Capitulo 4: Desculpe, você disse... fita adesiva?

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— ... Você teria fita adesiva... Lilian...— Eu fechei a porta rapidamente, impedindo-o de dizer mais alguma coisa, e encostei minhas costas nela, deslizando até me sentar no chão. O que ele está fazendo aqui?

Eu me vi petrificada diante da porta entreaberta, a voz de Mark ainda ecoando em minha mente. Ele estava ali, do outro lado, onde eu não esperava encontrá-lo. Meu corpo agiu por instinto, fechando a porta antes que qualquer outra palavra escapasse de seus lábios. Encostei-me nela, sentindo o impacto, deslizando até me encontrar sentada no chão, minhas costas apoiadas firmemente contra aquela barreira.

O ar que enchia meus pulmões parecia fugir em uma tentativa desesperada de manter a calma. Mark, aquele nome que guardava um turbilhão de emoções, aquele que desencadeava um misto de confusão e nostalgia. A presença dele na minha porta revirou um baú de sentimentos que eu acreditava ter selado com firmeza, guardado bem longe do presente.

Mahara, percebeu minha mudança e virou-se para mim, perplexa com a imagem que eu apresentava, sentada no chão como se tentasse fugir de algo invisível.

— O que aconteceu? Outro fantasma te assustou ou o George está aprontando de novo? — Mahara questionou, seu tom preocupado, mas brincalham ecoando no quarto.

Tentei encontrar as palavras certas para explicar o inesperado encontro, para desvendar a tempestade de sentimentos que me invadia.

— Mahi, é o Mark. Ele está aqui... — Sussurrei, revelando a avalanche de emoções que tomava conta de mim.

O olhar surpreso de Mahara refletia a perplexidade que eu mesma sentia.

— O quê? Mark? Como assim? — Mahara parecia tão chocada quanto eu.

Enquanto tentávamos compreender o significado daquela visita, uma batida suave na porta interrompeu o tenso silêncio do quarto.

— Desculpe incomodar. Eu... eu sei que talvez tenha sido surpreendente. Acredite, estou tão surpreso quanto você. — A voz de Mark ecoou do outro lado da porta, tingida por arrependimento e incerteza.

Respirei fundo, tentando acalmar a turbulência de pensamentos. Ergui-me devagar, determinada a enfrentar aquela situação com serenidade. Abri a porta e me deparei com ele: os cabelos castanhos ondulados, os olhos escuros que um dia conheci tão bem. Ele, que encerrou tudo com um gélido "eu quero terminar" por mensagem, sem mais explicações.

— Desculpe, você disse... fita adesiva? — Tentei retomar o controle, manter a calma apesar do furacão de sentimentos que se agitava dentro de mim.

— Ah, sim, fita adesiva. Preciso montar um móvel que quebrou e esqueci a minha. Desculpe se te surpreendi. Você está bem? — Percebi o esforço dele em ser cortês, mas uma tensão pairava no ar.

Balancei a cabeça, buscando manter a compostura.

— Está tudo bem, é só que... eu não esperava te encontrar aqui. — Minha voz soou mais firme do que eu imaginava. Ele parecia prestes a dizer algo, mas se conteve. — Acho que tenho fita adesiva, espere um momento — Afastei-me da porta e, após uma breve busca, retornei com um rolo nas mãos.

— Aqui está. Espero que sirva. — Estendi a ele, evitando seu olhar.

Ele pegou a fita, agradeceu com um aceno de cabeça e se preparou para sair, mas voltou-se para mim.

— Talvez... a gente possa conversar algum dia, se estiver disposta. Seria bom esclarecer algumas coisas. — Tentou adotar um tom conciliador.

Hesitei por um momento. A lembrança da forma abrupta como tudo acabou com Mark ainda estava nítida em minha mente. Encarei-o, vendo a sinceridade em seus olhos. Uma parte de mim ansiava por esclarecimentos, enquanto outra temia reviver o passado.

Metamorfases: O Retrato Lilian HarrisOnde histórias criam vida. Descubra agora