A minha felicidade está sonhando

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Em alguns dias de trabalho intenso, eu e Simone quase nem temos tempo de nos falar ou nos olhar, apesar de trabalharmos no mesmo ambiente. Em um dia como o de hoje, que permanecemos trancadas naquele gabinete de Simone por quase três horas, pois ela precisou participar de uma reunião com outros senadores e o Ministro Fernando Haddad, que por sinal, sempre fora um homem muito cordial até mesmo nos negócios. A reunião começou com a discussão de temas prementes, como a economia, a crise na saúde e a questão ambiental. Ambos expressaram suas visões e apresentaram propostas, reconhecendo que, apesar das diferenças ideológicas, alguns consensos eram possíveis para o bem do país.

Simone falou sobre a importância de um plano econômico sólido e de medidas para combater a desigualdade social. “Podemos concordar que, independentemente das divergências partidárias, é imperativo cuidarmos da população e garantirmos o desenvolvimento sustentável", sugeriu.

Haddad concordou, propondo a criação de um comitê bipartidário para discutir políticas públicas. "Temos que deixar de lado as disputas políticas mesquinhas e focar no que realmente importa: o bem-estar da população brasileira."

Simone era mulher de ganhar qualquer um no discurso. Não que ela fosse manipuladora, talvez quando quisesse, mas na maior parte do tempo ela só era muito bem articulada discursivamente, era impossível não cair nos encantos de Simone Tebet, sejam eles políticos ou não. Sentar uma horinha com ela para falar sobre qualquer assunto que ela domine mais que você era ter a certeza de sair com opiniões mudadas, acordando com ela, claro. E não posso negar que essa era uma de minhas paixões em Simone: seu poder linguístico de fascinação.

Mas era nesse poder de fascinação que eu não poderia cair nesta tarde, após a reunião. Decidi que levaria Simone a uma festa da minha família. Talvez não fosse o momento, por segurança, de apresenta-la como minha namorada, mas tê-la comigo já bastaria em certa medida. A questão era arrastá-la até a fazenda dos meus pais para passar um fim de semana no meio da bagunça que era a minha família. Dessa vez, o charme linguísitco precisaria ser meu.

- Pronta, meu bem? Hoje vem pra casa comigo? – Simone saiu de sua sala, dando-me um leve susto ao me abraçar por trás e arrastar seu nariz por meu pescoço pra sentir meu perfume.

- Cuidado, Simone! Tem gente passeando por esses corredores ainda, vai que alguém vem aqui te procurar? – Dei-lhe um pequeno tapinha nas mãos para que soltasse minha cintura. Ela fez um bico adorável e ficou segurando a bolsa com as duas mãos na frente do corpo, a coisa mais preciosa.

- Eu só queria dar um beijinho na minha princesa, que mal tive tempo de olhar hoje. – Nesses momentos, eu me sentia parar no tempo e vê-la ali lentamente diante de mim, como se a vida que crescia com ela fosse apenas um registro que inventei em algum canto desconhecido da minha mente, um lindo sonho que criei. Cedendo à doçura que ela sempre sabia ser quando desejava algo, aproximei-me novamente de seu corpo e fiz um carinho na bochecha, despendendo tempo pra lhe amar com os olhos.

- Você é linda! Eu nunca vou cansar de lhe dizer isso. O que adoro em ti lastima-me e consola-me: O que eu adoro em ti é a vida!

- Não declama Manuel Bandeira pra mim assim, com esses olhos presos nos meus, com seus dedos acariciando meu rosto, com seu perfume me embriagando os sentidos, Helena...

- Senão o quê hein, Senadora? – Desci a mão de sua bochecha para a gola do blazer azul escuro que usava e a puxei levemente até ter nossos rostos quase colados.

- Senão eu te dou o que quiser de mim, sem nem argumentar. – Sorri de canto e pude perceber o quanto ela já estava afetada por nossa proximidade; o corpo, os gestos, a respiração e a feição afrouxando. Roubei-lhe um selinho que ela reclamou pela brevidade, peguei minha bolsa e sai caminhando para fora da sala.

Teus lábios: Minha poesia Where stories live. Discover now