FERRAN

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Isla foi embora pela manhã

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Isla foi embora pela manhã.

Ela saiu da casa sem deixar rastros, exatamente como uma gata. Na surdina. E com culpa no cartório. Anos atrás era difícil se conformar em acordar e não vê-la ao meu lado quando vinha para a Espanha nos finais de semana, mas como não era novidade, não era um fator a ser estranhado. Deveria ter me conformado que essa era a sua natureza. De fugir. Se esconder. Reaparecer como um furacão para bagunçar a minha vida, e fugir de novo. Foi assim que a conheci e assim que continuaria a ser.

Mas descobri que não me acostumei a vê-la partir.

E talvez nunca me conformasse. As malditas perguntas ficavam martelando atrás das respostas que ela levou embora. Acendeu o fósforo na minha cabeça e deixou queimando. Não posso negar o significado que ela teve e continuava tendo. As memórias que fizemos em Ibiza. Os planos que, por criar falsas expectativas, fiz almejando que ela ficasse comigo. Isla pode ser uma desconhecida em partes, mas nenhuma outra deixou lembranças tão profundas quanto ela.

Tive o meu tempo com Sira. A acompanhei nos centros de equitação. Esteve nos jogos. Conheceu a minha família. A levei para Ibiza. Quase todas as coisas que a ruiva não fez ela fez, e por um momento pensei que fosse melhor do que o passado. Que a Martinez era completa e muito diferente das pontas soltas da alemã, mas percebi que o relacionamento estava me afundando em uma areia movediça.

Estive vislumbrado.

Agarrado e preso a fantasia de que o fato de Sira não esconder nada e sempre ter se mantido presente era o futuro que começou a dar certo. Não quis enxergar que estava seguindo pelo mesmo caminho de formar esperanças em alguém que também não iria ficar. Sira foi boa, mas não correspondeu na mesma intensidade.

Como alguém que não consegue enxergar além de um amigo.

A dor foi pior da segunda vez. Perfurou no mesmo lugar e mais fundo. Porque além de ter sido traído, o pensamento de ser insuficiente não ficou restrito apenas no trabalho. Não se tratava mais de passes errados e finalizações incompletas.

Atravessou o setor pessoal.

Senti que nada do que eu fazia era o bastante. Tanto na minha carreira como para as pessoas que amo. Cresci ciente de comentários negativos da mídia e de torcedores, e tentei dedicar o meu tempo em melhorar. Em aprimorar e provar que mereci estar em um clube grande em vez de um da terceira divisão que foi o que li em uma dessas opiniões públicas, mas não se tratava mais de cunho profissional. Atravessou as barreiras da imagem de jogador, e uma coisa dessas nunca aconteceria com o Gavi e o Pedri. Por mais que tentassem amenizar e estivessem do meu lado, nunca uma mulher os deixaria. Nunca os trataria como segunda opção por duas vezes seguidas. Alexia só foi embora de Tenerife por um mal-entendido arquitetado para os separar. Ficou claro que não fez por vontade própria.

End Game • Ferran TorresWhere stories live. Discover now