1. Garoto Perdido

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Eu ouvia vozes distantes, tentava entender o que diziam mas eram como estivessem abafadas. Aos poucos, recobrava minha consciência, e as vozes ficavam mais claras até que cessaram, me peguei levantando de uma cama. As primeiras palavras que ouvi e compreendi, foram:

"Acordou!" "Acordou!''

Que estavam sendo ditas por um pássaro, que ficava indo de um lado para o outro em uma janela. Era um corvo, e além dele, haviam mais duas figuras. Primeiramente, meus olhos caíram nela, uma senhora de pele preta, com cabelos grandes e soltos, seus fios eram um misto de cinza com branco, ela vestia um vestido azulado com babados na barra. Em seguida, meus olhos encontraram os dele. Suas íris eram azuis como um céu claro, o cabelo era um emaranhado de cachos ruivos. O garoto vestia uma camisa verde com um colete marrom por cima e vestia uma calça que estava dobrada até os joelhos. Seu rosto bronzeado estava salpicado de sardas, ele estava descalço. Ambos pareciam ter saído de algum século passado. O garoto me analisava, da cabeça ao pés.

— Quem é você? — ele perguntou. Sua voz era jovial, mas no final, eu sentia um uma ponta de cansaço.

— Err... — foi o que minha garganta produziu.

— Seu nome é Err? — ele fez uma careta de confusão.

— Não, não... meu nome é... — Senti um choque, eu não lembrava meu nome. Levei minha mão ao peito e senti algo por debaixo do tecido da camisa. Era um pingente dourado em formato retângular com um nome gravado.

"JOSHUA"

Nesse momento senti um lampejo na mente.

— Joshua... meu nome é Joshua!

— Bem, Joshua, como chegou aqui?

— Eu sinceramente não sei, não lembro de nada, nem como vim parar aqui, aliás onde é aqui?

— Você está na Terra do Nunca, na minha casa, para sermos precisos. Eu sou Namna.

A senhora disse, dando um belíssimo sorriso de dentes brancos. Eu comecei a observar o lugar. Era um amplo cômodo só, com uma mesa no centro, acima da mesa, algumas ervas estavam penduradas. Tudo era limpo e bem organizado, estávamos no fundo, onde ficava a cama, onde eu estava sentado. Na parede esquerda, haviam livros amontoados. Do lado da cama, havia um baú. Em um fogão feito de barro, uma panela fumegava e o conteúdo deveria ser saboroso pois o delicioso cheiro fez meu estômago roncar.

— Venha, querido, sente-se aqui, irei colocar um pouco de ensopado para você.

Me levantei e segui à mesa. O garoto ruivo se virou de lado me dando passagem, eu não via, mas sentia que ele me observava. Namna colocou um pouco do ensopado em uma tigela redonda, pegou uma colher de pau e pôs na mesa.

— Cuidado está quente, e não se esqueça do pão. — disse passando, um pão macio de cor marrom claro.

Parti o pão em pedaços menores e mergulhei um pedaço no ensopado, comendo em seguida, e depois fazendo o mesmo com os outros pedaços. Um alívio quase instantâneo se apossou de mim, comi sem cerimônia, sorvia o saboroso ensopado como fosse a única comida existente. Namna se ocupou com algo e o Ruivo, de braços cruzados, estava escorado na parede descascada, me observando comer. Terminada minha refeição levantei-me e entreguei a tigela para Namna. O garoto saiu de sua posição e não disse nada, apenas caminhou até Namna e disse qualquer coisa para ela, em seguida saiu para fora e fez algo que me assombrou: ele se ergueu no ar e saiu voando com alguns outros corvos que eu não havia percebido, no seu encalço. Eu me levantei e corri para fora para ver mais daquilo mas o garoto sumiu. Eu não tinha nenhuma reação a não ser ficar contemplando a área entre o céu e a mata e pensar em como aquilo era possível. Ao olhar para baixo, vi uma vila que estava de frente a uma baía. A vila era acessível por uma escadaria de rochas. Olhei novamente para as nuvens e para a floresta. Nenhum sinal dele. Retornei para Namna e perguntei se o que eu tinha visto havia sido real.

Peter Pan da Terra do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora