Capítulo 1

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Preparadas, minhas irmããs, porque hoje eu vou testar esses corações de vocês.

Eu sei que já tem muuuita gente puta da cara com o Fernando. E a Cora mais ainda, mas vocês vão ter que lidar com a realidade: e ela está aqui embaixo  👇🏼👇🏼👇🏼


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Cora


8 anos depois


— Quem é que inventou que ter um café com livraria seria uma boa ideia?

Esfrego a capa cor de salmão do exemplar de Um Lugar Bem Longe Daqui, de Delia Owens, sobre o balcão. Briana, a mãe de uma colega da minha sobrinha, esteve aqui com suas crianças e tentou ter um minuto de paz, mas o seu marido apareceu logo depois com os quatro filhos e deu a ela um olhar que implorava enquanto sustentava a porta com o braço para deixar a prole entrar na minha cafeteria.

Não é a primeira vez que comida e livros se misturam e, para ser sincera, é minha junção favorita, e não é por acaso que eu tenho esse negócio, e eu nem poderia xingar Briana, porque como tia solo de apenas uma única criança, eu a compreendo.

— Você. — A voz fininha de Alice me faz levantar a cabeça da meleca de café com leite e açúcar sobre a bancada negra onde a mãe da amiga dela estava tomando seu café, minutos atrás.

Ergo o livro e deixo o leite pingar. Será que tem conserto?

Droga. Acabei de ter prejuízo, e isso não é nada bom para alguém que cria a sobrinha, cuida da avó com Alzheimer, mantém a gêmea na UTI e ainda inventou de ter um pato.

— Eu o quê? — pergunto, dando foco a Alice atrás da imagem do livro, sentada em uma das seis poltronas antigas que eu peguei emprestado, para sempre, da casa da vovó.

Para a minha sorte, essas coisas velhas dão um charme à decoração hoje em dia. Se fosse antigamente, todo mundo iria comentar que eu reaproveitei tudo o que pude para abrir esse café, porque estava atolada em contas, e poltronas novas não cabiam no orçamento.

— Você teve a ideia de juntar as duas coisas que mais ama, tia. Comida e livros. — Alice me situa de volta aos pensamentos iniciais que eu já tinha esquecido, porque me lamentar pelas decisões que tomei um dia não é uma opção.

E, para falar a verdade, eu nem me arrependo. A Livro Expresso é meu grande orgulho, depois da minha família, é claro. Manter Alice viva nos últimos sete anos foi a coisa mais importante que eu já fiz. Ainda mais quando a minha avó esquece que Alice é filha da Mila, e que a minha irmã está em coma desde quando um caminhão dobrou o carro dela ao meio no dia em que descobriu a gravidez não planejada. Eu acho que ela estava tão ansiosa que não percebeu a enorme carreta vindo em sua direção.

Eu não posso chamar de sorte o fato de a transportadora dona daquele caminhão ter arcado com os custos médicos dela por todos esses anos, porque eu queria que nada daquilo tivesse acontecido, mas é bom que eles cuidem de boa parte das despesas de Mila, porque eu não conseguiria fazer mais do que eu já faço.

— Você não está atrasada para a escola? — falo, percebendo a mochila azul nas costas dela.

O uniforme tem uma gota de achocolatado no meio da camisa branca, e eu já desisti dessa batalha. A saia, da cor da mochila, vai até os joelhos, onde começam as longas meias da minha sobrinha. Seus cabelos castanhos estão soltos, e eu me recrimino por não ter tempo de penteá-los como gostaria pela manhã.

Meu Maldito Ex - Amo Te OdiarWhere stories live. Discover now