Capítulo 18

172 33 0
                                    

Voltar para casa foi ótimo! Ainda mais por ter passado pela constrangedora pequena conversa com Rafael. Ele basicamente marcou nossa primeira consulta e me explicou algumas coisas, como por exemplo, que ali era um local seguro e que nada dito ali, seria dito para outro alguém da parte dele.

Isso é bem legal na realidade, mas ainda assim foi estranho. Assim que cheguei Obito pulou no meu colo, ele enlaçou as pernas na minha cintura e me apertou forte.

— É tão lindo o reencontro de casal! — A voz de Shino veio ao fundo e Tobi e eu não nos importamos.

— Você quase me matou de susto, filho da puta! — Obito falou com a cabeça enfiado no meu pescoço. — Eu fiquei preocupado para caralho!

— Olha a boca! — Minato alertou, Obito saiu do meu colo e me olhou.

— Você está bem? — Ele perguntou e eu confirmei. Entrei de vez em casa e logo tive que segurar Hinata.

Segurar ela, com certeza é mais fácil do que segurar Obito, mas também era um pouco mais difícil em questões emocionais. Hinata estava acostumada a estar no meu lugar! Era ela quem dava crises de ansiedade, e era eu quem a abraçava forte quando ela voltava.

— Não faz isso, comigo. — Ela disse murmurando e eu a abracei.

Não teve piadas e nem nada, todos sabiam de como nós dois éramos. Hinata para mim era alguém que eu levaria um tiro, só para proteger. Eu jamais ficaria sem ela e o pior -melhor- é saber que é mútuo.

— Já estou aqui. — Falei e senti ela me soltar aos poucos e voltar para o chão.

— Da próxima eu corto teu pau! — Ela disse fazendo eu e meus irmãos rirem.

Recebi mais abraços e muitos beijos na testa e nas bochechas, meus irmãos pareciam conferir se tudo estava certo, como se olhassem se tudo estava em seu devido lugar.

Me sentei no meio de Obito e Hinata, os dois estavam me apertando tanto que respirar era difícil, Shisui pulou no meu colo e me abraçou forte, meus pais riam da situação e meus irmãos também mostravam sua preocupação.

— Ei bebê, será que a gente pode conversar? — Nagato perguntou e eu concordei.

Me levantei e subi junto com ele para meu quarto, me sentei na cama e ele puxou a cadeira para se sentar de frente para mim.

— Eu conversei com o Deidara e acho que enrolei muito para falar com você..., mas também não é uma coisa que eu goste de lembrar. — Ele disse e eu fiquei atento. — Antes de ser adotado pelos nossos pais, Karin e eu morávamos em um lar muito ruim. Mesmo os médicos falando com meus genitores que eu provavelmente era autista, eles me consideravam alguém afetado pelo espírito maligno! Eram pastores, e acreditavam que se me batessem minhas crises não aconteceriam... Eu tinha a bexiga solta e medo de escuro, então não ia ao banheiro de noite, eu molhava a cama e apanhava muito, Karin chamava Maria Júlia e me defendia deles, ela acabava apanhando, mas ela nunca ligou. — Ele me olhou nos olhos e suspirou. — Conhecemos o Minato em uma excursão da escola, na academia dele, na época era a única do bairro e a escola quis nos levar... Minato ficou apaixonado na Karin de cara e eu era mais fechado, mas aí aconteceu algo que nunca imaginei. Eu estava dormindo, mas acordei com meu pai entrando no quarto, ele estava bêbado e Karin dormia comigo, mas ele não estava procurando-a... ele fez uma coisa que ficou marcado nela e em mim. Depois disso descobrimos pela boca da nossa própria genitora que éramos frutos de um abuso. Já não bastava tudo que vivíamos, éramos culpados por sermos filhos deles dois. Era doloroso e cruel. Quando fomos adotados, tínhamos tanta resistência há tudo, que nas cinco primeiras consultas com o psicólogo, eu fiquei em silêncio..., mas, na primeira vez que eu falei, eu chorei tanto, mas me senti livre! Livre daquela dor que me consumia sempre, eu acordava de madrugada, eu chorava de noite, tinha medo de escuro e não contei ao nossos pais, mas uma noite Fugaku me deu um abajur e deixou no quarto, do lado da minha cama... Karin dormia comigo ainda e ligou o abajur, foi a primeira vez que eu dormi uma noite toda. — Ele me falou e tinha algumas lágrimas em seus olhos. — A sua dor é só sua! Mas, ela pode ser parecida com a minha e eu sei que é difícil. Difícil assumir que na verdade estamos destruídos por dentro e que não queremos mexer nesse dor. — Ele segurou minha mão. — Ajuda não é só estar do lado, é aceitar algo que por mais que nos deixam desconfortáveis, mas nos fará bem. Talvez você não vá gostar, mas se permita ter a cura de algo que te fere. — Nagato falou e eu sei que eu chorava. — Nossos pais te pouparam de algo horrível, não faria diferença saber antes ou depois, a dor seria a mesma e o nojo por você mesmo cresceria da mesma forma. Esse tipo de coisa, a gente guarda e não deixa ninguém saber, porque quando sabe é inevitável o sofrimento. Não os culpe por proteger os próprios filhos de algo tão terrível!

LaçosWhere stories live. Discover now