Cap 14

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CHARLIE SPRING

Sei bem como é o olhar de pena das outras pessoas, sei como é toda a família saber que você tentou se matar e o jeito que eles te olham, como se fosse um monstro. Talvez eu seja.

Esse olhar não me incomoda mais, teve uma época que eu me sentia vulnerável com todos os olhares e abraços de pena. Depois de um longo tempo isso não faz mais diferença. Mas agora, nesse exato momento, eu sinto todos os músculos doerem e minha vontade avassaladora de chorar. Não temos olhares de pena, e sim raiva, quebra de confiança.

Minha mãe passa por mim entrando no meu quarto, pisando fundo, ouço seus saltos fazerem um baralho fino no chão de madeira. Ela procura por algo.

Tori do outro lado da porta me olha assustada e como se quisesse me dizer algo urgentemente. Como se eu tivesse em perigo. Ela mexe a cabeça apontando para Jane.

Ali eu percebo, Jane está procurando por Nick. Temos dois motivos, ela ouviu tudo por trás da porta ou ela precisa saber quem é a pessoa que do nada apareceu no quarto do seu filho.

Eu não digo nada. Ela entra no banheiro e Nick está lá, parado. Suas mãos encostadas na pia, seu olhar cansado e a força que ele está fazendo para se apoiar é incrível. Suas veias saltam, seus dedos rígidos no mármore.

— Posso saber o que estava acontecendo nesse quarto a um minuto atrás? — Minha vontade é de gritar, falando que ela não pode saber, que tudo que aconteceu aqui foi íntimo e somente meu — claro de Nicholas também.

— Alguém vai me responder? — Ela franze o cenho.

Nick se ajeita e cruza os braços. Eu estou torcendo para que ele não a desafie ou faça algo do tipo. Esse não era o cenário que imaginei que eles se conheceriam, não estava nem perto disso.

— Ele, é meu ami...

— Prazer Nicholas Nelson e... — Nick me interrompe, ele espera que minha mãe continue e diga seu nome.

— Jane, mãe do Charlie — seus lábios estão rígidos, forçados a ficaram fechados, provavelmente ela quer falar alguma merda.

— Um prazer enorme te conhecer, Jane — ele respira fundo e olha para mim, seus olhos encontram os meus e eu esqueço que minha mãe está parada ali ao seu lado. — Eu sou o namorado do Charlie.

Eu congelo, nenhum músculos se mexe. Parece que tenho várias bolas de pelo na minha garganta, não consigo falar, não consigo negar. Minhas mãos não se mexem, meus pés estão colados no chão e Nicholas está sorrindo.

Aquele sorriso. Ele sorri com tanta confiança que me dá vontade de voar para cima dele, não sei da onde ele tirou que seria uma ótima ideia contar que somos namorados agora. No pior momento possível.

Minha mãe vai com certeza me matar, eu estou me preparando para os milhões discursos que ela vai fazer, não sei se ela vai falar algo na frente de Nicholas, se vai perguntar ou pior contar para a família.

— Namorado? — Sua pergunta é difícil, quase não sai da sua garganta, é uma frase rouca. Difícil de ser decifrada, está baixa. Mesmo assim sinto ódio e rancor em sua voz.

— Sim, Jane. Eu e Charlie Spring namorados —minha mãe fica vermelha de vergonha.

Ela tenta abaixar a cabeça, ela não sabe onde olhar e eu só penso que Nick deve ter merda na cabeça por soltar uma bomba dessas. Que ainda por cima é uma grande e esparramada mentira.

Tori do outro da porta está com a mão na cara, como já esperasse isso vindo de Nicholas. Minha vontade de negar é muito grande, de dizer que somos só amigos. Eu não sei o que somos.

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