7- Cérebros e Bolinhos

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Vivienne

Os dias no orfanato pareciam deslizar a uma velocidade impressionante. Eu, apesar de solitária e isolada como antes, não me deixava abater pela falta de amizades. Sibila estava sempre ali, mantendo-se presente em cada canto de minha mente. Em momentos sociais e coletivos, a garota permanecia como uma voz sussurrante, repleta de piadas e sarcasmos sobre as outras meninas que me tratavam com desdém. Embora Sibila, em algumas ocasiões, pudesse ser cruel em suas palavras, eu não conseguia evitar um sorriso com as tiradas da estranha presença que habitava meus pensamentos.

Com o passar do tempo, a companhia singular de Sibila passou a ser suficiente para mim. Entendendo que nenhuma amizade verdadeira surgiria das relações falsas das outras garotas, eu abraçava cada momento de cumplicidade com minha peculiar amiga. Era uma dinâmica estranha, uma amizade que somente eu podia entender, mas que, de alguma forma, me proporcionava conforto no isolamento do orfanato.

Havia dias no orfanato que as outras garotas achavam especialmente legais, os dias em que as freiras inventavam atividades diferentes, quase sempre com o intuito de arrecadar dinheiro para a instituição. Diferentemente das outras meninas, eu não demonstrava muito entusiasmo por esses momentos. Eles implicavam ter que interagir mais do que o habitual com as outras garotas, algo que nem sempre me parecia saudável. No dia de hoje, haveria uma atividade especial: fabricar bolinhos com gotas de chocolate. As freiras haviam providenciado os ingredientes e nós faríamos um mutirão para preparar os doces, embalá-los e, posteriormente, vendê-los na feira local de Woodshire.

Embora eu estivesse lá para ajudar, a verdade é que observar as outras meninas se envolvendo com tanta energia era mais comum do que me envolver. Enquanto elas trabalhavam fervorosamente, eu preferia estar à parte, acompanhada apenas dos meus pensamentos. O convívio social, especialmente em eventos coletivos como esse, nem sempre era meu forte. Minha presença era discreta, e o máximo que eu contribuía era com a produção silenciosa dos bolinhos, evitando muito contato com as demais garotas.

Naquela manhã, despertei antes do sol, prendendo meus cabelos rebeldes com um lenço gentilmente fornecido pelas freiras. Relutantemente, desci para o refeitório. As mesas estavam adornadas com toalhas imaculadas, enfeitadas com sacos de farinha, ovos empilhados e embalagens de gotas de chocolate e outros ingredientes. As garotas aglomeravam-se, entusiasmadas para dar início à confecção dos bolinhos. A tarefa do dia era preparar a massa, moldar os pequenos doces e, em seguida, entregá-los a uma mesa no canto, onde seriam levados pela equipe das freiras para assar.

Ao verificar se o lenço mantinha meus cabelos firmes, escolhi uma mesa que ainda estava relativamente vazia. Respirei fundo, tentando me preparar para a interação social que inevitavelmente viria.

"Uau," cantarolou a voz de Sibila dentro da minha cabeça, "prepare-se, Vivi, uma grande vaca se aproxima". Não entendi muito bem o que a criatura queria dizer até ver Evelyn vindo em minha direção, acompanhada por Penelope e Matilda. Não era segredo para mim que Evelyn me detestava, e seus olhares nada amistosos e os comentários maldosos que costumava fazer sobre mim confirmavam isso. Revirei os olhos; havia muitos lugares nas outras mesas, por que diabos ela estava vindo se sentar ao meu lado?

"Olá, Vivian", disse a menina loira, me avaliando com um sorriso de desdém brincando em seus lábios.

Eu tentei sorrir, não estava com muito ânimo para brigas. "Oi, Evelyn", suspirei, "meu nome é Vivienne."

"Oh", disse a menina, tentando parecer inocente e falhando miseravelmente, "Vivian já não é um nome impressionante por si só. Não pensei que pudesse existir uma variação ainda mais... vulgar", um sorriso brincou em seus lábios, "sem querer ofender, é claro."

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