Capítulo 5.

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me questionei sobre isso?
Minha mente estava focada demais na vida shinobi, em quem eu almejo ser como ninja, mas e como pessoa? E como homem?
Por que nunca passou pela minha mente?

Caminhávamos tranquilamente, todos seguindo nossas versões futuras por entre a floresta. Sarada Hokage disse que seria melhor um atalho para não correr riscos de sermos vistos. Ela nos guiava mais á frente com meu Eu ao seu lado, próximos demais, conversando e de mãos dadas.

Que... intrigante. Diferente.

Desde que saímos do escritório, eu e Sarada não havíamos falado uma palavra se quer.
Nossos pais andavam a nossa frente, a espreita e alertas a qualquer movimento na folhagem das árvores.
Olhei Sarada, que vislumbrava a vista do horizonte. O vento soprava, esvoaçando sua franja no ar, espalhando alguns de seus fios negros em seu rosto. Uma nuvem cinza era vista no céu, mesmo com a escuridão densa da noite, ameaçando que a chuva logo iría cair.
Sarada tremeu levemente, alcançando os braços, esfregando a pele clara e descoberta deles para gerar algum calor.

Ela odeia frio.

Poderia oferecer meu casaco, mas ela não aceitaria. Acho que toda essa situação a desagradou. Digerir todo um futuro descarregado sobre você completamente do nada, não é fácil.

Para quem seria?

Depois de tudo o que vi, minha mente gira em torno de perguntas sem nexo ou contexto, coisas que nem eu mesmo entendo.

O ser.

O será.

Como?

Quando?

Não entendo o que quero saber, não entendo o que quero compreender, não entendo o que eu quero.

Afinal, o que eu quero?

Desviei minha atenção de Sarada. Ela não vai aceitar nada de mim, é melhor não tentar ajudar e correr o risco de ser machucado.

Fisicamente...

— Vocês vão ficar para trás. — Meu pai disse, me tirando de pensamentos.

Eles estavam mesmo em nossa frente. Apertei o passo, e Sarada fez o mesmo.
Meu pai nos olhou estranhamente, como se quisesse falar algo. Vi seus olhos em mim, mas ele apenas voltou a olhar para frente, seguindo com os outros, sem soltar qualquer coisa que pudesse piorar o clima entre eu e Sarada. Ele sendo discreto? Mais uma novidade para hoje.
Coloquei as mãos no bolso, seguindo em silêncio, enquanto minha cabeça fazia um tremendo barulho.
Eu e Sarada estávamos mais próximos, lado a lado, andando com uma distância segura entre nós, e nossos pais a nossa frente.
Nossas versões andavam tranquilos, a uns dez passos de nós. Certo momento, o Eu futuro largou a mão direita da dita esposa, passando o braço sobre seus ombros. Ela deitou a cabeça nele, e ele a puxou para um abraço ladino, apertando o corpo dela ao seu, sem ligar muito se estavam tendo plateia ou não.
Revirei os olhos furtivamente, sentindo meu rosto esquentar.

Esses dois não podiam ser discretos?

Ri com o pensamento.
Esses dois? Um deles era eu, o que eu estava pensando?

— Eles são fofinhos... — Pude ouvir a Tia Sakura dizer, mesmo que tenha sido baixo para que talvez nós dois, eu e Sarada, não ouvíssemos.

— São mesmo. É um lindo casal... —Minha mãe respondeu, dando a entender que a fofoca era entre elas duas. Elas andavam juntas, pertinho o bastante para se ouvirem.

— Estava muito na cara mesmo — Tia Sakura disse, arrancando uma risada cantida da mamãe. — Somos as mães, conhecemos nossos filhos e esse tipo de sentimento... — Ela olhou o casal de pombinhos a frente, e mamãe imitou seu movimento. — É bom ver isso.

— É mesmo. Tudo valeu a pena... — Mamãe suspirou, juntando as mãos na frente do corpo.

A conhecia o bastante para saber que ela estava sorrindo, mesmo que eu não pudesse ver seu rosto.

— A gente sabe como é esse tipo de amor não é Hinata? É até engraçado o quanto a gente sabe.

— Somos as únicas que amaram as mesmas pessoas desde crianças.

Elas riram abafado, tentando esconder a forma que fofocavam como duas crianças.

— De fato, somos sim. — Tia Sakura disse, me impressionando com tal informação.

Elas gostavam deles desde criança?!
Mamãe havia dito isso uma vez, mas na época, eu não tinha colocado tanta fé em suas palavras.

Por que ela gostaria de um cara como papai?

— Querem parar de falar como se não estivéssemos aqui?! — Meu pai tentou falar baixo, mas sua voz ainda saíra alta.

Elas riram baixo, e continuaram caminhando. Cada uma do lado de seu par.
Nunca havia parado para pensar o quanto era interessante essa formação de casal.
Mamãe e papai eram diferentes. A mamãe era calmaria, tranquilidade, serenidade, mesmo que quando ficasse com raiva fosse implacável, ela sempre tinha um sorriso singelo no rosto. Ela era como um raio de sol, caloroso e aconchegante. Já o papai é agitação. Ele é barulhento, desastrado, dramático. Poucos vezes fora severo comigo como pai. Ele falhava bastante nesse papel, para mim e para Himawari, mas ainda assim, era um bom pai, um ótimo Hokage que sempre se preocupava com o bem estar do povo, só faltava que zelasse mais pela própria família. Ele e a mamãe não brigavam, pelo menos nunca vi qualquer discussão entre os dois, até porque, se o papai vacilasse com ela, ele estaria muito ferrado. Muito mesmo.
O casal Uchiha também era uma formação peculiar. O tio Sasuke é caladão, tem cara de poucos amigos. Me pergunto como fora para ele conquistar a tia Sakura?
Se já deu flores a ela. Se a convidou para um encontro. Se já a levou para caminhar na beira do lago e apreciar a paisagem...

Não.

O Sasuke sensei não é desse tipo. Não sei se ele faria coisas assim, mas oque quer que tenha feito, acertou em cheio. Mamãe acabou de dizer que elas sempre foram apaixonadas por eles.
É perceptível.
Qualquer um dos dois casais, mesmo que com poucas palavras ou nenhuma, cada um deles é bom um para o outro. Mamãe e papai. Tia Sakura e Sasuke sensei. Elas são importantes para eles, e eles são importantes para elas. É evidente tamanho carinho e... Amor.

Encarei Sarada, que ainda não me olhava, tenho certeza que ela ouviu o que nossas mães falavam.
Mais alguns minutos se passaram enquanto andávamos pelo atalho na floresta. Não demoramos muito a chegar em frente a um casarão onde havia um muro enorme de pedra escura. Adentramos o grande portão de ferro quando a Hokage o abriu por um sensor, onde ela digitou algumas combinações numéricas liberando a tranca.
A casa era mesmo imensa.
Pintada na cor branca, com partes em madeira e pedra. Havia um pequeno jardim de grama verde, com algumas flores de girassóis e rosas vermelhas plantadas num canteiro.
Estampado na parede da casa, o símbolo gigantesco em vermelho e branco chamou minha atenção.
O leque do famoso clã Uchiha.
O Símbolo que sempre estampava as costas das roupas de Sarada, e que a deixada tremendamente orgulhosa em pertencer.
O símbolo que estampava as costas do meu Eu futuro agora, me dando certeza de quem eu havia me tornado mesmo sem imaginar.

Um Uchiha.

Por Outros Olhos.Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt