BANHEIRO DA UNIÃO

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SE minha vida fosse um filme, esse seria o momento perfeito para um flashback com as cenas mais importantes para entender o porquê de eu odiar Eleanor Cavalcanti

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SE minha vida fosse um filme, esse seria o momento perfeito para um flashback com as cenas mais importantes para entender o porquê de eu odiar Eleanor Cavalcanti.

Mas, como não é o caso, quero deixar registrado que eu odeio Eleanor. Muito mesmo.

Sabe aquela pessoa que você não tem motivo pra detestar, mas mesmo assim detesta? Aquele ser humano abençoado — de que abençoado não tem nada — que todo mundo gosta menos tu e aí fica parecendo que você é quem tem algum problema?

Pra mim, Eleanor é esse alguém.

Começando pelo nome, pois não tem como negar que é um nome de menina mimada.

Outra coisa que me tira do sério sobre Cavalcanti é sua obsessão em parecer uma personagem de filme.

Moramos numa cidade litorânea cujo verão dura mais da metade do ano e o inverno é só alguns dias de garoa e vento parado, mesmo assim Eleanor faz questão de andar por aí usando preto. O. Tempo. Todo.

Sempre de calça preta rasgada nos joelhos — como se ela tivesse engatinhado numa trincheira cheia de lama e arame farpado —, camisetas do mesmo tom e a maldita jaqueta de couro falso.

Pra piorar ela vive de óculos escuros, mesmo de dia e pilota uma mobilete azul barulhenta pra porra. É ridículo e mais ridículo ainda é o fato de todos os meus amigos a acharem o máximo por ser assim.

Tudo porque Eleanor é uma garota de cidade grande com gírias diferentes e que pronuncia palavras com "s" de forma demorada, dando a impressão de que tem um "ch" depois dos "tês".

Tem outros detalhes nela que me deixam fula da vida... Como o sorriso convencido, a risada fácil, os comentários sobre algo da sua antiga cidade — cinco vezes maior que a nossa, com shoppings a cada esquina, boates e essas coisas — só pra chamar atenção e assim por diante.

Ela é a única novata esse ano, então é como se existisse um letreiro neon gigante escrito "NOVIDADE" a seguindo por aí.

Todos os meninos querem beijá-la, todas as meninas querem ser como ela ou a odeiam por roubar a atenção dos garotos etcetera etcetera...

Mas esses detalhes são só a pontinha do Iceberg que é o ódio que nutro por Eleanor.

O maior motivo por eu não suportá-la é porque ela sabe sobre mim.

Não houve qualquer confissão da minha parte, ou sinais — prefiro reafirmar que sou discreta, se não vou pirar achando que o resto das pessoas também estão cientes.

Sei lá como... Ela simplesmente sabe.

Da mesma forma que um maldito cão farejador consegue sentir um pacote cheio de droga numa mala em um aeroporto enorme.

Só que no meu caso eu sou o pacote. Ou melhor, minha heterossexualidade. Quer dizer, a falta dela.

Eu escondo o fato de ser lésbica há cinco anos... Ninguém sabe. Nem Kaique, que é tipo... Meu melhor amigo desde que eu tinha meses de vida.

Arco-íris Cor de RosaWhere stories live. Discover now