Capítulo 12

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Minha cabeça parou um pouco de doer.

Ontem quando cheguei me tranquei no quarto, peguei meus chocolates, me deitei, liguei o notebook e fui assistir a um filme. Isso ajudou a descontar toda a tristeza e, francamente, não sei se chorei mais por causa do filme ou por causa da minha situação.

Após dois anos, ele veio me dar uma explicação e quase falou as palavrinhas mais simples, porém com grande significado para mim.

Ontem eu quase fui destruída por minha mente e meu coração.

Minha mente levou-me para o seu lado sombrio e doloroso. Ela fez questão de fazer eu pensar e pensar no passado, presente e no que poderia ser diferente. Ainda me repreendeu por colocar uma muralha no meu coração.

 Meu coração bateu tão desesperadamente que pensei que morreria. Foi uma dor absurda dentro do peito como se a cada batida ele fosse aumentando de tamanho e força até poder finalmente explodir e quebrar a muralha. Meu coração me repreendeu por ser grossa com as pessoas e me afastar de umas com muita facilidade.

Saio do quarto e encontro a vovó sentada no chão da sala vendo algumas coisas que estão na mesinha. Ela parece super concentrada e feliz.

- Nina, está melhor?

- Sim -digo me sentando ao seu lado.

Falei para ela que minha cabeça doía horrores. Não tive coragem de falar da revelação do Lucas.

- Olha só as fotos que achei -diz.

Pego uma das fotos da mini Nina com a mini Thaís. Estávamos usando pijamas iguais e tínhamos o sorriso mais verdadeiro e brilhante que alguém poderia ter.

- Esse pijama de vocês era bonitinho -vovó me tira dos pensamentos.

- Bonitinho? Era lindo! Olha só os desenhos de animais -digo.

Ok, o pijama era bonitinho. Apenas um pouco chamativo com animais por todo o pijama.

Pego outra foto, essa é minha com meus pais.

- Pensei ter perdido esta foto -digo mostrando para a vovó.

- Ah, minha filha -suspira.

Ficamos um tempo olhando a foto.

A saudade que sinto deles é enorme. Meus pais: minha vida, meu tudo. Sempre juntos e felizes. Minha mãe era cantora na horas vagas e meu pai tocava violão com ela. Eles me ensinaram a cantar e a tocar, é triste pensar que não faço mais isso desde o dia que eles se foram.

Gostaria muito de ter minha mãe para contar sobre a complicação no trabalho e a confusão de pensamentos em minha mente. Ela daria os melhores conselhos e diria: "Siga seu coração, Nina. Às vezes parece que ele não diz nada, mas se você prestar atenção ele vai te dizer qual caminho seguir e saiba que estou aqui para te apoiar. Sua felicidade é a minha felicidade."

Gostaria de tocar violão com papai para a raiva passar e quem sabe ajudar ele a compor. Ele me daria conselhos também de como fazer no trabalho. Se eu falasse do meu ex e do rolo todo, ele provavelmente iria atrás para uma conversa entre dois homens. Não queria dar esse tipo de preocupação para ele. Papai diria: você é a melhor escritora no mundo todinho, minha filha! Vai conseguir sua inspiração natalina, afinal você ama o Natal e essa época de amor é inspiradora. Se não gostarem da história, o problema já é outro e não é seu. Sei que está bem difícil para você, mas momentos difíceis são essenciais para vida. Eles ensinam a gente.

Sinto falta deles -sussurro.

- Eu também -vovó me abraça.

- Vou pegar a foto e colocar ela no meu quarto, pode ser?

- Claro, é sua.

- Obrigada -desfaço o abraço. -Uau, quantas fotos e cartas.

- Todas minhas.

Pego uma carta e imediatamente ela é tirada da minha mão. Olho para vovó com surpresa e curiosidade, enquanto ela me repreende com seu olhar de "não se intrometa".

- Dona Cici, o que tem nessa carta?

- Nada demais, dona Nina -diz guardando a carta.

- Então por que não posso ler ela?

- Porque isso é privado.

- Agora minha curiosidade aumentou.

A vovó respira fundo e vejo seus olhos se iluminarem.

- Carta de amor que recebi do meu primeiro namorado -diz sonhadora.

- Do vovô? -pergunto e tudo que recebo é uma sobrancelha arqueada da vovó.

- Tenho cara de ter tido apenas um namorado na vida, Nina?

Fico em choque com a pergunta. Quem diria que dona Cici da confeitaria não teve apenas um namorado.

- Namorou quantos? -pergunto sem pensar.

- Quatro, contando com seu avô.

Abro a boca para falar, mas fecho.

Não sei o que dizer.

- E seu avô foi o único que durou mais de ano, foi assim que soube que ele era para sempre.

- Durar mais de um ano é sinal que será para sempre? -indago confusa.

- No meu caso, sim -diz e pega uma foto dela com o vovô. -Meus outros relacionamentos não duraram mais de um ano, embora eu estivesse apaixonada. Quando fiz um ano com seu avô fiquei esperando o término, mas não veio e a cada dia mais apaixonada eu estava. Fizemos um ano, dois, três e bum! Noivamos.

Minha vó era trouxa?

- Uau, que história -digo forçando uma risada.

- No fundo, sempre soube que meus antigos namorados não eram para ser. Faltava química, conexão e várias outras coisas.

- E foi o vovô que a tratou como merecia e lhe mostrou o lindo lado do amor -falo mais para mim do que para ela.

- É, foi seu avô -ela abraça uma foto. -Enfim, vamos?

Faço cara de confusa.

- Confeitaria, Nina!

- Sim, claro -digo mesmo sem saber o motivo de ir.

- Assar doces com as crianças, Nina -ela diz com raiva e se levanta.

Como eu pude esquecer? É hoje!

- Eu não tinha esquecido -grito vendo ela passar pela porta.

Nossa História de NatalDonde viven las historias. Descúbrelo ahora