14- Traição

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Em algum lugar do passado...

Sigrun

O dia seguinte foi exaustivo para o xamã atriano. Embora não tenha trabalhado arduamente, a incerteza e a ansiedade por respostas necessárias nublaram seu dia. Nem mesmo o sol radiante, que brilhava fora do castelo, foi capaz de dissipar as nuvens escuras de incerteza que o atormentavam. O homem sentiu-se particularmente perturbado ao percorrer um corredor e deparar-se com o Rei, dando um beijo caloroso de despedida em Ingrid. Ao perceber o xamã observando, a jovem corou e baixou o olhar timidamente. O Rei dirigiu seu olhar a Sigrun e sorriu feliz.

"Algum relatório importante sobre o reino, Sigrun?"

Imediatamente, Sigrun percebeu Ingrid prestando atenção nele. Estaria ela interessada nas informações sobre o reino? Céus, esperava que as informações fornecidas pela outra criada fossem falsas. O Rei sofreria um golpe terrível se, de fato, a jovem fosse uma espiã dissimulada de Goren. "Nada, meu senhor," disse Sigrun nervoso, o suor empapando suas vestes "tudo está em ordem."

"Que bom," disse o Rei, contente. Em seguida, virou-se para Ingrid. "Agora preciso me concentrar em minhas obrigações no Salão dos Sussurros, meu amor. Ontem já negligenciei demais."

"Mas é claro, meu senhor," disse Ingrid, docilmente. Com essa deixa, o Rei seguiu seu caminho sozinho. Ingrid fitou o xamã por alguns segundos, mas depois sorriu docemente para ele. "Tenha um bom dia de trabalho, Lorde Sigrun!"

"Obrigado, minha Lady!" respondeu Sigrun com um sorriso amarelo.

Ingrid

Ingrid não foi escolhida para uma missão como aquela por causa de sua aparência ou de ligações políticas ou de parentesco; ela foi escolhida porque era talentosa em ler as pessoas, era esperta e sabia quando agir diante de uma suspeita. A garota foi rapidamente até o seu quarto, parando na porta, mas chamando um guarda antes de entrar no recinto. O guarda, ao ver a amante do Rei chamando, atendeu-a imediatamente, pois, apesar de terem recebido ordens de vigiá-la, ela ainda era a escolhida pelo monarca atriano, e ele não queria problemas para si.

"Milady," disse o homem respeitoso.

Ingrid suspirou, tentando aparentar cansaço. "Estou cansada, acho que estou pegando um resfriado. Irei dormir um pouco agora," disse, dando uma fungada teatral para simular coriza. "Por favor, se alguma criada vier até aqui, avise-a de que não irei almoçar. Quando eu acordar, aviso para que me tragam algo para comer." O homem assentiu sério, permitindo que a jovem entrasse em seu quarto.

Já dentro do quarto, Ingrid sentou-se na cama nervosa. Precisava encontrar Solveig, Greta e Alva, mas não podia simplesmente passar pela porta do quarto e ir até o corredor. A ruiva sabia que, ao contrário dela, Greta tinha bastante amizade com Solveig e que, comumente, as duas almoçavam juntas no quarto da chefe de missão goreniana. Havia apenas uma forma de sair dali e ter acesso ao quarto ocupado por Solveig e Greta, e, pelos céus, esperava que elas estivessem almoçando juntas hoje. Ingrid sabia que o quarto de Solveig ficava em uma torre próxima à torre em que ficava o quarto da ruiva. Ela sabia o que tinha que fazer para conseguir chegar até lá, mas, ao abrir a janela do seu quarto e olhar o imenso abismo que se estendia abaixo, ela se sentiu subitamente menos corajosa.

Ingrid colocou uma perna para fora, apoiando-se em um estreito parapeito de pedra. Com extrema cautela, ela continuou sua arriscada travessia do lado de fora do castelo. O vento sussurrava em seus ouvidos, intensificando a tensão que a envolvia; suas mãos suavam, mas ela tentava ignorar o suor frio. Passo a passo, movia-se habilmente sobre os tijolos sobressalentes das paredes das torres, mantendo-se próxima à estrutura para minimizar a exposição ao vazio abaixo.

Delírios SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora