está frio aqui em São Paulo.
do outro lado da cidade,
você está pensando em mim,
eu sei que sim.já se passaram meses desde a última vez que nos trombamos enquanto caminhávamos pelas ruas da cidade. você parecia infeliz, eu também.
tem dado certo pra você?
a vontade de viajar para Colômbia
aquele relacionamento de, agora,meses (?)
o emprego dos sonhoso que você tem comido? ás vezes fico pensando se você ainda come enlatado porque não sabe cozinhar. tem uns vídeos no facebook que ensinaram a fazer comidas mais práticas; já tentou?
ainda leio aquele livro que você me deu no dia do meu aniversário, no nosso segundo mês de relacionamento.
confesso que já senti muita raiva dele porque representava pra mim uma espécie de memória ruim,
mas hoje é só uma lembrança de quando você eram bom.deste lado da cidade, tenho pensado muito em você.
conheci o cara com quem você esteve depois de nós.
moço bacana, orientado, sabia pouco de mim e da gente não contei muito. o que poderia dizer, afinal?foram quatro semanas na reabilitação depois do término.
tive medo de ir pra faculdade.
São Paulo escureceu minhas vistas.sabe como eu sei que pra você foi igualmente difícil?
porque a memória é uma pele. membrana mesmo, dessas que vai acabando com nossa sanidade, fazendo a gente rever e desconstruir conceitos.
eu sei que doeu em você porque eu fui a única pessoa que olhou dentro do seu olho e pediu calma. porque todas as pessoas passaram por você e pediram pressa.
porque quando faz frio, você não tem minha preocupação e singeleza ao questionar se seu corpo está bem agasalhado ou não.
mas a vida segue, os prédios da cidade continuam a ser construídos, o maquinário erguendo projeções para colocar mais trabalhadores, o mundo desabando desilusões amorosas em pessoas mais frágeis, como eu.
você pensa em mim pois meu organismo entrou no seu e o clima ajuda na acareação.
imagino você caminhando pelas ruas com a cabeça baixa, preito protegido, olhar indiferente.
é assim?
sei às vezes no final de semana com os amigos, vai uma vez por mês a alguma balada distrair a mente, omite dos psis que tem um novo alguém.
tá frio, São Paulo adoece as pessoas, quero muito que saiba que não te desejo mal nem faço julgamentos profundos sobre o que você me fez. A vida guarda pra gebte aquilo que, com carinho, guardamos pra ela.
te guardei por muito tempo em momentos preciosos, mas você sabe... há coisas que caem no asfalto e a gente não recupera nunca.
talvez o outono do ano passado. o outro outono, do retrasado. nós dois, confessadamente entregues.
a memória que doía tudo e hoje só conforta.
você, do outro lado da cidade. eu, deste. e tudo mais.
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Textos cruéis para serem lidos rapidamente II
Poetryeste livro é pra todos aqueles que não têm medo ou vergonha de presenciarem o sentimento tomando conta de cada centímetro da pele, das tripas, coração, aquelas que se jogam com a cara e a coragem, mas também com o peito miúdo e os olhos cerrados, qu...