1 - Luto

2.2K 90 134
                                    


luto

(lucto do latim)

substantivo masculino

1. Profundo pesar causado pela morte de alguém.

2. um estado emocional específico.



Caminhar pelas manhãs frias e neblinadas de Monte Verde têm sido meu suspiro de paz antes de todo o caos de mais um dia ter início, ainda mais acompanhado do melhor parceiro que a vida poderia ter me dado: Arturito.

Apesar de já estar no auge dos seus cinco anos, pra mim, vai ser pra sempre um pequeno filhote, tal qual todo golden existente nesta terra. Penso que toda energia e boa vontade do mundo encarnou naquele corpo dourado e peludo, porque não tinha outra explicação para um trem desse. Era muita energia pra pouco metro quadrado.

Tutu era a energia que às vezes eu sentia que faltava em mim, talvez fosse pelas noites solitárias na minha casa singela, ou na falta da grande família rodeando todos os momentos do meu dia. No fim, era uma mistura de tudo isso.

Não seria hipócrita de dizer que todas as minhas noites eram solitárias, não sou tão bom samaritano para tal. Mas tenho minhas dificuldades para engatar um relacionamento que dure mais do que alguns meses, eles sempre acabam rápido demais, com motivos demais.

Passo os meus olhos por toda a cidade à minha volta, assistindo todos os indícios do quase início do inverno, uma das minhas épocas favoritas em uma cidade como essa. A decoração de quase todos os comércios, casas e demais construções são feitas para combinar com a estação mais fria do ano, como se vivêssemos os 365 dias aguardando pela chegada do frio.

Particularmente, e sem clubismo algum, sempre achei que Monte Verde fica bonita em qualquer estação, em qualquer época do ano. É a cidade mais linda de todo o Brasil, quiçá do mundo.

Ouço um latido vindo do meu melhor amigo, e me abaixo na sua altura para lhe fazer um carinho nas orelhas geladas.

— Tá com frio, zé? — passo meus dedos pelo nariz, confirmando o quão gelado estava. — Bora pra casa de Dona Anastácia, que já devem estar ensandecidos pelo nosso atraso.

O restante do caminho até a casa dos meus pais foi em completo silêncio da minha parte, enquanto Tutu soltava alguns barulhinhos fofos pelo percurso. Minha cabeça estava distante, só pensando na quantidade irreal de trabalho que teria pra aquele começo de semana.

Ser o único empreiteiro de uma cidade sempre tem os seus prós e os contras, talvez mais coisas boas do que ruins. Mas, vira e mexe, o trabalho se acumulava e faltava eu enlouquecer de tanta coisa a ser feita. Todavia, isso está longe de ser uma reclamação.

Amo o meu trabalho e sinto que escolhi a profissão certa, ainda mais em uma cidade histórica como essa. Era delicioso trabalhar em algumas edificações antigas e poder ver a história sendo construída em frente aos meus olhos, essa é uma das minhas partes favoritas.

Sem contar que eu tinha amizade com quase toda a cidade por conta disso, já deveria ter feito algum trabalho em grande parte das casas, fazendo com que todo mundo me conheça. Não que isso fosse algo difícil, já que minha família é muito famosa.

Fama essa que nos persegue desde antes de eu nascer, coisa grande mesmo.

Avistei ao longe o conjunto de três casas que era onde todo o meu coração vivia, pelo menos a parte que fica fora do peito. É clichê dizer que minha família é tudo que eu tenho, porém, não é vergonha alguma ser um pouco brega quando o motivo são eles.

InnamoratoOnde histórias criam vida. Descubra agora