seis - gwen

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Gwen Berkshire sempre foi muito inconsequente. Tinha o costume de sair escondido para fumar e beber sem que seus pais soubessem, gostava de usar roupas mais curtas e flertar com caras sem nenhum interesse em particular. Tudo isso mudou quando conheceu Josh Harvey, seu primeiro e único namorado, ela ficou mais quieta e feminina, largou os cigarros e começou a beber apenas em jantares refinados com a família do Harvey.

Eles se conheceram quando ela tinha quinze anos, e sim, era nova demais para ter uma personalidade tão atrevida quanto a dela. Mas Gwen gostava da adrenalina que era fazer algo proíbido, sua autoestima aumentava e tudo se tornava mais exitante. O namoro com Josh fez com que ela se afastasse de todas suas amigas, exceto a Jackie e se preocupasse mais com a opinião dos outros do que com a dela mesma. Após um ano do término, agora já com dezoito, ela continuava com o comportamento recatado e quieto pois todos diziam o quanto ela havia mudado, o quanto ela estava melhor. Mas só a própria Gwen sabia do quanto querer agradar os outros estava fazendo mal. Sua empolgação e originalidade, coisas que ela se orgulhava demais, foram aos poucos indo embora.

Quando conversou com o garoto da festa, a "cena" que ela fez na cozinha, seu jeito mais sugestivo e irônico de falar foi voltando aos poucos sem ela ao menos perceber. Tanto que a presença dele a fez esquecer do seu real motivo de estar ali e depois de anos abrir o pacote de cigarros que vivia carregando consigo caso algum dia quisesse voltar.

Isso nunca mudou. Ela sempre manteve os cigarros consigo, mesmo sem usá-los, era uma coisa que a lembrava de como tudo era antes.

Eles caminharam em direção aos estábulos dos fundos, que estavam vazios e silenciosos, onde o ar fresco da noite se misturava com o cheiro suave dos cavalos.

Enquanto se aproximavam, ele perguntou:

- Você tem um isqueiro, né? Se não, acho difícil conseguirmos acender isso.

Gwen soltou uma risadinha suave.

- Ah, sim. Tem um no bolso da minha calça. - Ela pegou o isqueiro. - Quase que eu me esqueço.

Ela acendeu um cigarro e o ofereceu um. Ele aceitou, como disse que faria.

- Já fumou alguma vez? - Gwen perguntou.

- Uma só, com meu irmão, antes de a gente brigar.

- Ah, sinto muito. Seria descuido perguntar o quê aconteceu?

- Não, imagina. Eu só não estou muito a fim de lembrar disso agora.

- Não precisa me dizer. Se não te faz bem, não pense.

Gwen afirmou, como se fosse óbvio.

Eles ainda estavam de mãos dadas, o calor de uma pele contra a outra parecia banal, mas o corpo de Gwen voltava a sentir uma agitação de anos atrás.

E se?

Muita gente odeia os "E se's". Mas ela não. Gwen gostava de imaginar todas as possibilidades e realidades alternativas.

E se?

Só por uma noite, ela pudesse se sentir novamente como só Gwen, e não a Gwen Berkshire que quer a todo momento fazer o que os outros fariam.

O que ela faria agora se pudesse?

Olhou para o garoto que caminhava ao seu lado. Seu jeito mais silencioso e agradável a deixava curiosa. O sorriso um pouco tímido e travesso que ele as vezes não conseguia conter fez Gwen se perguntar quais outros tipos de livro ele tinha costume de ler. Ela, com toda certeza gostaria de beijá-lo, deixá-lo provar um pouco dela e não só pela vontade absurda que tinha de se reencontrar com a antiga Gwen mas por que ele era realmente lindo para caralho e não sabia se o veria de novo algum dia.

O cabelo castanho estava bagunçado, seu rosto é de uma beleza caótica e muito atraente para ela. Mesmo sem saber o nome dele, talvez fosse melhor assim, ela poderia ser com ele quem realmente era e depois esqueceriam de tudo, pois não se veriam mais, seria uma memória daquelas que se guarda no fundo do baú, e se conhecendo do jeito que conhece, Gwen arriscaria dizer que está seria uma das suas favoritas.

Ela consegue ver no olhar do garoto que ele precisa um pouco disso também.

E se?

Gwen soltou uma risada baixa por conta de seus pensamentos, desviando o olhar para o céu estrelado.

- Do que está rindo? - Ele perguntou.

- Só estava pensando. - Gwen voltou a olhar para ele.

- Pensando no que?

Ela o olhou lentamente, de cima para baixo, pondo o cigarro entre os lábios e logo puxando e soltando o ar.

Quando tirou o cigarro dos lábios ela se atreveu a direcionar a ele um sorriso sugestivo.

Alex sorriu, o mesmo tipo de sorriso que o dela, o cigarro entre os dedos tremulando levemente.

- Agora você está pensando na mesma coisa. - Ela disse. E riu novamente, sua risada flutuando no ar como uma melodia encantadora.

O garoto se inclinou para mais perto, ambos sentindo a eletricidade entre eles aumentar, ele então diz no ouvido dela:

- Se estiver pensando da mesma forma que eu. É tentador, Gwen.

Ela fechou os olhos sentindo um lado do seu corpo arrepiar por conta da respiração dele próxima demais.

A noite estava agora envolta em um manto de excitação e expectativa. Eles deixaram o assunto morrer ali, começando a falar sobre milhares de outras coisas, livros e experiências de vida.

Eles caminharam até a parte posterior dos estábulos onde Gwen notou uma casa na árvore muito bonita.

- Não costumo trazer qualquer pessoa aqui.

- Me conheceu hoje e eu já não sou qualquer pessoa?

O garoto riu enquanto eles subiam as escadas.

- Não. Você na verdade é bem... estranha.

Gwen riu junto com ele.

- Nossa! Muito obrigada, você é tão doce. - Disse, irônica. - Você é estranho também, sabia?

- Não é a primeira vez que me falam isso.

- Uau! Podemos entrar aqui? - Gwen pergunta, encantada com a casa de madeira decorada para ser agradável.

- Claro, por que não poderíamos?

Ela deveria questionar mais, pois não sabe quase nada desde garoto. Mas só desta vez, se deixaria levar.

A casa na árvore é aconchegante e decorada, o clima arejado da noite se mistura perfeitamente com o ambiente acolhedor e encantador. A atmosfera está quente e convidativa sendo iluminada apenas pela luz da lua que entra pela sua grande parede aberta que oferece uma vista deslumbrante do ambiente noturno.

Gwen se joga no sofá, ao lado do garoto, após ele se sentar de um jeito desleixado. Ela apoia a cabeça no colo dele, encarando o teto e observando a fumaça subir e se misturar com o ar.

- Qual foi o último livro que você leu?

Ele pergunta ao mesmo tempo em que começa a acariciar o cabelo dela. Gwen sente o calor na sua pele aumentar como se ambos precisassem do toque um do outro desde o momento em que se tocaram a primeira vez.

- O Dia do Curinga. Jostein Garden.

- Gosta de filosofia?

- São meus livros favoritos.

Ele sorriu.

- Me conta mais então.

Gwen se lembrou de sua frase preferida:

- Meu conselho para todos os que querem se encontrar é ficarem bem onde estão. Do contrário, é grande o risco de se perderem para sempre. - Ela suspira, imersa no livro de novo. - O foda, é que eu fiquei no mesmo lugar por três anos e acho que estou mais perdida que antes.

silence - alex walter Onde histórias criam vida. Descubra agora