Só precisas de descansar.

- Não dormiste?  Não saíste daqui?

- Nem vou sair enquanto não estiveres bem.

- Vou dormir mais um pouco.

Entretanto entrou uma enfermeira que veio aplicar nova dose de medicação.

- Já vi que a mamãe acordou.  Como está Juliette?  Tem dores?

- Não.  Só sono.

- É normal.  Durma.  Sabe que tem um menino muito lindo?  E um garotão.

- Sim.  Foi só o que Ju respondeu.

Depois da enfermeira sair, Rodolffo beijou a Ju e aconchegou-a para ela voltar a dormir.   A seguir recostou-se um pouco mais sossegado e também adormeceu.

Acordou sobressaltado com os aparelhos a apitar.  Duas enfermeiras vieram a correr e depois de verificarem tudo levaram Juliette.

A médica veio chamar Rodolffo e explicou que realmente a cirurgia era necessária uma vez que a hemorragia tinha voltado.

- Rodolffo,  a Juliette está acordada.   Entre e converse com ela.  Precisamos que um de vocês assine o termo de responsabilidade para a retirada do útero dela.

Rodolffo entrou.  Juliette chorava pois já estava informada.

- Eu não quero.  Eu quero ter outro bébé.

- Amor, já temos o Raffael.   É da tua vida que se trata.  Se não resistires quem vai cuidar dele? 

- Tu cuidas.

- E de mim quem cuida?  E não quero que te aconteça nada.  Por favor sê razoável.

- Não quero.

- Eu vou dar autorização.   Não estás a pensar direito.

- Depois vou sentir-me vazia.

- Não digas isso, continuarás a ser uma mulher espectacular e eu amar-te-ei ainda mais.  Por favor.  Por mim e pelo Raffael.

- Pergunta à médica se posso vê-lo antes da cirurgia.

Rodolffo foi falar com a médica e ela consentiu mas que a visita fosse rápida.

Trouxeram o bébé e Rodolffo colocou-o ao lado dela.

Juliette fez carinho na bochecha dele e beijou a cabeça.

- A mamãe nem pode dar tété meu amor.  Desculpa bébé.

Juliette chorou e levaram o Raffael.

Rodolffo deu um beijo na Ju e saiu para assinar os documentos que autorizavam a cirurgia.

Como estava há muitas horas sem comer foi até à cafetaria.  Ele sabia que a cirurgia ia ser demorada, então tomou o café da manhã antes de regressar ao quarto para esperar por ela.

Ao fim de muito tempo, para ele foi uma eternidade, Juliette regressou ao quarto ainda ligada aos vários aparelhos.

Rodolffo saiu para conversar com a médica que o informou de que o problema foi resolvido sem necessidade de retirar o útero.  Fizeram uma pequena correcção de uma má formação que estava a provocar as hemorragias.

- A Juliette vai dormir pelas próximas 5-6 horas.  Se quiser pode ir a casa descansar e voltar.

Rodolffo foi para casa da irmã depois de passar no berçário. Precisava de um bom banho e uma soneca.  Se conseguisse descansar 2 horas seria bom.
Pediu a Helena que o acordasse se ele dormisse muito.
Queria regressar antes dela acordar.

A verdade é que depois de banho ele deitou-se na cama e simplesmente apagou.






Tapera caídaWhere stories live. Discover now