20 - Gosto

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gosto
|gô|
(gos·to)

substantivo masculino
1. Sentido pelo qual se distinguem sabores através da língua.
2. Sabor (inerente ao que se mete na boca.)
3. prazer, satisfação.
4. Inclinação, propensão.
5. Discernimento, critério.
6. Feitio, forma, estilo.


🔥


— Nossa, mas o que que você tá preparando aqui, hein? – disse, andando com os olhos tampados pelas mãos de Alexandre, num chão de madeira, a julgar pela barulhada que fazia.

— Calma, muié. Tá, pode abrir os olhos.

Ele tirou as mãos dos meus olhos e me fez contemplar a cantina do babbo, que estava vazia plena quarta-feira. Não entendi muito bem o que viemos fazer aqui, mas alguma coisa especial tinha a ver com isso. É a cara dele me aprontar uma novidade fora de época!

Depois daquela declaração de amor em frente aos nossos bichos, eu me senti um pouquinho travada com ele, e com a nossa relação. E é normal, né? Eu sempre fui muito desgrudada de sentimentos e emoções, então acabar caindo numa dessas de paraquedas foi simplesmente assustador. Mas era um susto tão bom, nó!

O início da semana foi todo movido a minha mudança. As minhas coisas ficaram no chalé que aluguei a ele, enquanto eu dormia na sua casa, que ele começava a adaptar para alugar, já que a vida a dois na casa de campo já era a nossa realidade, e bem, tá sendo uma bagunça pra lá de gostosa.

— Amore, o que que a gente tá fazendo aqui no restaurante, hein? — perguntei, com um sorrisinho de canto maligno.

— Uai, vamos comer. Vem cá. — disse, já me puxando com tudo em direção a cozinha, rindo.

Nossa senhora, que nostalgia. Faziam anos que eu não invadia aquele espaço, mesmo passando essa temporada em Monte Verde. Eram muitas lembranças que eu não explorava, de jeito nenhum.

Andei meio aérea, enquanto ele conversava comigo por alto. Observava cada canto daquele lugar, e pensando em como tudo aquilo tinha toques da minha vida, e da minha infância. Eu não sei ainda qual o propósito de estar aqui, mas eu gosto. Gosto pra caramba dessa vida nova.

— Sabe quanto tempo faz que eu não... encosto nessa cozinha, bem? – perguntei, me encostando no balcão, chocada com o seu empenho — uns 15 anos, no mínimo.

— Nu... nunca pensei. — ele dizia tímido, do outro lado da cozinha, amarrando um avental no corpo, com o nome do meu babbo bordado à mão. Julgando pela instabilidade do ponto cruz, certeza que era coisa da nonna. — Quando eu pedi a cozinha emprestada pro Italiano, eu não pensava que fazia tanto tempo assim.

— Faz, tentazionne. O que tá me pegando é que você fez ele fechar o restaurante plena quarta-feira pra isso. — estava nada convencida daquele papinho. O que ele queria, afinal de contas?

— Mai tu é muito desgarrada da realidade mesmo, hein, muié. — fechou a cara, bruto que só ele. Ficou com raiva sozinho. — Tormento, hoje é dia 24.

— Mas o que tem, homem?

— Dio Mio, Giovanna. É o nosso aniversário de namoro. — AI MEU DEUS!

Corri ao seu encontro, enchendo ele de beijinhos na ponta do pé, tentando disfarçar a gafe que eu havia cometido agora a pouco. Com cara de bravo, ele não me deu trégua, mas eu continuei a beijar seu rostinho maldoso. — Ai minha Santa Vergine, basta! Me perdoa, cowboy! Você tem que saber que eu não namorava sério, que tudo é muito novo pra mim....

InnamoratoOnde histórias criam vida. Descubra agora