Cap 12

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NICHOLAS NELSON

O mundo sem Charlie seria sem graça, sem cor. Não seria um mundo que eu gostaria de viver, até porque antes de conhecê-lo eu odiava viver. O mundo sem o sorriso dele é triste. Meu mundo sem ele seria muito triste.

O mundo onde ele não confia em mim, o mundo onde ele não me quer por perto, onde ele chora por mim, o lugar que ele tem medo de mim é o pior em se viver e é o que está acontecendo agora. O pior lugar do mundo, onde somos desconhecidos.

O ar é gelado, meu nariz está quase congelado, minha roupa não é o suficiente para o frio que está fazendo hoje. As pessoas me olham cheias de roupas, devem estar pensando como alguém sai de casa com poucas roupas desses jeito, no inverno da Inglaterra.

Nada faz sentido nesse mundo onde eu estou vivendo. Eu não consigo nem sentir frio direito, parece que meu corpo esqueceu de viver. Esqueceu de sentir algo que não seja ódio. Ódio pelo meu pai, pelas marcas em meu corpo, marcas no corpo da minha mãe.

Ficar sozinho naquele apartamento não me traz boas lembranças. Eu menti para Charlie, eu vi meu pai depois do acontecimento na cozinha, que queimou o cabelo de minha mãe. Eu o vi em tribunais, eu vi invadindo todas as casas que eu me mudava, principalmente essa.

Faz um mês que eu vi Darian pela última fez, meu corpo ainda não apagou ele. As marcas que ele fez ainda estão no meu corpo. Eu lutei, eu tentei. Nada.

Nada funciona com ele, assim que os olhos dele encontram o meu corpo eu paraliso. Ele tem todo poder que quiser sobre mim. Ele sabe disso.

Ele pode entrar por aquela porta com Charlie lá dentro, eu prefiro morrer do que Darian encostar um dedo nele. Mas não é opção, aquele cômodo estava tão apertado com nós dois ali dentro, as suas palavras doeram tanto. Doerem porque é a mais pura verdade.

Seus olhos azuis apagados dizendo que não somos nada, tudo é verdade. Verdade dói, a verdade destrói e corrompe, mas a mentira não, a verdade chega e destrói e corrompe tudo.

Eu preciso fazer isso rápido, rápido o suficiente para que Darian não veja Charlie, rápido o suficiente para Charlie fugir da minha casa. Rápido o suficiente para Charlie fugir de mim.

Eu posso mudar o quanto for, mas ainda tenho esse lado ruim em mim. Isso eu não posso mudar, isso meu garoto vai ver. E quando ele ver, vai se assustar, ele precisa fugir de mim urgentemente.

Entro na loja, sinto ar quente na minha pele, eu me arrepio. A moça se assusta na rapidez que eu abro e fecho a porta, ela me olha com aquele olhos, como se eu fosse um mostro, como se eu fosse machucá-la. Do mesmo jeito que eu olho para meu pai.

— Desculpa... — Só falo isso, ela se vira e entra em alguma porta.

Não sei o tamanho de Charlie, ele é pequeno e magro, mas eu nunca perguntei o seu tamanho. Eu saio da loja com algumas roupas, somente o necessário, espero que tenha comprado as certas.

Assim que coloco a chave na fechadura meu corpo arrepia, não sei o que eu estou fazendo ou o que eu vou fazer assim que entrar. Assim que aqueles olhos azuis encontrarem o meus, se caso eles ainda estiverem lá.

Abro a porta, na sala ele não está, eu me desespero, minhas mãos começam a tremem, meus olhos percorrem a sala a procura dos cabelos cacheados dele, eu só preciso disso. Olho para as escadas ele está sentando em um degrau com as mãos no rosto.

Largo as sacolas no chão e corro para ele. Sento ao seu lado e o abraço, sinto sua pele na minha, a eletricidade que faz quando sinto ele não tem igual. Eu ainda estou gelado e tremendo, ele está quente e tremendo. Ele chorou, acho que ainda está chorando.

Somente nós.Where stories live. Discover now