[17] Connection.

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Conexão, talvez seja a palavra mais enigmática do século.
   
Ela pode ser explicada de tantas maneiras, em tantos sentidos, que o significado em si se torna algo obsoleto. Mas, nesse caso, conexão significa um sentimento. Uma espécie de nomenclatura para uma emoção amplamente construída por alguém ou por alguma coisa.
   
Em linhas gerais, o significado de conexão pode variar em: 1 ato ou efeito de conectar, de ligar ou de unir; ligação, união. 2 aquilo que conecta, liga ou une. 3 relação lógica entre ideias ou fatos; coerência, nexo.
        
Ligação. Este é o significado que Jimin identifica, quando o assunto é em relação a sua irmã. O laço sentimental que circula entre os dois é algo, espiritualmente, insano. Do nível que, constantemente, Jimin pensa que foram irmãos até em vidas passadas.
         
Conexão. E ainda assim, falhou.
     
Apesar de estar fortemente conectado com a sua irmã, através de um elo muito além do que o sanguínio, Jimin falhou quando se recusou a ir com ela. Possivelmente, o rumo das coisas teria sido outro e, agora, ele não estaria chorando descontroladamente na sala de espera do hospital.
    
As mãos escondendo o rosto, os cotovelos afundando os joelhos, uma das pernas balançando e lágrimas escorrendo em seus braços. A dor é inigualável.
     
Há quem diga que o sofrimento é opcional. Um ditado ridículo, e sem sentido. Quem escolheria sofrer? Em um momento trágico e desesperador, quem não sofreria? Sofrer a dor, a tristeza, a culpa e o medo. O sofrimento é uma consequência da dor, e não uma opção. Ele é necessário.
        
Algumas pessoas podem tentar ajudar com gestos bonitos ou piadas, outros tentam com palavras de carinho e afeto. Mas, em um acontecimento real, só existe a dor e a pessoa quem a sofre. O resto... bem, o resto é escuridão.
       
— Calma, eu estou aqui — Jungkook se sentou ao seu lado, dando apoio — Vai ficar tudo bem, sim? Respira fundo.
       
— Eu não... e-eu não consigo — Ergueu o seu rosto, nitidamente vermelho. Balançou suas mãos no ar como se estivesse agoniado — Eu não consigo respirar.
   
Medo. Talvez, uma das emoções mais fortes que o ser humano, e diversas outras espécies, podem sentir. Talvez, até mais poderosa do que a raiva, a tristeza segue logo abaixo e o amor, em primeiro. Mas a realidade é que o amor é versátil. Muitas vezes, quando o amor bate na porta, ele vem acompanhado de três outras grandes emoções: a felicidade, a tristeza e por fim, o medo.
    
O amor não só é compartilhado em relações tão próximas ou íntimas como um namoro, ou até casamento, mas sim em um laço familiar, uma amizade, irmandade.

Quando o coração aperta e a garganta tranca, é o medo falando. Quando a respiração parece querer parar e a dor é insuportável, é a tristeza tentando tocá-lo. E quando, por último, depois de todo o tormento traçado, em um sorriso ou um simples bom momento, é a felicidade quem chega, um pouco envergonhada, ganhando espaço com a ajuda do tempo para se ajustar.
    
Nem a inteligência emocional mais desenvolvida no mundo, seria capaz de controlar essas três emoções de uma vez só. E Jimin estava sentindo tudo.
      
Triste pela culpa, pelo o ocorrido, pela falha. Amedrontado pelo passado, o presente e o futuro. E feliz, de certa forma, por ela ainda não ter morrido e estar demonstrando ser tão forte.
     
— Ei, Jimin. Olhe para mim — Jungkook pediu, tentando se manter forte, por ele — Eu estou aqui com você, e não vou deixar você sozinho. Me ouviu?
  
Queria ajudar, como sempre. Porém, igualmente, se sentia impotente. E, muito embora o lugar, a situação e a quantidade de negatividade em um hospital trouxesse péssimas lembranças para Jungkook, ele estaria ali. Por Jimin, e por Lisa.
      
Jimin seguiu as instruções de Jeon, e aos poucos conseguiu se controlar. A crise não foi embora, e ele sabia disso. Mas ao menos nesse momento, ela não seria um problema. Não por enquanto.
      
— Jimin! Meus Deus, como vocês estão? — Melissa chegou às pressas no hospital, correndo com a bolsa ameaçando cair de seu ombro e uma feição preocupada.
      
Segurou o rosto do filho com as duas mãos, e observou o inchaço recente tomando conta pelo choro.
      
— Ela desviou de alguma coisa na estrada, e... — Jungkook apertou sua mão — E caiu da ponte, mãe. O carro capotou mais de seis vezes e eu...
      
— Céus! — Ela colocou as mãos na boca, voltando-se ao choro também. Olhou para a janela transparente do quarto — Minha filha...
        
Não exitou em ir até lá, e percebendo que sua presença não era uma ameaça para as enfermeiras, continuou. Melissa e Davi se prontificaram para passar a noite, e fariam isso de qualquer maneira.
    
Lisa estava cheia de tubos, que auxiliavam o seu corpo na respiração. Suas funções não foram perdidas, mas pela dose de medicamentos, necessitava de uma atenção extra em outros aspectos. Aliás, drogas administradas erroneamente também são letais.
      
— Eu não consigo ver ela assim, Jungkook — Revela, observando Melissa e Davi, um de cada lado da cama — Faz parecer que tudo é culpa minha.
         
— Mas não é — ele reforça — Você não estava lá, não podíamos fazer nada. Você não podia fazer nada.
        
— É por esse exato motivo que eu falhei. Falhei como irmão, e amigo. Ela é a única pessoa no mundo que me salvou. Você entende? — olhou para ele, as expressões de ambos assustadas — Quando eu tentei tirar a minha própria vida por não aguentar mais a rotina infinita e agonizante, ela literalmente me salvou. E veja agora, onde ela está. Isso é loucura.
          
— Acredite, eu sei — Ele afirmou. E só então Jimin percebeu. Novamente sendo tão egoísta.
           
— Jungkook... — Lamentou, outra vez — Eu me sinto tão péssimo, por tudo. E você é a única pessoa aqui, me ajudando. Mesmo nesse lugar, que com certeza está sendo impossível para você. Eu nem sei o que eu faria se...
  
Espontaneamente, Jimin foi interrompido por um abraço forte e aconchegante onde, em questão de segundos, Park desabou pela quarta vez naquela madrugada.
         
— Era disso que eu precisava quando eram meus pais naquela cama.
      
Aquilo foi o suficiente. Jimin não resistiu e nem tentou, apenas continuou, descarregando tudo o que precisava, despejando aquele combo horrível de sentimentos ruins. Nem mesmo a ansiedade contava com isso.
      
Quando Hoseok e Taehyung passaram correndo pela porta do hospital, encontraram Jimin dormindo escorado no peito de Jungkook, enquanto aguardavam na sala de espera por qualquer notícia repentina, fosse ela boa ou ruim. Deram uma olhada em Lisa através do vidro e repararam que Melissa e Davi também dormiam, cobertos somente por um casaco.
           
Hoseok olhou para Taehyung e perguntou, silenciosamente, como aquilo estava acontecendo. Se sentou ao lado de Jungkook e Jimin em seu colo, e tocou sua mão com segurança para que ele não acordasse. No mesmo instante, Jungkook observou, já que era o único acordado, com os olhos atentos e ligeiros.
     
— Que bom que vocês chegaram — Sussurrou baixinho.
           
Hoseok sorriu, fraco.
        
— Como ela está? — Se referia a Lisa.
         
— Está estável. Pelo o que os médicos disseram, ela sofreu poucos danos enquanto o carro capotava, e daqui uns dias deve ficar bem. Mas está dopada de medicações, não aguenta a dor sem morfina e teve uma pequena lesão na cabeça, nada grave.
         
— Entendi, e Jimin? — Olhou para ele.
    
— Dormiu há pouco, não conseguia parar de chorar e se culpar por tudo o que aconteceu.
       
Percebeu o rosto inchado, mesmo adormecido. A pele clareando somente agora, voltando ao seu tom branquelo novamente.
          
— E você? — Se olharam — Sei que também não está sendo nada fácil estar aqui, de novo.
         
Ele fez um sinal rápido com a cabeça, como se tentasse dizer que não é nada demais e o momento não convém para trazer esse assunto. Honestamente, ele estava certo. Cutucar uma ferida consideravelmente cicatrizada faria ela voltar a sangrar, e agora ele precisava cuidar de Jimin e estar ali pela família dele.

Paradisíaco • Jjk + PjmWhere stories live. Discover now