Capítulo 12

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Dentro do veículo, Graziele olhou para seu irmão pelo retrovisor. Sua testa encontrava-se encharcada de suor, teve de desabotoar os primeiros botões de sua camisa social preta para respirar um pouco melhor. Ele olhava para a paisagem de prédios e estabelecimentos com a janela aberta, para que o ar se chocasse contra o seu rosto. Vê-lo assim partia-lhe o coração, ela não falou nada, não sabia o que fazer. Tinha medo do que poderia acontecer, pois lembrava-se de antes, quando ele ficava desse jeito, desaparecia e o encontravam sem roupas e desnorteado.

Da última vez, foi encontrado no mesmo estado, perto do corpo da sua irmã. Ela respirou calmamente, para não desprender sua atenção da estrada. Havia uma pessoa que sabia exatamente o que aconteceu, e que poderia responder algumas dúvidas e talvez esclarecer o que acontecera com Vitoria. Os casos poderiam estar interligados.

— Está tudo bem aí atrás, Lucas? — perguntou Graziele, quando ele não respondeu, ela olhou direto para Álvaro que estava no banco de trás ao lado do seu irmão.

Álvaro meneou a cabeça, colocou as costas da mão no pescoço de Lucas, em seguida voltou seu olhar a Graziele.

— Não está com febre, aparenta estar respirando normalmente. Acho que se ele comer alguma coisa e beber um copo de água ficará bem.

Lucas estava simultaneamente consciente e inconsciente das vozes vindas do carro. Sua mente estava atormentada por pensamentos perturbadores, e vinha entrando nesse estado de transe com bastante frequência ultimamente. Agora, tentava buscar no fundo da sua mente alguma explicação racional para a imagem perturbadora que acabara de ver no espelho: seu próprio reflexo distorcido em uma forma assustadoramente primitiva e animalesca.

Recostado no assento de trás, por um instante sua mente exausta agarrou-se à vaga esperança de que os últimos momentos que viveu desde a morte de Vitoria não passaram apenas de um pesadelo horrível, evocado pelo seu próprio subconsciente, que estava no estado de sonambulismo e ninguém o havia acordado ainda. Nesse cenário, sua amada Vitoria o despertaria, ele estaria suado, com a respiração profunda e uniforme. Então ela acalmaria seu espírito perturbado com palavras gentis. Assim, saberia que a traição que descobriu, o súbito reaparecimento de Álvaro e os acontecimentos bizarros que se desenrolaram diante dele não passavam de fruto da sua imaginação e que tudo estava bem.

Um terror gélido, de repente, tomou conta dele.

Se é isto que prefere pensar, idiota. Mas será menos doloroso se admitir a realidade, você está fodido e continuará fodido nos próximos dias, disse a si mesmo. Você é um assassino, matou sua namoradinha e matará seu namorado, sua irmã e todos que cruzarem nosso caminho. Agora ele não sabia se quem estava falando era ele ou aquela coisa que viu no reflexo do espelho. Lucas engoliu em seco, seria possível que duas pessoas habitassem o mesmo corpo?

Lucas não teve tempo de pensar em mais nada, pois ficou curioso com o carro diminuindo a velocidade. Ele ergueu a cabeça quando pararam em frente ao restaurante Picanha Grelhada. Nunca tinha ido para aquele restaurante, portanto, não fazia ideia se o tipo de comida que serviam era boa.

— Tem certeza de que é aqui, Álvaro? — indagou Graziele, virando-se para ele.

— Sim. Comi algumas vezes aqui, e era o mais perto depois do...cemitério.

Graziele meneou a cabeça e retirou o seu cinto. Álvaro continuava sem saber o que fazer quanto a Lucas, só o que podia fazer era vigiar o irmão todas as noites ou pedir que Álvaro o vigiasse quando ela não estivesse.

A mão de Álvaro pairou no ar, pouco abaixo do ombro de Lucas. O policial estava com o rosto virado para o outro lado, assombrado por pesadelos que o atormentavam mesmo quando estava acordado. Álvaro desejou poder tirar aquele peso dos ombros do seu ex-namorado. Queria que de alguma forma não precisasse ter terminado seu relacionamento com o homem para atingir seus objetivos profissionais.

O Sétimo Filho ( Romance Gay - Lobisomem)Where stories live. Discover now